17/09/2022
Em ALERJ
Rubens Confete, Adelzon Alves, Osmar Frazão e a jornalista Lena Benzecry/ Foto: Octacílio Barbosa/Alerj
Três lendas vivas do rádio carioca – Osmar Frazão, de 86 anos; Rubem Confete, 85, e Adelzon Alves, 83 – foram os convidados especiais do encerramento do seminário ‘100 anos de Rádio nos 200 anos da Independência’, nesta sexta-feira (16/09), na sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Em uma conversa descontraída, o trio revelou algumas histórias pitorescas e curiosas passadas em emissoras cariocas.
Com o tema Nossas Canções Cruzando o Espaço Azul – A Identidade Nacional pela Música nos 100 anos de Rádio no Brasil, a mesa de debates do terceiro e último dia do evento foi mediada por Lena Benzecry, jornalista, designer e autora do livro O samba do rádio – do Rio para o Brasil (Editora Appris, 2017).
Músicas que simbolizam a ‘era de ouro’ do rádio marcaram o fim da programação. Acompanhada de Marcílio Lopes (bandolim); Jayme Vignoli (cavaquinho) e Josimar Carneiro (violão), a cantora Mariana Baltar se apresentou em um pocket show, destacando sucessos da época.
Osmar Frazão
“O rádio chega hoje aos 100 anos graças aos pioneiros, Orlando Silva, Ari Barroso, Noel Rosa, e o bom gosto de toda essa geração, os auditório com grandes orquestras como a Severino Araújo”, comentou Osmar Brazão. E vai além: “Hoje se existe a MPB se deve ao samba. O que assistimos hoje é descrédito total, falsos valores que colocam as pernas e o bumbum de fora. No tempo de Emilinha Borba, Neuza Maria, Nora Ney o sucesso era com a voz. Hoje tem verdadeiros grupos de samba que sustentam a MPB. Zeca Pagodinho é um excelente sambista”.
O radialista e também ator Osmar Frazão nasceu em 1936, mesmo ano em que surgia a Rádio Nacional, considerada o berço dos mais populares programas de auditório, de humor e radionovelas. Ele iniciou em 1964 no rádio e em 1966 comandava seu primeiro programa. Entre os anos de 1995 a 2003 ele dirigiu a emissora e marcou sua gestão pela retomada do auditório, resgatando o brilho do passado.
Pesquisador e contador de histórias sobre a música popular brasileira e seus personagens, Frazão comandava até junho nas manhãs de domingo na Nacional o programa “Histórias da MPB”. Na década de 70, como jurado do programa de Flávio Cavalcanti na TV Tupi, ganhou do apresentador o apelido de ‘enciclopédia da MPB’. Além de atuar em diversas emissoras de rádio, Osmar Frazão trabalhou nas TVs Tupi, Rio, Globo, Continental e Excelsior.
Adelzon Alves
Conhecido pelo programa “O Amigo da Madrugada” na Rádio Globo até 1990, Adelzon Alves, é radialista e produtor musical com mais de 50 anos de experiência no rádio brasileiro. Foi produtor de disco da cantora Clara Nunes, lançou João Nogueira, Roberto Ribeiro, Dona Ivone Lara e Wilson Moreira, da Portela. Fez um programa com Jackson do Pandeiro no início dos anos 70, provocando um reaquecimento da música nordestina.
Em 1982, passou a apresentar o programa “Fole e viola”, na Rádio MEC, para divulgar a música regional brasileira, e o programa “MPB de Raiz”. Conhecido como “A Voz do Samba”, deu espaço aos compositores de samba autêntico, sem espaço nas gravadoras, sambas-enredo que só ganharam gravação nos anos 70 e sambas de quadra. Divulgou nomes como Alcione, em seu primeiro disco, Bezerra da Silva, Jorge Aragão, Elaine Machado, Fundo de Quintal, Mauro Diniz (filho de Monarco da Portela), Zeca Pagodinho e Jovelina Pérola Negra.
Adelzon Alves contou que começou em 1964 como locutor no programa do Chacrinha, na época do iêiêiê, ritmo americano que, segundo ele, “marginalizou a música brasileira”. “Orlando Silva, o cantor das multidões, tinha que ir para o subúrbio para cantar, ficou marginalizado pelo jabá das gravadoras americanas para que as rádios só tocassem ieieiê”. Ele disse que músicas de Caymmi, por exemplo, não tocavam no programa, até que ele resolveu colocar em seu programa, na madrugada, diversos compositores e cantores brasileiros, como o próprio Caymmi, Candeia, Walter Rosa, Nelson Cavaquinho, Elizeth Cardoso e outros. “O samba sempre teve importante papel em nossa cultura popular brasileira. Resiste a mil intempéries e continua, e a força dos ancestrais da raça negra”, destacou, ao detalhar as influências africanas na música brasileira.
“A música era admirada pela beleza melódica e poética, hoje está no ar o conceito de som, que não é nada além do marketing. Isso prejudicou os grandes artistas brasileiros”, destacou.
Rubem Confete
Referência do samba e do Carnaval carioca, trabalhando como jornalista, compositor, radialista, roteirista e passista, Rubem Confete tornou-se um porta-voz da cultura afrobrasileira no rádio. O griô do samba também foi amigo de grandes personalidades da sua geração, como Cartola, Pixinguinha, Jamelão e João Donato. “Na Rádio Nacional, Jamelão não tinha sala, ficava entre os corredores copiando as partituras para entregar nas salas”, contou.
Confete lembrou ainda de várias histórias de artistas importantes da música no Rio de Janeiro. “O maestro Heitor dos Prazeres, nascido no Cais do Valongo, hoje patrimônio mundial da Humanidade, chamado de A Pequena África, onde se toca samba às segundas-feiras, na Pedra do Sal”.
O griô também falou de sua trajetória na Rádio Nacional, onde está há 43 anos. Em fevereiro deste ano, a demissão anunciada de Confete gerou uma enorme comoção na opinião pública, levando a emissora a revogar a decisão. Seu nome foi incluído numa lista de 148 funcionários que seriam desligados da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), responsável pela emissora, depois de completarem 75 anos ou mais de vida.
Sobre o evento
Gratuito e aberto ao público, o seminário ‘100 anos de Rádio nos 200 anos da Independência’, promovido com apoio da Subdiretoria Geral de Cultura da Alerj, foi aberto na última quarta-feira (14), no auditório da Casa, com uma mesa sobre Dramaturgia e prosseguiu na quinta-feira (15), com um debate sobre Jornalismo.
O evento é uma realização da Artifício Cinematográfico, com coprodução da Byor Filmes e Da Gaveta Produções e marketing cultural da BFV Cultura e Esporte, com apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado, por meio do Edital Retomada Cultural RJ2. As palestras farão parte da programação da TV Alerj.