Jornalistas e personalidades da área artística e cultural participaram na manhã desta quinta-feira, 24 de março, na Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, Zona Sul do Rio, da missa de sétimo dia em intenção da alma da jornalista Cristina Gurjão, que foi descrita pelo jornalista e caricaturista Ziraldo, um dos presentes ao ofício religioso, como “um patrimônio de Ipanema”, “uma lenda viva do bairro, que agora pode entrar no século 21, graças à contribuição que Cristina lhe deu”.
Cristina Gurjão era carioca e encarnava como poucas pessoas o espírito da cidade, embora tenha nascido no Brasil por acaso. Seus pais eram holandeses e queriam que o filho que teriam, presumivelmente um homem, nascesse na cidade do Rio de Janeiro.
Ela nasceu em 8 de agosto de 1938 e faleceu no dia 18 de março, depois de internada desde o dia 8 na Clínica Bambina, em Botafogo. Sua amiga fraternal Marilene Dabus, também presente à missa, contou que, torcedora da Estação Primeira de Mangueira, Cristina sabia que precisava ser internada mas pediu que isto só se desse após o desfile do Primeiro Grupo das Escolas de Samba, pois queria assistir à exibição de sua escola do coração.
Revelou Marilene Dabus que Cristina tinha duas outras paixões: os gatos que mantinha no apartamento térreo da Rua João Lira, no Leblon, onde morava, adquirido para ela por sua filha Maria Gurjão de Moraes, filha de seu casamento com o poeta Vinícius de Moraes, e o Clube de Regatas do Flamengo. “Ela amava tanto o Flamengo — disse Marilene — que no próprio hospital me pediu que em seu enterro o caixão fosse coberto com a bandeira do clube. Foi com muita tristeza que levei a bandeira do Flamengo para o velório, como ela queria.”
Além de se destacar como companheira de boemia de personalidades de Ipanema e do Leblon, como o jornalista e escritor João Ubaldo Ribeiro e o falecido escritor e cronista José Carlos Oliveira, seus companheiros em noitadas no famoso restaurante Antônio’s, Cristina Gurjão marcou forte presença como mulher de idéias avançadas. “Com precedência sobre a Leila Diniz, ela foi pioneira na introdução de novos costumes: foi a primeira mulher a vestir um maiô de duas peças na praia de Ipanema. Ela era também uma mulher corajosa: embora sem atuação de ponta na organização dessas manifestações, participou de todas as passeatas contra a ditadura militar. Sei disso porque eu a acompanhava nesses atos”, contou Marilene Dabus, que definiu Cristina como uma pessoa generosa, solidária, “amiga de todas as horas”.
Cristina Gurjão trabalhou de 1974 a 1978 em O Globo, que a designou para uma missão especial: cobrir como correspondente permanente do jornal a Revolução dos Cravos, deflagrada em 25 de abril de 1974, e às mudanças que Portugal promoveu após a derrubada do sistema salazarista. Ela trabalhou também na Tribuna da Imprensa, onde fez um grande amigo: o jornalista Hélio Fernandes Filho, Diretor de Redação do jornal.
Assim como Ziraldo e Marilene Dabus, compareceram à missa o jornalista e compositor Nélson Mota, o produtor musical Luiz Carlos Mièle e os jornalistas
Mauricio Azêdo, Presidente da ABI, Carlos Leonam, Fichel Davit Chargel, João/DIV>
Luiz Albuquerque e Sônia Meinberg, entre outros.