20/02/2009
Em mensagem dirigida à ABI, assim como ao Ministro da Justiça Tarso Genro, o jornalista, escritor e ex-Deputado Agassiz de Almeida expressou sua indignação e seu protesto contra o assassinato do advogado Manoel Bezerra de Matos, Vice-Presidente do Partido dos Trabalhadores em Pernambuco, morto em 24 de janeiro no Município de Pitimbu, na Paraíba.
BR>Agassiz — que foi um dos organizadores das Ligas Camponesas da Paraíba no começo da década de 60 e que por isso foi perseguido, preso e processado pelo regime militar — diz que Bezerra de Matos “tinha pressa em encontrar justiça num mundo de desencontradas e aberrantes injustiças”.
Além de se dirigir à ABI, Agassiz de Almeida mandou sua mensagem por e-mail ao grupo Tortura Nunca Mais, à Associação de Anistiados, ao Deputado Edmilson Valentim, líder do PCdoB na Câmara Federal, e ao Deputado Ricardo Bergorini, Presidente Nacional do PT.
Repassado emoção e indignação e redigido em termos de grande efeito literário, diz o pronunciamento de Agassiz de Almeida, que define Bezerra como “um bravo que tombou”:
“Não posso calar-me; a minha consciência golpeada me impele a dirigir este protesto, envolto de indignação e de dor.
Com o assassinato covarde do valente advogado Manoel Bezerra de Matos, tive a sensação de uma incredulidade furiosa. Lembro-me dele, na ocasião do lançamento do meu livro A Ditadura dos Generais, em Recife, e de quem ouvi, num toque de sensibilidade, que esta obra era de sua leitura permanente.
A longa manus sinistra do criminoso, sob o amparo de poderosas forças mancomunadas com a omissão do Estado, abateu um forte.
Que natureza impetuosa! Tinha pressa em encontrar justiça num mundo de desencontradas e aberrantes injustiças.
Quando aquele jovem Manoel Bezerra avocou a si a luta em defesa dos direitos dos sem-Direito, ele fez desabar a ira de uma Medusa de mil tentáculos, enquistada no poder político e econômico.
Ressoa dentro de mim eco por sobre eco de um bravo que tombou.
Há uma tirania que se compõe da indiferença e da omissão do poder contra a qual devemos nos indignar.
Aquele lutador covardemente tombado em Pitimbu (PB) entrou para o processo de luta contra as injustiças sociais e os crimes abomináveis com a consciência fita nos horizontes do amanhã e da liberdade. Perscrutou as almas dos fracos antes de compreender os homens. Sabia ouvir o soluço de um infortunado como repelia com altivez a prepotência de um poderoso. Carregava-se de crenças sólidas no porvir do povo brasileiro.
Com a tragédia fria e covarde da morte de Manoel Bezerra, enlutando a consciência dos homens livres, abre-se um despertar da nação contra a máfia dos extermínios.
O que aquele valente deixou com o seu assassinato covarde, para os desvalidos sem voz e sem vez de todo o País?
Deixou um mundo novo de dignidade altiva.
Deixou esperanças àqueles que perderam a utopia.
Deixou sonhos em almas sobre as quais só pairavam trevas.
Deixou a energia de lutar.
Deixou a coragem de vencer o medo e de resistir.
Desde a sua adolescência, aquele nordestino impávido habituara-se a caminhar à beira dos abismos, onde pululam as mais torpes ambições humanas.
Manoel Bezerra de Matos, a quem o admirava por sua luta, veio para a vida com a energia e a coragem dos intimoratos; dela foi arrancado traiçoeiramente.
A sua morte não será em vão; ela traz consigo um golpe na consciência da humanidade, no seu pelejar constante pelo ideal de justiça e pelos direitos dos povos.
Trazer às barras de um implacável julgamento os criminosos executores e os seus mandantes de tão execrável crime impõe-se como dever de justiça perante a nação.
Saudações democráticas, (a) Agassiz Almeida, escritor.”