Por Mário Augusto Jakobskind
06/01/2014
“Edward Snowden, o ex-agente de inteligência dos Estados Unidos, atualmente vivendo em Moscou, foi defendido em editorial pelos jornais norte-americano The New York Times e pelo britânico The Guardian. Foi pedido às autoridades de Washington que tenham clemência com ele.
No mais importante jornal estadunidense, o editorial de alguma forma surpreendeu, porque a publicação havia mantido um silêncio comprometedor sobre o tema desde que as revelações de Snowden começaram a ser divulgadas, provocando um verdadeiro tsunami político nos mais diversos quadrantes do mundo.
A imprensa brasileira, com raras exceções, limitou-se inicialmente a reproduzir as denúncias do ex-agente da CIA sobre espionagem a dirigentes políticos mundiais, inclusive aliados dos Estados Unidos, e mesmo empresas. E tudo isso acontecia tendo como justificativa oficial o “combate ao terrorismo”.
Celular de Dilma Rousseff grampeado
O Brasil também foi afetado com as revelações. Até o telefone celular da Presidenta Dilma Rousseff estava sendo rastreado pela inteligência norte-americana, da mesma forma que a Petrobras, sendo que no caso da empresa petrolífera a espionagem acontecia pouco tempo antes da realização do leilão de petróleo da bacia petrolífera de Libra, na área do pré-sal.
A imprensa brasileira deu pouco espaço em relação à possibilidade do governo brasileiro conceder asilo político a Snowden, tendo da última vez a própria Presidenta afirmado que Snowden não tinha feito o pedido nesse sentido, o que justificava, para Dilma Rousseff, o não posicionamento na matéria.
Poucos analistas observaram que a concessão de asilo político por parte do governo brasileiro poderia provocar represálias por parte do Deparamento de Estado norte-americano. Para compensar, a Presidenta Dilma Rousseff fez incisivo pronunciamento nas Nações Unidas criticando a espionagem e sugerindo medidas concretas para evitar a continuidade dos rastreamentos dos serviços secretos norte-americanos.
De um moldo geral, os meios de comunicação nacionais silenciaram em relação à divulgação de informações em defesa da concessão do asilo político. Quando a Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos concedeu, no mês de setembro do ano passado, Medalha de Direitos Humanos a Snowden por “serviços prestados à Humanidade, o fato foi ignorado pela mídia nacional. Somente a TV Brasil, uma mídia pública, divulgou o fato.
Repercussão dos editorais na mídia nacional
Os editoriais do The New York Times e Guardian repercutiram na mídia brasileira, fazendo lembrar o que dizia ironicamente o saudoso cartunista Henfil: “deu no New York Times”, o que levava a acontecer na imprensa também aqui. Henfil chegou a produzir um filme intitulado Deu no New York Times, que passou quase desapercebido pela crítica.
Alguns dias após a divulgação do pedido do The New York Times, não por acaso a colunista de O Globo Dorrit Harazim comentava em artigo – Quem sabe faz a hora – a demora do jornal norte-americano em se posicionar sobre o tema. Ela citou inclusive uma palestra do ex-agente da CIA, Ray McGovern, que esteve na ativa por 27 anos, servindo a governos desde John Kennedy a George Bush pai.
Crítico depois de aposentado, McGovern chegou até mesmo a devolver medalha que recebeu, segundo Harazim, “por não querer se associar, nem remotamente, ao envolvimento da agência com práticas de tortura adotadas na guerra contra o terror”.
A colunista de O Globo em sua reflexão na edição de domingo, 5 de janeiro de 2014, lembrava ainda os rastreamentos realizados pelo FBI, então sob o comando de J. Edgard Hoover, a Albert Camus e ean Paul Sartre quando passaram alguns dias nos Estados Unidos.
Homenagem da ABI
A figura de Edward Snowden continuará ocupando grandes espaços midiáticos pelo mundo afora e promete ao longo de 2014 novas e surpreendentes revelações. Até porque a maior parte do arsenal informativo de Snowden não foi divulgado.
A ex-secretária de Segurança Nacional, Janet Napolitano ao comentar o editorial do principal jornal dos Estados Unidos informava que Snowden não receberá o perdão de Washington caso decida voltar ao país onde nasceu. Para Napolitano, que pode ser considerada como a opinião do governo norte-americano, o ex-agente de inteligência estadunidense provocou danos ao país e o fez “violando as leis”.
Ao mesmo tempo em que os refletores midiáticos seguem voltados para Moscou onde se encontra Snowden, outra figura importante relacionada com as revelações de espionagem está a caminho de completar um ano e meio na Embaixada do Equador em Londres. Julian Assange não quis correr o risco de ir à Suécia para responder pessoalmente as acusações de supostos assédios sexuais, por temer que as autoridades do país escandinavo o deportem aos Estados Unidos, onde seria processado e provavelmente condenado por ter feito também revelações no site WikLeaks sobre espionagem norte-americana no mundo.
Da mesma forma que Snowden, Assange foi homenageado pela ABI com a Medalha de Direitos Humanos por serviços prestados à humanidade. Fato que também foi praticamente ignorado pelos principais meios de comunicação brasileiros.”