03/12/2021
Conheça as quatro faces de Luis Erlanger: jornalista lança 3 livros inéditos e republica “Antes que eu morra” pela editora Ubook.
Sessão de autógrafos acontecerá no dia 06 de dezembro, às 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon
Um olhar aguçado sobre a complexidade do comportamento humano, diálogos questionadores, ácidos e divertidos é o que o jornalista e escritor Luis Erlanger oferece aos leitores nos seus 3 novos títulos, “Salto Alto”, “Todo o tempo do mundo”, “Agora e na hora: uma divina comédia”, e no relançamento de seu best-seller “Antes que eu morra”.
As obras inéditas foram criadas a partir de textos teatrais, um deles já encenado no Rio e São Paulo.
Os livros serão publicados também na versão audiobook e contam com a narração de nomes como: Eriberto Leão (Antes que eu morra), Maria Padilha e Luciana Braga (Salto Alto) e Irene Ravache e Paulo Betti (Todo o tempo do mundo).
Antes que eu morra, publicado em 2014, está sendo relançado com atualizações e ilustrações inéditas, elaboradas pelo próprio autor. O destaque também fica por conta da produção do audiobook, narrado por Eriberto Leão. Nas palavras de Erlanger, “uma das experiências mais emocionantes que eu tive na vida foi ouvir o Antes que eu morra na voz do Eriberto Leão. Eu fiquei emocionado ao ponto de chorar porque meu personagem ficou vivo, um negócio inacreditável como o Eriberto, com a genialidade dele, era o meu personagem. Eu espero que essa sensação passe também para quem ouvir o livro”.
A trama acompanha Bernardo Genuss, psicanalista responsável por ouvir os relatos do personagem principal. O leitor tem acesso à transcrição das consultas com Bernardo. O paciente, que não tem seu nome revelado, não poupa nada nem ninguém de suas reflexões ácidas, relatos perturbadores, cenas de sexo e violência para ilustrar o enredo. Erlanger explica: “cada texto meu tem uma técnica, um modelo diferente. Acho que totalmente fora da curva é o Antes que eu morra, porque é uma história muito doida… O texto saiu num estilo que não era aquela coisa clássica de quem, quando, onde, como e por quê. Achei muito divertido e comecei a escrever outros textos. Um belo dia, me vi com uns trinta textos que não falavam entre si e me dei conta de que, se eu tivesse uma linha central de uma das histórias que eu tinha descrito, tirando os devaneios do protagonista sem nome, o que se tem é uma história policial reta, só que virou um eletrocardiograma: ele conta a história policial e vai para uma viagem, volta para a história policial, vai para outra viagem. Faria sentido se ele estivesse contando isso numa sessão de psicanálise. O personagem que abre o livro, o psicanalista, não existia, eu tive que reescrever o livro. Se a pessoa prestar atenção, os capítulos levam mais ou menos o tempo de uma sessão de psicanálise”. O livro conta ainda com prefácio de Jô Soares e contracapa de Pedro Bial.
Os três lançamentos inéditos pela Ubook são apresentados em forma de peça teatral.
O Agora e na hora: uma divina comédia ganhou vida nos palcos em 2018, em São Paulo. A obra narra os dilemas de um padre diagnosticado com câncer em estágio avançado e que passa a buscar respostas para suas questões em outros meios e religiões. Erlanger conta que “Agora e na hora foi pensado para ser um musical, como se as cenas fossem cultos verdadeiros. É a história de um padre que se descobre doente terminal e questiona sua fé. Ele entra numa de que talvez não esteja buscando o Deus certo e sai buscando em outras religiões. Em cada passagem ele tem cânticos típicos da religião. Como eu não estou preocupado em tomar uma posição em relação à existência de Deus, tem dois finais, um em que ele se torna descrente, e tem um em que finalmente Deus aparece e eles têm um diálogo muito interessante”. O livro conta com prefácio do jornalista, crítico cultural e editor Helder Moraes. E apresentação do diretor Walter Lima Júnior.
Salto alto apresenta o diálogo de Ana Cristina e Ana Maria, duas mulheres que planejam seus suicídios. Apesar do tabu que ronda o tema, o autor e a obra promovem a reflexão do leitor sobre os pensamentos e os motivos que levam as pessoas a cometerem o ato. O audiobook é narrado por Eriberto Leão, Luciana Braga e Maria Padilha, que garantem o tom de leveza e descontração do livro. “É um livro com um tema muito barra pesada, tratado de uma maneira trivial, porque no fundo é muito comum as pessoas se matarem, e a recomendação que se faz é: precisamos conversar sobre suicídio”, diz o autor. Prefácio de Gerald Thomas.
Todo tempo do mundo, por sua vez, conta a história de dois idosos, Martha e Ernani, que se encontram no consultório de geriatria e entendem que o que parece ser o fim é na verdade só o começo da vida. Sobre a obra, Erlanger diz: “Eu sou ligado no humor. É uma história do encontro de um arquiteto e uma atriz famosa na antessala de um geriatra, e aí se dá um diálogo no estilo gato e rato, de muita implicância entre eles. O final é feliz porque que acho que o grande sentido da vida é viver, e a coisa fundamental é sexo e amor. Eles passam por todas as mazelas do envelhecimento, mas a conclusão é que a vida, em qualquer momento, vale a pena, se a alma não é pequena”. Prefácio de Andréa Pachá.
Sobre Luis Erlanger:
LUIS ERLANGER é jornalista, consultor em Comunicação Social e escritor brasileiro de textos para literatura, audiovisual e teatro. Foi editor-chefe do jornal O Globo e diretor de Jornalismo e Comunicação na TV GLOBO, atuando como Head de Comunicação responsável pela estratégia e gestão nas áreas de Comunicação Social, Relações Institucionais, Media Relations, Publicidade e Responsabilidade Social. Ainda na TV, codirigiu o programa Brasil por Natureza. Foi o criador e diretor da série Fui Bandido e é o idealizador e diretor do documentário Os Transgressores. Também escreveu a peça Agora e na Hora, dirigida por Walter Lima Junior. É autor dos livros Antes que eu morra (2014), José Junior: no fio da navalha (2015); Cinza, carvão, fumaça e quatro pedras de gelo (2018); Todo tempo do mundo (2021), Salto alto (2021) e Agora e na hora: uma divina comédia (2021).
Sobre a Ubook
Lançada no início de outubro de 2014, a Ubook é o maior aplicativo de audiotainment da América Latina. Por um valor mensal é possível ter acesso ilimitado a todo o catálogo através do aplicativo. Além dos audiobooks e podcasts, a Ubook inovou o segmento trazendo também séries e documentários originais, notícias e ainda ampliou sua oferta ao disponibilizar também ebooks para seus assinantes. Com a crescente demanda por conteúdo em áudio no país, a plataforma lançou recentemente a Ubook Music e a Ubook FM, uma nova área que oferece música de diversos gêneros para assinantes e não assinantes. Para saber mais acesse: www.ubook.com
TRECHOS DOS LIVROS
ANTES QUE EU MORRA
O aquecimento global é nossa versão civilizada do suicídio coletivo das baleias. Seremos todo um cardume, manada, sei lá, grupo de mamíferos terráqueos encalhando sem salvação em terra firme. Como previu o Frost, nosso fim está na dobradinha fire & ice.
Sessenta milhões de anos depois da Era do Gelo, da longa linhagem dos Scrat, o Astro Rei vai se transformar numa bola de luz azul, que nem lâmpadas de botequim pé-sujo, torrando todo mundo com raios ultravioleta e infravermelhos em alternância estroboscópica. Vamos torrar feito muriçocas.
E um medonho trovão barítono em vibrato, em dia de céu limpo, fará ecoar por todos os recantos: “Você foi removido com sucesso”.
TODO TEMPO DO MUNDO
Martha — O senhor não está me entendendo. Quando eu venho aqui, em ocasiões raras, normalmente não tem ninguém na sala de espera. É um acordo que fiz. Gosto de manter a minha privacidade.
Ernani — Privacidade? No consultório de geriatria? Desde quando envelhecer é algo vergonhoso, que não se possa expor?
Martha — Primeiro, trata-se de um especialista renomado, mas que não cuida só de coisa de velho. O senhor não sabe o que me traz aqui.
Ernani — Depois me explica o que é “coisa de velho”?
Martha — Esse tipo de pergunta, por exemplo, é impertinência ranheta típica de anciãos… Anciães… Anciões… Velhos decrépitos. Bem, meu nada distinto senhor, resumindo, para o bem ou para o mal, eu não gosto de aparecer. Ou melhor, só gosto de aparecer pelo meu trabalho. O que anda raro nestes dias.
AGORA E NA HORA
Emanuel: Pois muito bem. Então vamos ao meu caso, senhor doutor. Qual é a explicação para o meu susto?
Dr. Kligerman: Então, seu susto se chama câncer.
Emanuel: Nossa Mãe! O senhor tem certeza?
Dr. Kligerman: Sem sombra de dúvida. Aliás, pelas sombras. O senhor está vendo essas manchas espalhadas? (Mostra um raio-X.) É o câncer. O senhor não teve nada anormal antes?
Emanuel: Bem, andei com falta de ar, cansaço, nada de grave.
Dr. Kligerman: É grave! É câncer. E pior: em estado muito avançado.
Emanuel: Que seja, estou pronto a enfrentar o que Deus me destinou. Como será o tratamento?
Dr. Kligerman: Padre, lamento dizer, mas não há tratamento.
SALTO ALTO
Ana Cristina — Eu havia planejado um ato solitário. Um ritual bem pensado. Estudei muito o suicídio antes de tomar a decisão. Quero que o meu seja um exemplar de dignidade. Talvez agora a gente possa contar decrescente, de dez até um, e vamos. Ana Maria — Mas a gente pula no um ou em seguida, tipo ponto zero? Ana Cristina — Vamos no um logo. Aliás, vamos reduzir a contagem a partir do cinco. Dez dá muito tempo para pensar.