16/09/2008
Foi realizado na tarde desta terça-feira, dia 16, o lançamento do primeiro dos 12 volumes da coleção “Arquivos Celso Furtado”, que reúne textos inéditos do economista, morto em agosto de 2004. O evento aconteceu na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no Centro do Rio, e contou com a participação da jornalista Rosa Furtado, viúva do homenageado, e do professor da UFRJ Carlos Aguiar de Medeiros.
A seleção do material teve início pouco antes da morte do economista, quando Celso e Rosa Furtado começaram a fazer uma arrumação em casa e se deram conta da grande quantidade de material que tinham arquivado, entre manuscritos, anotações de cursos, estudos, relatórios, correspondência, entrevistas e artigos.
Todo o acervo pertence ao Centro Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, dirigido por Rosa, para quem o projeto não é de interesse restrito a documentaristas, já que resgata a atualidade dos documentos, trazendo-os para o presente, como contribuição ao debate em torno das idéias de seu falecido marido:
— Para mim, esse trabalho é muito significativo. Eu já vinha trabalhando na revisão de textos do Celso e esses documentos são importantíssimos. Achei que, através do projeto, eles funcionariam como uma divulgação completa de sua obra, distribuída em 12 livros. O próximo volume será lançado até o fim do ano.
Ensaios
O primeiro do volume da série é “Ensaios sobre a Venezuela: subdesenvolvimento com abundância de divisas”, que traz dois estudos de Celso Furtado sobre questões relacionadas ao petróleo naquele país.
A primeira visita do economista à Venezuela aconteceu em 1957, quando ele foi encarregado pela Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) para fazer um estudo sobre o impacto que a abundância do petróleo havia provocado na economia, com a valorização da moeda local.
O trabalho, porém, nunca chegou a ser publicado: Celso recebeu do então chefe da Divisão de Desenvolvimento Econômico da Cepal, José Antonio Mayore, um comunicado, dizendo que o Presidente Marcos Pérez Gimenez proibira que ele viesse a público, alegando que “o enfoque sobre o problema da moeda não é acertado e, mais ainda, poderia dar uma arma às companhias petroleiras para modificar em seu favor a taxa de câmbio”.
Ao voltar à Venezuela em 1974, Celso relembrou o ocorrido e comentou: “A única coisa certa era que a oportunidade de saltar por cima do subdesenvolvimento se perdera.”
Os estudos do primeiro livro são uma análise do que hoje se chama “doença holandesa”, tema de grande atualidade especialmente para o Brasil, onde, segundo o Ministro Guido Mantega, “o petróleo do pré-sal poderá dobrar as reservas internacionais do País”.
Parceria
Rosa Furtado |
O projeto “Arquivos Celso Furtado” é uma parceria da editora Contraponto com o Centro Celso Furtado. Além dos trabalhos do economista, os livros da coleção trarão um ou dois artigos encomendados a professores e especialistas que situem os documentos e recuperem sua atualidade, ou que expliquem a sua importância no passado. As publicações terão muitas fotos, reprodução de manuscritos, recortes de imprensa e fac-símiles.
A solenidade de lançamento, no auditório do Ipea no Rio, foi coordenado por uma mesa composta por Rosa Furtado; o editor César Benjamim, da Contraponto; o professor Carlos Aguiar de Medeiros (IE/UFRJ); e o jornalista Gilberto Maringoni.