ABI Memória musical – Nelson Cavaquinho ‘Quando Eu Me Chamar Saudade’


16/06/2021


Uma roda de conversa descontraída sobre a trajetória do compositor popular Nelson Cavaquinho, seus sambas antológicos, suas histórias curiosas, bem e mal humoradas. contadas e cantadas por quem conviveu com ele, no Teatro Opinião, como o produtor Roberto Caldeira, Nos shows em vários palcos, em estúdio, como o músico e produtor musical Paulão 7 Cordas, e seu afilhado, o jornalista e escritor Álvaro Costa e Silva, (o Marechal). Programa produzido, apresentado e dirigido pelo jornalista e produtor cultural Paulo Figueiredo, que integra o time da Diretoria de Cultura da ABI.

 

Biografia

Nelson Cavaquinho; Nelson Antônio da Silva (29/11/1911- RJ  18-02-1986 RJ). Compositor, violonista, cantor. Seu primeiro contato com a música se dá nos saraus organizados pelo pai, contramestre da banda da Polícia Militar e tocador de tuba. Aprende a tocar cavaquinho por observação e acompanha o tio, violinista, com um rudimentar cavaquinho, feito com uma caixa de charutos e cordas de arame. De origem humilde, abandona o curso primário para ajudar no orçamento familiar. Muda-se, aos 8 anos, para as imediações da Lapa e, em 1928, para a vila operária, na Gávea, onde trabalha numa fábrica de tecidos e participa das rodas de choro dos empregados.

Aos 20 anos, seu pai altera a data de sua certidão para 1910, para que possa ingressar na cavalaria da Polícia Militar, em 1932. Patrulhando o Morro da Mangueira conhece os sambistas Zé da Zilda, Carlos Cachaça e Cartola. É detido mais de uma vez ao trocar a ronda pelo samba. Seu estilo de vida boêmio o afasta da polícia aos 27 anos. Trabalha como pedreiro e passa a vender parcerias em sambas, gênero ao qual mais se dedica. Substitui o cavaquinho pelo violão, o qual toca usando apenas o polegar e o indicador.

Apesar da vasta produção não se promove em rádios e gravadoras: seu palco são bares como o Cabaré dos Bandidos, no centro da cidade. Tem seu primeiro samba, Não Faça Vontade a Ela (parceria com Rubens Campos e Henricão), lançado em 1939, por Alcides Gerardi. A partir 1943, ganha mais publicidade na voz do cantor Ciro Monteiro, que canta Apresenta-me Aquela Mulher (com Augusto Garcez e Gustavo de Oliveira), Não Te Dói a Consciência (Ari Monteiro), Aquele Bilhetinho (Augusto Garcez e Arnô Canegal, 1945), e Rugas (Augusto Garcez e Ari Monteiro, 1946). Mais tarde, a cantora Dalva de Oliveira grava Palhaço, 1952 (com Osvaldo Martins e Washington Fernandes) e Elizeth Cardoso, Amor que Morreu, 1953 (Roldão Lima e Gilberto Teixeira). Inicia em 1955 a duradoura parceria com Guilherme de Brito, com quem compõe Garça e Cinzas (com R. Gaetani), Pranto de Poeta, 1957, A Flor e o Espinho, 1957 (Alcides Caminha), Folhas Secas e Quando Eu Me Chamar Saudade, 1973.

Faz apresentações no Zicartola (1963), restaurante de Cartola e Dona Zica. Ao lado de Zé Kéti, Elton Medeiros, Jorge Santana, Cartola e Nuno Veloso, forma o grupo A Voz do Morro, que faz única apresentação em um programa de televisão. Com Clementina de Jesus, Cartola e Carlos Cachaça, grava o LP Fala Mangueira. É protagonista e tema do curta-metragem Nelson Cavaquinho, de Leon Hirszman, em 1969. No ano seguinte, lança o LP Depoimento de Poeta, dois anos mais tarde, Nelson Cavaquinho – da série Documentos, pela RCA, e, em 1973, Nelson Cavaquinho, com a participação de Guilherme de Brito.

Sua obra é difundida, entre os anos 1950 e 1970, pela interpretação de artistas como Elizeth Cardoso, Paulinho da Viola, Nora Ney, Beth Carvalho, Nara Leão, Elza Soares, Elis Regina, Thelma Soares, Clara Nunes e Paulo César Pinheiro. Em 1977 grava, com Guilherme de Brito, Candeia e Elton Medeiros, o álbum Quatro Grandes do Samba. Apesar de ser um poeta marginal durante muitos anos, tem seu talento reconhecido em vida: em 1985 é lançado o álbum Flores em Vida, no qual Nelson Cavaquinho executa algumas de suas canções e é homenageado por intérpretes como Chico Buarque, Beth Carvalho, João Bosco e Toquinho.


Fonte Itaú Cultural