Após 60 anos da campanha “O Petróleo é Nosso”, soberania ainda é ameaçada

Fernando Siqueira (de pé), vice do Clube de Engenharia e Presidente da Aepet, afirmou que o leilão pode reduzir a participação da Petrobras na produção nacional. Na mesa também estavam o professor Ildo Sauer (USP); Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia; e Luiz Antonio Cosenza, Vice-presidente do CREA-RJ. (Crédito: Alcur Cavalcanti)

Em comemoração aos 60 anos da Petrobras e da campanha “O Petróleo é Nosso”, a Associação dos Engenheiros da Petrobras – Aepet, junto a outras entidades, organizou uma homenagem à maior empresa de energia nacional na tarde desta quinta-feira, 3 de outubro, na sede do Clube de Engenharia , no Rio de Janeiro. Na ocasião, foi lançado um manifesto contra o leilão do Campo de Libra, uma das maiores reservas de petróleo já descobertas, e contra a espionagem norte-americana, que motivou o cancelamento da visita da Presidente Dilma Rousseff como chefe de Estado a Washington.

A ABI esteve presente representada por Alcyr Cavalcanti, Diretor de Jornalismo; Sérgio Caldieri, Diretor Econômico-Financeiro; e Fichel Davit Chargel, Diretor Administrativo.

Durante o evento, foi anunciada a criação do Comitê Nacional em Defesa do Petróleo e do Fim dos Leilões. Maria Augusta Tibiriçá, uma das líderes da campanha do “Petróleo é Nosso”, foi nomeada presidente de honra do comitê.

Segundo o vice-presidente da Aepet, Fernando Siqueira, o Campo de Libra possui uma reserva em torno de 15 bilhões de barris. “Libra foi perfurado pela Shell até a profundidade de 3.990 metros e foi devolvido à União. A Petrobras, por conta da Lei de Cessão Onerosa, o perfurou e achou a reserva. A ANP [Agência Nacional do Petróleo] deveria, de acordo com a lei, assinar um contrato de partilha de Libra com a Petrobras, mantendo a riqueza no País, mas ao invés, tomou o campo da empresa e está tentando leiloá-lo”, denunciou.

Siqueira citou várias iniciativas para tentar reverter a situação, como um projeto de Decreto Legislativo contra o leilão e ações de parlamentares junto ao Poder Judiciário.

Faixa de protesto contra o leilão do Campo de LIbra em frente à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro. (Crédito: Alcyr Cavalcanti)

Pilar econômico

O deputado Paulo Ramos (PDT-RJ) lembrou que a Petrobras surgiu da luta do povo brasileiro, e mesmo com forte resistência, se firmou com um dos pilares da economia nacional. “Só podemos superar os problemas nacionais pela soberania, pela possibilidade do povo brasileiro de encontrar sua própria saída para o desenvolvimento”, disse o deputado.

Por sua vez, o geólogo Guilherme Estrella, um dos principais responsáveis pela descoberta do pré-sal e que em fevereiro de 2012 deixou a direção de Exploração e Produção da Petrobras, lembrou que a exploração em camadas profundas é produto de grandes investimentos da empresa de energia em pesquisas e em capital humano ao longo de décadas.

“O pré-sal restaurou a importância da Petrobras no cenário brasileiro. O Campo de Libra tem potencial para se tornar a principal bacia do País e, do ponto de vista geopolítico, não seria interessante termos sócios na sua exploração, mesmo que sejam países não alinhados. Minha esperança é que a Dilma suspenda o leilão e abra para discussões”, contou Estrella.

O professor Ildo Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), defendeu que a empresa sexagenária tem uma importância para o Brasil muito além de seu caráter econômico. “O significado da Petrobras transcende sua criação. O pai da Petrobras é o povo nas ruas, e a empresa deve ser convertida na mãe das gerações futuras. Nossa luta é por um povo autônomo que viva em paz e justiça social e a Petrobras deve ser convertida em um instrumento desse processo”, defendeu.

Já Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia – Coppe/UFRJ, acredita que o problema é maior e diz respeito a políticas nacionais equivocadas para o setor energético. “O Governo está cometendo erros nessa área. Esse leilão deve ser suspenso, pois caso uma empresa estrangeira vença concorrência, haverá a redução percentual da participação da Petrobras na produção nacional”, afirmou.

Durante a cerimônia, foi realizada também uma homenagem ao Major-Brigadeiro Rui Moreira Lima. Falecido em 13 de agosto, ele foi representado por seu filho, Pedro Luiz Moreira.

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