Adeus, Mara


12/03/2023


A socióloga Mara Kotscho, uma das fundadoras do Datafolha, em 1983, morreu neste sábado (11), aos 70 anos, em decorrência de um tumor no cérebro descoberto no ano passado.

Casada com o jornalista Ricardo Kotscho desde 1972, Mara deixa duas filhas, a também jornalista Mariana e a cineasta Carolina, e cinco netos. Ela nasceu em São Paulo, em 1953.

“Mara era uma pessoa que cuidava de tudo, da família, dos filhos. Não tinha tempo ruim para ela, que resolvia tudo. Até telhado ela consertou. Agora ela vai consertar as coisas no céu. Eu só pude ser jornalista e repórter graças a ela”, diz Kotscho.

Socióloga formada pela Universidade de São Paulo, Mara foi escolhida para colocar em prática uma ideia de Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), então publisher da Folha –criar um instituto de pesquisa no jornal. Segundo Kotscho, Mara tinha orgulho do seu trabalho no Datafolha e acompanhou as realizações do instituto ao longo da vida. Como conta Frederico Vasconcelos em reportagem de 2008, “o futuro instituto era só uma mesa, no meio da Redação, onde a socióloga Mara Kotscho, com sua máquina de calcular, orientava os entrevistadores, estudantes da PUC (Pontifícia Universidade Católica)”.

Sob o comando de Mara, o Datafolha se dedicou no princípio a pesquisas de comportamento, sobretudo com o intuito de revelar qual era o perfil do leitor da Folha. A socióloga aplicou a metodologia desenvolvida por Reginaldo Prandi, professor da USP.

Em 1985, ela deixou o instituto, mas seguiu trabalhando em pesquisas com uma consultoria própria, inclusive prestando serviços ao Datafolha.

Mara tinha 15 anos quando conheceu Kotscho, então com 20 anos, durante um período de férias em Caraguatatuba. “Ela sempre me acompanhou em tudo, e as meninas também”, diz o jornalista. Ele lembra que, no período em que foi correspondente do Jornal do Brasil na Europa, a família estava pronta para voltar ao país quando morreu o papa João Paulo 1º, em 1978. “Então fomos com as malas para o Vaticano, eu era o único repórter com a família toda lá”, conta.

“Ela que segurou a barra da família, sempre apoiou muito. Era um doce de pessoa. Magra, baixinha, aparentemente frágil fisicamente, mas de uma força monstruosa, carinhosa e muito amiga. Nunca negou o ombro dela para ninguém”, diz o jornalista Marcelo Auler, que trabalhou com Kotscho na Folha de 1980 a 1985.

Albino Castro, repórter que dividiu coberturas com Kotscho na Europa, afirma que Mara era uma mulher de fibra. “Estava sempre com as duas filhinhas a tiracolo”, escreveu em mensagem a colegas.

“Eu e minha irmã sempre falamos brincando que temos uma pequena grande mãe. Porque ela tem 1,57 m, mas tem aquele coração enorme. […] A amiga que sempre deu ouvidos, atenção, dedicada. Aquela que sempre se lembra dos aniversários e manda mensagens carinhosas”, escreveu Mariana Kotscho em um texto de homenagem à mãe, publicado no UOL em novembro passado

Jornalistas e familiares lembram ainda da boa relação de Mara e Kotscho com o presidente Lula e sua então esposa, Marisa Letícia. Amigas, as famílias já se reuniram no sítio dos Kotscho em Porangaba (SP), para onde serão levadas as cinzas de Mara.

Foram Mara e Kotscho que abrigaram por alguns meses em sua casa a filha de Lula, Lurian, quando em 1989 a mãe dela, Miriam Cordeiro, apareceu na campanha de Fernando Collor fazendo acusações ao petista. “Mara era a mãe que todo mundo queria ter”, escreveu Lurian em suas redes sociais.

O velório de Mara será realizado nesse domingo (12), das 9h00 às 12h30, no Memorial Parque Paulista (Rua Suécia, 56), em Embu das Artes, seguido de cerimônia de cremação.

A ABI envia seu abraço solidário ao companheiro Ricardo Kotscho, às suas filhas Mariana e Carolina, familiares e amigos.