Agressões a jornalistas: hoje Pedro Duran, ontem Caco Barcellos


28/05/2021


Por Rogério Marques, conselheiro da ABI


Não é de hoje que jornalistas são agredidos, dependendo dos governantes que estão no poder e dos acontecimentos políticos. No governo do presidente Jair Bolsonaro, de extrema-direita, esses ataques assumiram uma proporção inacreditável.

Os relatórios da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), com um mapeamento nacional, têm mostrado que a maior parte das agressões verbais vem do próprio presidente da república, que nunca deixou de manifestar seu ódio à imprensa e à democracia, desde que era deputado federal.

Nas ruas, os partidários de Bolsonaro seguem seu exemplo: ofendem e expulsam os profissionais que estão cobrindo atos políticos, como fizeram com o repórter Pedro Duran, da CNN Brasil, no domingo 23 de maio. Duran estava cobrindo a manifestação de motociclistas em apoio ao presidente quando foi perseguido por um grupo de manifestantes e teve que deixar o local sob proteção da polícia.

A história tem mostrado que esse tipo de atitude intolerante e antidemocrática não parte apenas da direita. Há poucos anos, grupos da esquerda faziam o mesmo, expulsavam jornalistas de manifestações exatamente como tem acontecido agora. Na época, os alvos eram profissionais que trabalhavam em empresas críticas aos governos do PT. Mais que isso, empresas que apoiaram o golpe contra a democracia contra a presidente Dilma Rousseff.

Um dos episódios mais graves, em novembro de 2016, envolveu o veterano repórter da TV Globo Caco Barcellos, na época com 65 anos e reconhecido como um profissional ético. Caco e o repórter cinematográfico Luiz Felipe Salé estavam cobrindo, para o programa “Profissão Repórter”, um protesto de servidores estaduais em frente à Assembleia Legislativa do Rio, no Centro. Durante o trabalho, Caco Barcellos passou a ser hostilizado, ofendido e perseguido por um grupo de manifestantes. Foram momentos de muita tensão (assista ao vídeo).

O repórter foi atingido por vários objetos, inclusive um cone de sinalização de trânsito na cabeça. Durante a confusão surgiram dois policiais que protegeram Caco, mas pouco adiantou. Imagens disponíveis no YouTube mostram que até os policiais tiveram que correr junto com o jornalista e se abrigar em um prédio em obra, que fechou a porta. Do contrário, algo ainda mais grave poderia ter acontecido.

Os jornalistas têm que ser respeitados em seu trabalho de informar, independentemente da empresa para a qual ele esteja trabalhando e das posições políticas dessa empresa.

A Associação Brasileira de Imprensa tem cumprido rigorosamente seu papel de repudiar e denunciar todas as agressões à mídia e aos jornalistas, partam de onde partirem. A ABI se posicionou com firmeza no caso envolvendo a equipe da TV Globo, em 2016, assim como recentemente, na agressão ao repórter Pedro Duran por grupos bolsonaristas. Defender a liberdade de imprensa e o Estado Democrático de Direito é um dos principais motivos da existência da ABI.