10/06/2022
Na manhã do dia 5 de junho, o jornalista britânico Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, e o indigenista brasileiro Bruno Pereira, servidor público licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), foram vistos pela última vez antes de serem considerados desaparecidos no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, no estado do Amazonas, região norte do Brasil. Os dois viajavam pelo Vale do Javari com o objetivo de visitar e entrevistar uma equipe de Vigilância Indígena, organizada para garantir a proteção e a preservação ambiental das terras de reserva.
O Vale do Javari situa-se na fronteira do Amazonas com o Peru e a Colômbia e possui 8,5 milhões de hectares de terra demarcados, conformando a segunda maior Terra Indígena homologada do Brasil. A região abriga a maior concentração de povos indígenas isolados em todo o mundo, e seu acesso só é possível através de vias áreas e fluviais. Como outras regiões da Amazônia brasileira, o Vale do Javari é palco de intensos conflitos protagonizados por invasores de terra associados ao garimpo e à extração ilegal de madeira. Além disso, a área também é atravessada por disputas do narcotráfico, que se beneficiam das fronteiras pouco fiscalizadas para dominar os fluxos de comércio de drogas entre os países da tríplice fronteira.
A região possui histórico de violência e ameaças contra servidores públicos da Funai, defensores de direitos humanos e organizações não governamentais. Em 2019, Maxciel Pereira dos Santos, servidor da Funai em Tabatinga, foi assassinado a tiros. Até hoje o crime não foi solucionado.
O Governo brasileiro, presidido por Jair Bolsonaro, é internacionalmente reconhecido por suas políticas de desmonte da legislação ambiental e por ofensivas contra os direitos das populações indígenas e tradicionais. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), em ação realizada em agosto de 2021, apresentou ao Tribunal Penal Internacional de Haia (TPI) uma denúncia contra o Chefe de Estado por crimes contra humanidade e genocídio, associados ao seu incentivo às invasões de terras indígenas por garimpeiros.
O Estado brasileiro possui a obrigação de garantir que defensores de direitos humanos, jornalistas e servidores públicos possam exercer seus trabalhos com liberdade e segurança. Dom Phillips e Bruno são reconhecidos por suas reportagens sobre a Amazônia e sua atuação comprometida com os povos e territórios indígenas.
ATUE AGORA!
Ao preencher o formulário clicando aqui , você envia automaticamente um email para o Gabinete do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, exigindo que intensifiquem os esforços para encontrarem Bruno e Dom.
Defender os direitos humanos, indígenas e ambientais não pode significar colocar a própria vida em risco! A Amazônia precisa ser segura para todos e todas.
Leia a carta
Presidente Jair Bolsonaro, encontre Bruno Pereira e Dom Phillips!
Presidente Jair Bolsonaro,
Na manhã de 5 de junho de 2022, o indigenista e funcionário público Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram dados como desaparecidos, após serem vistos pela última vez no Vale do Javari, no estado do Amazonas, próximo à fronteira com a Colômbia e o Peru.
Eles haviam recebido ameaças de morte nos últimos dias, segundo a organização local que lidera as buscas, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).
Estamos muito preocupados com o fracasso das autoridades em localizá-los e com a falta de cooperação internacional para enviar com urgência equipes de busca e salvamento na área da fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, onde desapareceram.
Apelamos para que mobilize, em caráter de urgência, todos os esforços necessários para encontrar Bruno Pereira e Dom Phillips vivos, incluindo a cooperação internacional com a Colômbia e o Peru. As forças de segurança, em todos os níveis, devem fornecer todos os contingentes e equipamentos necessários para que a busca seja efetiva e bem sucedida.
O Ministério Público Federal deve garantir investigações céleres, minuciosas, independentes e imparciais para encontrá-los vivos e levar à Justiça os suspeitos de responsabilidade criminal pelos desaparecimentos.
Também pedimos aos Presidentes do Peru e da Colômbia que enviem com urgência equipes de busca e resgate para suas respectivas regiões que fazem fronteira com a área onde Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram.
Atenciosamente,