13/11/2022
Por Jorge Antonio Barros
“Ao longo dos meus quase 50 anos de carreira, muito vi, muito ouvi e muitas vezes quase nada perguntei, porque os fatos falavam por si. Hoje, relendo minhas anotações (as que resistiram ao tempo do papel) ainda me impressiono com a quantidade de vidas que passaram pela minha – artistas nacionais e estrangeiros, reis, rainhas, políticos honestos e outros nem tanto, pobres, ricos, bandidos, mocinhos e aquele universo da gente comum que move o mundo. Desses todos, houve quem passasse por mim para desaparecer sem deixar rastro. Mas nessa caminhada também encontrei alguns poucos que, por várias razões, ficaram na memória como bons exemplos de sabedoria. Dramas e comedias, emoções (boas e ruins) não faltaram nesse grande palco que é a vida.”
O texto acima é de Magda Almeida, jornalista, numa de suas primeiras colunas que enviou “Direto de Porto Alegre”, para o QUARENTENA NEWS, em junho de 2020.
Lamento profundamente informar que ela nos deixou essa noite de 12 de novembro de 2022, aos 81 anos, justo numa semana em que perdemos tanta gente boa, como Gal, Rolando e Ricardo Gontijo (também jornalista).
Aprendi desde o início da carreira a admirar sua pena firme e arguta, seu olhar sensível, quando corria com ela, eu pelo JB, e ela pelo “Estadão”, o bravo matutino do qual sempre fui leitor desde a época de faculdade.
Além de tudo, Magda fez parte daquela equipe mitológica do “Jornal do Brasil” em plena ditadura, da qual só fui fazer parte em 1981.
Repare só no que ela escreveu sobre os tempo áureos do JB, em sua coluna no Observatório da Imprensa, em 2015:
“Muitos já me perguntaram que diabos aquele Jornal do Brasil das décadas de 1960 e 70 tinha de tão extraordinário para ser tão incensado entre aqueles que tiveram o privilégio de lá trabalhar. Ou viver, porque aquele templo meio sagrado não era um lugar onde apenas se trabalhava. Vivia-se a vida por inteiro, com seu lado escuro, sombrio, ardiloso, multifacetado, mas, ali, ela também se apresentava com imensa clareza a nos mostrar caminhos ensolarados que nos serviam de guia.
Éramos muito jovens, sonhadores, tudo bem, um tanto ainda imaturos em nossas aventuras, mas pujantes em nossos ideais por um jornalismo mais sério e responsável. Queríamos fazer escola e, de certa forma, a fizemos. Levas e levas de estudantes de jornalismo do Brasil e do exterior, principalmente da América Latina, corriam até aquele lendário prédio da Avenida Rio Branco, coração nervoso de um Rio já falecido, em busca do que não conheciam, não experimentavam, não vivenciavam. Seus heróis éramos nós. (…)”
Profissional de imprensa com total consciência da função social de sua atividade e também do que foi pertencer a uma das maiores escolas da reportagem brasileira, Magda era também plena de humanidade. Pelas matérias e as histórias publicadas em seu perfil no Facebook ficava claro como gostava de ser repórter e lidar com gente de todo tipo, algo para o qual a reportagem sempre lhe abriu as portas.
Carioca, Magda trabalhou no “Jornal do Brasil“ (repórter especial e editora), no “Jornal da Tarde”, no “Estado de S. Paulo” (repórter especial) e no “O Dia”, onde foi ombudsman e criou e administrou o Instituto Ary Carvalho, braço social, cultural e de educação do grupo “O Dia”. Com o nascimento do QUARENTENA, em 2022, convidei-a para ser nossa “correspondente” em Porto Alegre, onde se radicou com a filha, Fernanda. Ela aceitou sem pestanejar. Escrevia animadamente até adoecer, em março deste ano.
Em nossa correspondência por e-mail – que começou em 2015, quando ela me escreveu uma carta acolhedora, diante de minha primeira demissão na vida – eu tentava inutilmente convencer a Magda a nos dar uma grande entrevista ou que ela mesma escrevesse seu livro de memórias. Ela resistia com aquele mantra de que jornalista não é notícia. Meu trabalho agora será, com a ajuda de todos os seus contemporâneos, o de reconstituir suas histórias para escrever um livro com o título de “Fala, Magda”. Uma vida dedicada ao jornalismo assim não pode sumir na poeira da história. Magda viverá sempre na memória de cada um de seus leitores.
O corpo de Magda Almeida será velado a partir das 13h deste domingo, no cemitério da Santa Casa da Misericórdia, de Porto Alegre. Depois será cremada e suas cinzas jogadas nas montanhas de Petrópolis (RJ), cidade que sempre morou no coração, segundo escreveu a filha, Fernanda, no Facebook.
Apelo a quem conheceu a Magda e quiser contribuir com esse singelo obituário a deixar uma pequena história que lembre dela ou que tenha vivido com ela. As lembranças podem ser enviadas para https://www.facebook.com/QuarentenaNews1