09/07/2021
Quando explodiram na virada dos anos 2000 para 2010, as redes sociais digitais chegaram a ser entendidas como um instrumento para ampliar o ecoar de vozes, de pontos de vista, de modo a romper com oligopólios dos meios de comunicação de massa.
Um decênio depois e estas redes, hoje mega corporações globais, têm-se mostrado elas próprias um obstáculo a uma comunicação democrática.
Os exemplos pululam. Desnecessário enumerá-los agora.
A reflexão que trago é torno de três discussões recentes, e que confirmam como as corporações de mídias digitais estão se abstendo, dando de ombros, para a preocupação da sociedade com a informação de qualidade.
Uma delas está compartilhada aqui mesmo no Portal Imprensa no Mesa para 6 – uma mesa virtual de conversa com a professora Raquel Recuero, da Universidade Federal de Pelotas (RS). Vale muito, muito assistir. Recuero, além de abordar o papel das grandes plataformas nessa conjuntura em que mentiras e o discurso de ódio se tornaram hegemônicos, sinaliza que nos grandes meio de comunicação – na mídia de massa – está o caminho para a promoção de campanhas de informação.
Outra discussão foi levantada pelo jornalista Bob Fernandes, na virada de junho para julho. O jornalista fez um levantamento sobre as dezenas de declarações do presidente da República, sobre a covid-19, que atentavam contra a ciência e contribuíam para a disseminação de fake news – todas elas ecoadas por vídeos no Youtube, nesse quase um ano e meio de pandemia.
E o que fez a plataforma? Removeu o conteúdo de Bob Fernandes, alegando que infringia “diretrizes da comunidade”. O jornalista acionou o Youtube no Brasil, que argumentou que a lógica dos algoritmos detectou “informações médicas incorretas”. Só que elas estavam devidamente contextualizadas – afinal se tratava justamente de um conteúdo em que Bob Fernandes denunciava isso.
“Quando se faz jornalismo, contextualizando criticamente, [as plataformas] fingem que os algorítimos não entenderam”, escreveu Bob Fernandes em seu perfil no Twitter. Só que, continuou ele, trataram-se das mesmas informações que o Youtube deixou que ficassem circulando por mais de um ano na própria plataforma.
A terceira discussão a que me refiro vem sendo trazida pelo “Núcleo – Jornalismo sobre o impacto das redes sociais na vida das pessoas”. Em seu site, duas matérias recentes explicitam o descompromisso dos conglomerados com sua atuação. Uma sobre a concessão do selo de verificação a perfis – “uma bagunça”, conforme denuncia manchete do Núcleo. Outra, sobre o “silêncio das redes sociais para a imprensa”.
Vou me debruçar sobre esse último. A reportagem – compartilhada também pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) em seu site – expõe a, como definir?, indiferença com que as corporações respondem aos pedidos de informações ou posicionamentos dessas plataformas, acerca de algum assunto que lhes diz respeito.
Na verdade, assuntos que dizem respeito não só às plataformas. Dizem respeito à sociedade, e à coletividade. O “mercado” de atuação dessas corporações, embora estas sejam negócios privados, não é um mercado particular. É uma seara pública, sabemos todos. Logo, pedir a versão das empresas de redes sociais é mais que um dever da prática jornalística: é um direito.
Obter um retorno, efetivo, igualmente é um direito. Um direito do jornalista, um direito da sociedade. Tal como o é quando o assunto envolve, por exemplo, um órgão estatal, ou uma concessionária de serviço público.
O texto do Núcleo afirma: “(…) muito frequentemente, as respostas são insatisfatórias. A praxe é enviar questionamentos em bullet points, de maneira sistemática e organizada, na esperança de serem respondidas ponto a ponto. Mas, muitas vezes, os retornos que recebemos são curtos, genéricos e insuficientes frente aos problemas apresentados e às perguntas feitas”.
Na reportagem, exemplos são compartilhados. Questionamentos feitos ao Facebook, ao Instagram e ao Twitter são transcritos, bem como as respectivas respostas. Estas são praticamente monossilábicas, diante da demanda de perguntas feitas.
É inaceitável.