Por Claudia Sanches*
22/09/2015
O portal da Repórter Brasil, organização de jornalistas, educadores e cientistas sociais que é referência no combate ao trabalho escravo e na promoção dos direitos humanos, vem sofrendo ataques virtuais desde a semana passada. Parte de reportagens produzidas pela ONG foi apagada.
Os invasores também alteraram links, direcionando leitores a páginas fora do site da organização, e danificaram seus e-mails profissionais.
Essas invasões se somam a outros agressões que a Repórter Brasil sofreu no passado: desde ações judiciais censurando a cobertura de resgates de trabalhadores em situação de escravidão, até ameaças a um de seus coordenadores, o jornalista Leonardo Sakamoto. A Repórter Brasil já comunicou o caso ao Ministério Público Federal e ao relator especial das Nações Unidas para defensores de direitos humanos.
O especial “Moendo Gente”, por exemplo, que mostra como produtos de frigoríficos flagrados com violações aos direitos trabalhistas chegaram a supermercados de todo o mundo, foi um dos alvos de ataque, tanto em sua versão em português quanto em inglês.
De acordo com o Ministério Público do Trabalho, essa reportagem contribuiu para a mudança em normas, aumentando a proteção ao trabalhador. Além de conteúdos apagados, redirecionamentos foram instalados para que, ao invés das investigações contra setores econômicos, o leitor entrasse em outras páginas.
Em seu site, a ONG repudia os ataques, cada vez mais frequentes e convoca os jornalistas à se manifestarem contra a violação ao direito à informação:
— Tão importante quanto descobrir seus autores e puni-los de acordo com a lei é atuar na formação de leitores que sejam capazes de separar informação falsa e verdadeira, e defender uma imprensa livre como pilar fundamental da democracia. Resta a nós, jornalistas, tornar essa discussão pública, continuar atuando na produção e circulação de informação de qualidade e denunciar quem tenta calar o jornalismo às autoridades.
Ataque digital
O ataque digital é mais uma etapa de uma campanha contra o trabalho da Repórter Brasil e de seus jornalistas. A campanha já incluiu processos judiciais por veicular ações de resgates de trabalhadores submetidos à condição análoga à de escravos, cumprindo sua missão de informar.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), condenou os ataques e cobrou que as autoridades competentes identifiquem rapidamente todos os envolvidos na ação e aplique as sanções cabíveis. A invasão em curso destrói informação jornalística e interrompe o trabalho dos repórteres da ONG. É um atentado, portanto, à liberdade de expressão e ao direito à informação.
Quem desejar conferir o trabalho da organização deve acessar o site http://reporterbrasil.org.br/.
*Repórter Brasil