01/09/2019
Em carta encaminhada ao governador do estado do Pará, Helder Barbalho, o presidente da Associação Brasileira de Imprensa – ABI, Paulo Jeronimo de Sousa, o Pagê, manifestou a preocupação da entidade com as ameaças feitas ao jornalista Adécio Piran, editor do jornal Folha do Progresso, do município de Novo Progresso, no sudoeste daquele estado.
Na carta, a ABI solicita o empenho pessoal do governador e de todo o seu governo para garantir a vida do jornalista e a manutenção do jornal, uma vez que anunciantes também estariam sendo pressionados de forma a inviabilizar economicamente a publicação.
Pagê lembra ao governador eleito pelo MDB que estas ameaças ao jornalista e ao jornal “se caracterizam em uma tentativa de cerceamento do seu trabalho profissional e um ataque à Liberdade de Expressão“. E acrescenta:
“Como se sabe, essa Liberdade é garantida como cláusula pétrea da nossa Constituição Cidadã de 1988, que o seu partido – MDB – através do trabalho de importantes lideranças políticas de então, ajudou a escrever.
Nos seus 111 anos de existência, a ABI sempre marcou posição em favor do Estado Democrático de Direito e da Liberdade de Expressão, na qual se insere a Liberdade de Imprensa e o livre exercício da profissão pelos jornalistas“.
A manifestação da ABI soma-se à preocupação já externada pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e pelo Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará (SinJor-PA) que em Nota Oficial conjunta cobraram empenho das autoridades na proteção ao jornalista e ao jornal.
Após contato com o próprio Adécio, a diretoria da ABI buscou informações sobre o caso com o delegado de polícia de Novo Progresso, Daniel Mattos Mathias Pereira, com a Polícia Civil do estado e com a secretaria de Segurança Pública mostrando a preocupação da entidade com o caso em si.
Mesmo sabendo que existe uma investigação em andamento, na qual, segundo Adécio informou, estão sendo chamados a depor alguns proprietários rurais da região que teria divulgado em grupos de WhatsApp as ameaças ao jornalista, bem como poderiam ser responsáveis pela distribuição de panfletos com pesadas acusação ao mesmo, a diretoria da ABI entendeu necessário reforçar os pedidos já feitos dirigindo-se diretamente ao governador do Estado. Cópia da carta endereçada ao governador por e-mail foi também encaminhada à secretária de Comunicação do Pará, Vera Oliveira.
Como o presidente da ABI destaca na carta, as ameaças ao jornalista só ocorreram depois que a notícia por ele divulgada no dia 5 de agosto teve repercussão internacional. Isto ocorreu por conta do trabalho de reportagem da revista Globo Rural que, ao saber da informação sobre o Dia do Fogo, buscou informações no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE confirmando o aumento considerável das queimadas no dia 10 de agosto- a tal Data do Fogo – na região de Novo Progresso.
Antes mesmo da repercussão nacional e internacional, a notícia divulgada pela Folha do Progresso serviu ao procurador da República de Itaituba (PA), Paulo de Tarso Moreira Oliveira a buscar informações antecipadamente junto ao Ibama da região sobre as providências para se evitar as queimadas, mas descobriu que os ficais não receberam ajuda nem da Polícia Militar nem da Força Nacional.
O Ministério Público Federal confirmou ainda que, em 10 de agosto – tal como o jornal anunciara – “os dados do Inpe mostraram um incremento significativo nas queimadas nesse e nos dias posteriores, principalmente nos municípios de Novo Progresso e Altamira, ambos cortados pela BR-163 e campeões de desmatamento na região amazônica. De acordo com o Inpe, Novo Progresso teve 124 registros de focos de incêndio no “dia do fogo”, um aumento em 300% em relação ao dia anterior. No dia seguinte foram 203 focos. Em Altamira, os satélites detectaram 194 focos de queimada em 10 de agosto e 237 no dia seguinte, um aumento impressionante de 743% nos focos de incêndio”, diz nota oficial da Procuradoria da República no Pará, que serve como confirmação da veracidade da notícia divulgada.