Por Igor Waltz*
03/07/2014
Na próxima quinta-feira, 10 de julho, acontece a Sessão da Saudade in memoriam do jornalista e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Ivan Junqueira. Durante a cerimônia, realizada tradicionalmente pela Casa de Machado de Assis em homenagem aos acadêmicos que se foram, os membros da ABL rememorarão a vida e a obra de Junqueira, que foi poeta, ensaísta, crítico e tradutor. O evento será realizado no Petit Trianon, sede da Academia.
O sexto ocupante da Cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras (ABL), Junqueira morreu na última quinta-feira, 3 de julho, de insuficiência renal, aos 79 anos. Ele estava internado há cerca de um mês no hospital Pró-Cardíaco e foi sepultado no mausoléu da Academia, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Zona Sul do Rio. O acadêmico deixa viúva, a jornalista e escritora Cecília Costa Junqueira, e cinco filhos: Suzana, Rafael, Raquel e Eduardo, do primeiro casamento, e Otávio, com a atual esposa.
Para Cecília Junqueira, com quem Ivan foi casado por 29 anos, “Ivan foi um dos maiores poetas brasileiros e poetas não morrem. Ele deixa um vasto legado literário, de 40 livros. Apenas o seu corpo estava doente, ele permanece. Espero que todos conheçam “Essa música” (livro de poemas inéditos que será lançado este ano), que essa música continue soando eternamente.”
Em nota, o presidente da ABL, Geraldo Holanda Cavalcanti, lamentou a morte do colega. “A morte do acadêmico Ivan Junqueira é uma grande perda para a Academia. Acadêmico exemplar, Ivan engrandeceu a casa à qual serviu durante 14 anos com exação, competência e dedicação. Grande poeta, mestre indiscutível nas artes do ensaio crítico e da tradução literária, Ivan deixa um legado que enriquece a nossa tradição e a história literária do Brasil”.
O poeta, jornalista e conselheiro da ABI Ferreira Gullar lembrou que, apesar da imagem sisuda, Junqueira era uma pessoa de “coração imenso” e com talento excepcional. “Ele nos deixa uma obra maravilhosa e nós nos resta uma saudade imensa. Era notável pela gentileza com os amigos. Somos amigos de longa data, trabalhamos em parceria na Funarte. Ele era muito dedicado, um gênio nas coisas que fazia. Um dos melhores poetas do Brasil. Com uma obra literária vasta, não só poética mas também ensaística.”
O também jornalista e membro da ABL Cícero Sandroni ressaltou o caráter do imortal. “Ele foi um dos nossos maiores poetas, além de um amigo fraterno que aprendi a admirar. Deixa muita saudade. Sua sensibilidade e seu caráter são notáveis. Pode até ser um chavão, mas o mundo literário brasileiro fica muito menor sem ele.”
A escritora e membro da ABL Nélida Pinon, Junqueira deixa como exemplo o seu comportamento cívico. “Era um homem de bem, um brasileiro íntegro que, embora fosse um grande admirador da pátria, não se eximia do senso crítico em relação ao Brasil. Ele deixa saudade pelo intelectual de grande porte que foi”.
Alberto da Costa e Silva, historiador, diplomata e membro da ABL, destacou a melancolia da morte que sempre percorreu a obra de Ivan Junqueira. “Ivan foi um grande escritor. Em “O outro lado” (de 2007, vencedor do Prêmio Jabuti), ele fala sobre a morte. Ivan viveu uma vida sentindo a morte como presença todos os dias, sentindo que a morte é uma inimiga amada. No seu último livro, ele fez um grande relato sobre a velhice e a morte, uma história de como passamos pela vida e chegamos ao fim dela, ou seja, a dupla presença do tempo em nossas vidas”.
Vida e obra
Vencedor de importantes prêmios como o Jabuti de poesia por “A sagração dos ossos” (1994) e “O outro lado” (2007), Junqueira completaria 80 anos em novembro. Para marcar a data, que concide com seus 50 anos de carreira literária, sua editora planejava o lançamentos de duas obras suas inéditas: “Reflexos do sol posto”, coletânea de ensaios, em agosto, e “Essa música”, de poemas, previsto para outubro.
Em “Reflexos do sol posto”, Junqueira reflete sobre o cenário das letras brasileiras em críticas e análises feitas ao longo dos últimos anos e dedica um espaço especial à poesia. Quase premonitório, logo nas primeiras páginas ele avisa o leitor que esta deveria ser sua última reunião de ensaios. Já em “Essa música”, seu amigo e crítico Alfredo Bosi afirma na quarta-capa que, com a obra, ele “alcança o zênite de sua trajetória poética”. Também sobre o livro, o poeta Marco Lucchesi afirma: “‘Essa música’, essencialmente atonal, perfeitamente esquiva, contínua e sincopada é uma pauta de raro encantamento” no texto de abertura da orelha.
Junqueira ocupava a cadeira de número 37 da ABL, em 2000, vaga por João Cabral de Melo Neto. Nascido no Rio em 3 de novembro de 1934, estudou medicina e filosofia na Universidade do Brasil (atual UFRJ), sem concluir nenhum dos dois cursos. Em 1963, começou a trabalhar como jornalista na “Tribuna da Imprensa”, tendo passado pelas redações do “Correio da Manhã”, “Jornal do Brasil” e “O Globo”.
Também foi colaborador das enciclopédias Barsa, Britannica, Delta Larousse, entre outras, além do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro editado pela Fundação Getúlio Vargas. Na Funarte, foi editor da revista “Piracema” e chefe da Divisão de Texto da Coordenação de Edições, tendo se aposentado no serviço público em 1997. Na Fundação Biblioteca Nacional, foi editor-adjunto e depois editor executivo da revista “Poesia sempre”, entre 1993 e 2002.
Ivan Junqueira foi presidente da ABL em 2004 e 2005. O imortal foi ainda tema do documentário “Ivan Junqueira, apenas um poeta”, de André Andries, lançado em 2012.
*Com informações da Academia Brasileira de Letras e de O Globo