Apesar da rodada de negociações e da
greve que durou mais de três dias, o diário espanhol
El País anunciou no último sábado, dia 10, a demissão de 129 jornalistas, alguns com mais de 30 anos dedicados ao periódico. Os cortes no diário espanhol, uma das estrelas do Grupo Prisa, foram motivados por um programa de redução de custos que previa a demissão de 149 pessoas. A negociação com os trabalhadores prosperou apenas para poupar o emprego de 20 funcionários.
Um dos jornalistas demitidos é Ramon Lobo, que trabalhou como correspondente nas guerras dos Bálcãs, Chechênia, Iraque e Afeganistão. “Minha trajetória foi insuficiente”, lamentou em sua conta no Twitter. De acordo com o jornal argentino Página 12, os empregados do El País souberam das demissões após alguns funcionários terem vazado a lista dos demitidos por e-mail. O anúncio oficial viria depois.
Num extenso editorial publicado no último domingo, dia 11, o El País justifica a demissão em massa. “As razões para tão drástico e doloroso ajuste de pessoal residem não apenas na profunda crise econômica que atravessa o mercado, mas também e sobretudo na mudança radical que experimenta o setor, consequência da implantação das novas tecnologias”, escreveu, citando uma lista de jornais tradicionais que também passam por sérias dificuldades financeiras, como o norte-americano New York Times e o francês Le Monde. “No caso do El País, as vendas caíram 22% e a publicidade, 65%.”
O texto oficial também critica a mobilização dos trabalhadores do diário, que tentaram defender seus direitos com mobilizações, negociações e inclusive uma paralisação de três dias, seguida por 80% dos quadros do jornal. “Apesar disso, o diário foi publicado, ainda que prejudicado em sua qualidade, e manteve atualização permanente na internet”, afirma a carta que o jornal dirigiu aos leitores em sua edição dominical. “Lamentamos que o serviço tenha sido prejudicado.”
A direção do El País estima que cerca de 8 mil jornalistas perderam seus empregos na Espanha durante a crise econômica e existencial dos periódicos, que já não conseguem manter os mesmos níveis de rentabilidade de antes devido às novas tecnologias, à queda nas vendas e à redução dos anúncios publicitários. Por isso, muitos estão deixando suas versões em papel no passado, como as norte-americanas Christian Science Monitor e Newsweek. “Nos Estados Unidos, cerca de 40 mil pessoas já perderam seus empregos”, conclui a nota.
O assunto virou trending topic no Twitter com a hashtag #ElPaisTeDespide e resultou em repercussão negativa para o jornal. A comunidade de jornalistas da Espanha expressou solidariedade com os demitidos e anunciou que vai recorrer para impedir a decisão.
* Com informações do site Rede Brasil Atual e do Portal Imprensa.