09/04/2009
É inegável que a fotografia exerce um grande fascínio desde sua criação, há 170 anos. Através da imagem capturada num clique se consegue eternizar um momento, um ato de carinho, um olhar desolado, um tiro, uma lágrima, um gesto de triunfo. Cenas tão representativas de sociedades, nações e épocas, capazes de causar impacto e dar a dimensão de acontecimentos. Justamente por causa disso coleções como Grandes Fotógrafos, lançada este mês pelo jornal Folha de S. Paulo, acabam sendo tão populares.
Os 14 volumes que estão sendo lançados em bancas de jornal e livrarias trazem 431 fotografias de 33 renomados mestres da imagem. Em geral, não são registros desconhecidos do grande público. Estão na coleção fotos célebres como o histórico retrato de Che Guevara, com sua boina e olhar pensativo, dirigido ao infinito, feito em Havana, Cuba, em 1960, por Alberto Korda. A imagem ganhou o mundo e se tornou a mais conhecida do guerrilheiro, mas poucos sabem quem é seu autor ou tampouco que foi tirada no funeral da tripulação do cargueiro La Coubre, que transportava armas à ilha e sofreu atentado anticastrista. Ou o flagrante de um miliciano republicano, que abre os braços ao tomar um tiro fatal, durante a Guerra Civil Espanhola, em setembro de 1936. Uma das imagens mais famosas do fotojornalismo, feita pelo húngaro Robert Capa, consagrado repórter que cobriu o desembarque das tropas aliadas na Normandia, no Dia D, e um dos fundadores da agência Magnum.
Também estão lá dois dos beijos mais apaixonados e famosos — justamente por causa da fotografia – de todos os tempos. Aquele de um jovem casal, na verdade, atores contratados, em frente ao Hotel de Ville, na Paris de 1950, registrado pelas lentes de Robert Doisneau, e o marinheiro que toma em seus braços uma jovem em plena Times Square, na Nova York do ano 1945, sem se importar com a presença de Alfred Eisenstaedt, o profissional que os flagra numa comemoração digna da vitória aliada sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial. Esta imagem, aliás, é homenageada na abertura do filme Watchmen, no qual uma seqüência de eventos marcantes do século passado é apresentada com pequenas alterações.
— Procuramos reunir fotografias que mostrassem cenas do cotidiano, retratassem épocas e fossem impactantes, despertando emoções e sensações fortes nos leitores. — Explica Letícia Carvalho Lopes, Gerente de Desenvolvimento do Grupo Folha.
Em sua maioria, as fotos são em preto e branco, mas há também algumas coloridas. Tudo dividido por temas — metrópoles, guerra, trabalho, cinema, mulheres, religiões, revoluções, infância, refugiados, vilarejos, arte, mar, esportes e Brasil. Cada livro conta com 32 páginas, um texto de abertura e pequenos textos-legendas explicando cada imagem, citando o autor e ano em que a cena foi capturada. Além disso, breves biografias dos fotógrafos que publicam seus trabalhos a cada volume seguem no fim do livro.
Segundo Letícia, a obra realmente não traz textos introdutórios e maiores explicações porque busca valorizar as imagens:
— Essa é uma obra inédita no Brasil. Temos livros de cada um desses profissionais, publicando seus trabalhos de forma individual. Mas nada que trouxesse uma coletânea das imagens, ainda mais a preços acessíveis. Dessa forma, nosso objetivo é alcançar o público leigo que gosta do tema, não apenas profissionais e estudantes.
Ana Paula Duarte e Letícia Carvalho Lopes |
Parcerias
O projeto é fruto de uma parceria entre a espanhola Editorial Sol 90, que já havia desenvolvido trabalhos semelhantes na Argentina, Grécia e Portugal, e a Folha. Foram seis meses de desenvolvimento do produto, em um processo que contou com a colaboração da Redação do jornal paulistano, dando sugestões de profissionais e fotos que poderiam integrar a coleção:
— Inicialmente, começamos a trabalhar com 50 fotógrafos e, usando critérios como variedade de temas e número de fotos representativas, baixamos para 33. Há muitos especializados em fotojornalismo, mas também vários que não o são — observa a analista de marketing Ana Paula Duarte, que participou de diversas etapas do projeto.
Além dos já citados Capa, Korda, Doisneau e Eisenstaedt, participam da coleção com suas obras fotógrafos como o próprio Cartier-Bresson, o soviético Yevgeni Khaldei, que esteve no front ao lado do Exército Vermelho de 1941 a 1945, o norte-americano W. Eugene Smith, que, embora fosse um feroz pacifista, acompanhou as batalhas da Segunda Guerra por todo o Pacífico, e o francês Elliott Erwitt, conhecido por suas séries monográficas sobre cães, edifícios dos Estados Unidos e Marilyn Monroe. Apesar de pequeno, as mulheres também seu espaço. Em um dos volumes da coleção, aparecem as pioneiras Dorothea Lange, Margaret Bourke-White e Lee Miller, as duas últimas, correspondentes de guerra nos anos 40.
Os brasileiros também não ficam de fora. Mas bem que poderiam estar em maior número e com mais obras. Afora Sebastião Salgado, que com seu trabalho de forte cunho social e de denúncia aparece em quatro livros, os demais só aparecem no volume Brasil. Estão lá os trabalhadores paulistas, clicados por Pedro Martinelli, em 1970. Nem durante o descanso, eles têm folga. Enquanto assistem a um jogo de futebol no Estádio Parque Antártica, no 1º de Maio, uma enorme chaminé soltando fumaça na parte de trás lembra suas sinas. Também estão os índios caiapós-gorotines, do Pará, fotografados por Miguel Rio Branco, em 1983. E a beleza da natureza em contraste com o ser humano das imagens de Araquém Alcântara, como na foto que fez do Vão das Almas, a maior comunidade de quilombolas do Brasil, na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Além, claro, de Salgado, com flagrantes de cacaueiros e garimpeiros de Serra Pelada, no Pará.
De acordo com Letícia, a dificuldade de negociar contratos com outros autores brasileiros ou com veículos e empresas para os quais trabalham impediu que mais deles participassem da coleção. Ainda assim, nada que diminua o impacto e a importância de fotos selecionadas.
Coleção Grandes Fotógrafos
São 14 volumes semanais e temáticos. Para adquirir a coleção completa, inclusive a caixa para guardar os 14 livros, ligar para 3224-3090 (Grande São Paulo), 0800-7758080 (demais localidades) ou acessar o site www.folha.com.br/grandesfotografos. Clique nas fotos abaixo para ampliar: