Adriano Barbosa, um homem de bem


05/01/2010


Adriano Barbosa entre a atriz Luciana Serpra e a jornalista Solange Rodrigues

Colaboração: André Moreau

O sopro intenso que do pó revela a todo instante, gente como a gente, também ressalta fragilidades, conseqüências trágicas da falta de humanismo, dessa mesma gente. Por omissão ou por obra divina, o sopro transforma tudo em pó e “como Elias, num carro azul de glórias”, leva o nosso companheiro jornalista Adriano Barbosa, Conselheiro Fiscal da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), escritor e professor, a se despedir no último 31 de dezembro e retornar ao pó. A família convida os confrades para a missa de sétimo dia que será celebrada no dia 7 de janeiro, às 18h30, na Igreja de Santa Mônica, esquina das ruas Ataulfo de Paiva com José Linhares, no Leblon.

O último livro de Adriano

Adriano Barbosa entrou no jornalismo pela mão do jornalista Hugo Corrêa, que o apresentou ao diretor do diário Diretrizes, o gladiador Samuel Wainer. Começou no time de cima, onde pontificavam Nelson Rodrigues, Gondim da Fonseca, Joel Silveira, João Duarte, filho, Egídio Skeff e tantas outras feras. A guerra tinha acabado e Adriano, que participou de operações bélicas nos mares do Sul, deixou a farda e pegou sua nova arma: a máquina de escrever. Com mais de 86 anos, dos quais cerca de 60 vividos nas trincheiras dos jornais, foi fundador do Mundo, do velho guerreiro Geraldo Rocha. Ali, chegou, viu e venceu “cesarianamente”, e por lá ficou por 15 anos, chefiando a reportagem, até que o velho Geraldo lhe deu um tranco e o jogou para o andar de cima. Foi dirigir a revista da casa, Mundo Ilustrado. Com a morte de Geraldo Rocha e a venda da empresa à família Orlando Dantas, nosso companheiro foi parar em O Globo, onde chegou pela mão do competente Nilo Dante, que apresentou Adriano Barbosa ao poderoso chefão da redação, Alves Pinheiro. Chegou, viu e ficou. Dedicou-se a O Globo por vinte anos, ali se aposentou, sem parar sua corrida no jornalismo. Sempre atento aos fatos, por decisão do empresário Roberto Marinho acumulou a chefia de reportagem geral com o comando da chefia de polícia, que transformou na primeira editoria do jornal. 

Pintou e bordou, orientando sua equipe em grandes casos, levou a Editoria de Polícia a destaque na Europa, quando localizou, no Rio, o jovem Guizeti, mistério que por longos e sofridos anos angustiou a família italiana, desafiou autoridades européias e de outros mundos. Ao final do drama, a senhora Guizeti foi escolhida a “Mãe do ano”, da Itália, e abençoada pelo Papa em cerimônia no Vaticano. Adriano Barbosa, professor catedrático de jornalismo pela extinta Universidade do Brasil, publicou “Sacopã”, no ano de 2007, pela “Edições Condão”, denunciando o truncamento de informações nos casos dos injustiçados – Bandeira, dos torturados – Herzog e da dor que se prolonga na incerteza – Delanne: “A Covardia do Silêncio”. O Templo da verdade, do respeito, dos deveres e direitos, da cidadania e da fé, não pode ser profanado, destruído pelas hordas continuadas e impunes dos assassinos, dos violentos, dos corruptos e saqueadores, nos novos tempos, como o foi, nos perdidos tempos do ano 586 antes de Cristo, o Templo de Salomão, no Monte Moab. Cabe-nos defendê-lo, saindo da covardia do silêncio que consente, para a ação da luta do bem contra o mal. Se a lei falha dos homens nos impede, o primeiro combate é para demoli-la, jogar nos porões do esquecimento seus escombros, limpar os caminhos da Verdade e da Justiça.

André Moreau Jornalista, Suplente do Conselho Deliberativo da ABI e Diretor do Programa IDEA UNITEVÊ (Universidade Federal Fluminense)