Ivan Cavalcanti Proença é o novo Presidente do Conselho Deliberativo da ABI


27/10/2015


Paulo Gomes Neto, Andrei Bastos, Ivan Proença e Domingos Meirelles

O escritor e professor de Literatura Ivan Cavalcanti Proença foi eleito por aclamação nesta segunda-feira, 26, como Presidente da Mesa do Conselho Deliberativo. Ele substitui a jornalista e professora Joseti Marques, que ocupava o cargo desde dezembro de 2014. A indicação de Ivan Proença foi iniciativa da Diretoria da ABI, a partir de consultas internas sobre o nome que tivesse o perfil mais adequado para conduzir os trabalhos da Mesa:

— Historicamente todos os Presidentes do Conselho foram associados que se destacaram em sua vida pessoal, profissional  e política, como foi o caso de Barbosa Lima Sobrinho, Prudente de Moraes, neto, e Fernando Segismundo, que antes de presidirem a Casa integraram o Conselho Deliberativo. Desta forma, uma das prerrogativas do cargo é que os candidatos à sucessão de Joseti Marques tivessem  perfil semelhante ao dos companheiros que citei e de tantos outros nomes que por aqui passaram. Ivan Proença é um grande intelectual: crítico literário renomado, além de autor consagrado de uma vasta obra sobre o nosso passado recente, e que desempenhou também  um papel importante na história político-contemporânea, destacou Domingos Meirelles, Presidente da ABI.

Em seu discurso, Ivan Proença sublinhou a sua trajetória na ABI e ressaltou o papel da entidade em defesa das liberdades e dos direitos humanos: “Gostaria de lembrar que esta é terceira oportunidade que tenho de ocupar um cargo na ABI. Fui Presidente do Conselho em um momento muito delicado, como lembrou o nosso Presidente Domingos Meirelles, quando o Conselho manteve seus questionamentos, alguma oposição em relação àquela Diretoria, porém movido pelo princípio básico que é a união em torno do histórico, do presente e do futuro da ABI. A junção dos três fatores permitiu que a minha gestão fosse tranquila. Maurício Azêdo, como todos sabem, tinha um temperamento ativo, agitado, e, graças a esse temperamento, quase tudo o que ele fez seguiu os princípios democráticos e de defesa dos direitos humanos. Em razão da virtude inabalável de Maurício Azêdo, que muitas vezes se sentou à mesa com ideias diferentes das nossas, mantivemos uma relação cordial e respeitosa. A ABI ganhou muito com esta aproximação e união. Portanto, neste momento desejo que nós nos entendamos e tenhamos a oportunidade do “bom combate”, e que este não gire em torno de pequenos desentendimentos. Em relação ao episódio citado por Domingos Meirelles, que está relacionado ao período da ditadura, digo que não me considero um heroi diante da firme atitude que tomei em defesa das liberdades. Naquela época, éramos os defensores da legalidade, mas fomos tratados como subversivos. Deste modo, meu primeiro alerta ao Conselho é no sentido de que a ABI tem de cumprir uma historicidade relacionada à sua trajetória de participação atuante e presença efetiva. Tenho certeza de que teremos o apoio da Presidência e da Diretoria para que a ABI acompanhe a OAB, o Clube de Engenharia, o Grupo Tortura Nunca Mais diante de um quadro preocupante. A ABI estará sempre lutando em defesa da democracia e da soberania nacional. Gostaria de encerrar prestando um agradecimento especial aos antigos funcionários da ABI, companheiros que estão aqui há anos acompanhando divergências e unidade de ideias e pensamentos. Quero lembrar que a importância das atividades culturais da ABI vão retomar ao que foram nos anos 1970 e 1980. Minha primeira atividade na ABI foi coordenar a realização de simpósios e seminários. Quando saí da prisão iniciei essas ações. Inclusive, a minha ficha do DOI-Codi  informava que eu tinha participação ativa em um órgão reconhecidamente subversivo:  a ABI.  Que elogio maravilhoso! Como é importante continuar digno de pertencer à ABI. A manutenção da identidade cultural de um povo é a manutenção de sua independência. Precisamos da juventude ao nosso lado. Vamos criar um ambiente favorável à presença dos jovens entre nós. Vamos respeitar os caminhos limpos, diretos e simples da nossa Associação.”

Currículo

Ivan Cavalcanti Proença é mestre e doutor em Literatura, cursou a Academia Militar de Agulhas Negras, onde se formou no início da década de 1950. Publicou diversos livros sobre literatura e cultura brasileira, entre os quais A ideologia do cordelFutebol e palavra e O poeta do eu, este último, sobre o poeta Augusto dos Anjos. Com o golpe militar de 1964, afastou-se do Exército e, em 1965, prestou vestibular para Português/Literatura na Universidade do Estado da Guanabara. Sua saída do exército se deu devido a divergências com os militares, sendo por isso preso e cassado. Segundo o grupo Tortura Nunca Mais, “No dia 1º de abril de 1964, no Largo do CACO, perto do Campo de Santana, no Rio de Janeiro, estudantes e populares discursavam contra o golpe quando, reprimidos, fugiram para o interior da Faculdade de Direito. O ataque continuou com bombas de gás lacrimogêneo. Uma fumaça branca saía das janelas de todos os andares. Do lado de fora, metralhadoras apontavam para a porta principal do prédio cercado. Ivan Cavalcanti Proença, então capitão do Regimento Presidencial, no comando dos tanques que vigiavam a Casa da Moeda, foi informado de que centenas de jovens encurralados, sem armas e sem ar, corriam risco de vida no interior da faculdade. Proença cercou quem cercava o CACO e apontou as armas para os golpistas, que fugiram do local. Com os seus soldados subiu a escada e abriu todas as janelas. Ele sabia que os oficiais direitistas ganhavam a guerra – ele mesmo já havia recebido ordens para se apresentar ao comando do QG. Mas Ivan coordenou os trabalhos até o momento em que o último estudante conseguiu escapar. Preso, Cavalcanti Proença foi levado para a Fortaleza de Santa Cruz e, depois, para o Forte Imbuí”. Depois de passar cerca de 50 dias na prisão, lhe foi dada uma chance de perdão, mas queriam em troca seu silêncio diante das atrocidades que viu. Não aceitando, teve seus direitos militares cassados e passou mais de 20 anos sendo perseguido na vida civil. Ministrou aulas na Faculdade de Letras da UFRJ nos anos 1970, na cadeira de Literatura Brasileira, e, a partir dos anos 1980, tornou-se professor titular na FACHA – Faculdade de Educação Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, na cadeira de Literatura Brasileira, desenvolvendo pesquisa sobre as produções poéticas populares, entre as quais o cordel e os sambas.