ABI celebra Araújo Porto-Alegre


19/11/2009


Murilo, Gerson, Cícero ,Maurício, Muniz Sodré, Mônica , André e Mary

Manuel José de Araújo Porto-Alegre, o Barão de Santo Ângelo, nasceu em Rio Pardo(RS), em 29 de novembro de 1806, e faleceu em Lisboa, Portugal, em 30 de dezembro de 1879. Em sua trajetória destacou-se como homem das letras, político, jornalista, pintor, caricaturista, arquiteto, crítico e historiador de arte, professor e diplomata.

Expoente do romantismo nacional, Araújo Porto-Alegre foi homenageado nesta quarta-feira, dia 18, na ABI, com o lançamento do livro “Barão de Santo Ângelo — O Espírita da Corte”, do jornalista Paulo Roberto Viola. O evento foi antecedido por conferência do Presidente da Academia Brasileira de Letras(ABL), o jornalista e escritor Cícero Sandroni, com o tema “Dois séculos de Araújo Porto-Alegre — valores culturais, éticos e morais, acima de tudo”.

Participaram da mesa de honra, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, o acadêmico e jornalista Murilo Melo Filho, o Diretor-presidente da Biblioteca Nacional, jornalista e escritor Muniz Sodré, representante do Ministério da Cultura; a Diretora do Museu Nacional de Belas Artes, Mônica Xexéo, o Vice-presidente da Rádio Rio de Janeiro, Gérson Monteiro, representante do Ministério do Trabalho e Emprego; e a historiadora Mary Del Priore.

Thiago Xavier de Barros

Thiago Xavier de Barros, membro do Movimento espírita de Amor ao Próximo (MAP), deu início à solenidade, que contou com a cobertura de veículos de comunicação da mídia espírita.
— Este evento foi proposto por jornalistas espíritas filiados à ABI, entidade que prestigia a cultura nacional. Gostaríamos de homenagear os jornalista brasileiros que contribuíram para este século de luta em favor da liberdade de imprensa no Brasil, especialmente Herbert Moses, condecorado pela Universidade de Columbia por seu ideal em favor da imprensa livre; Danton Jobim, advogado e escritor, que presidiu esta Casa em tempos difíceis para a imprensa brasileira; e o histórico Barbosa Lima Sobrinho, três vezes Presidente da ABI e uma vez da ABL. São exemplos de profissionais abnegados que se dedicaram com amor e perseverança, através da imprensa, às mais nobres intenções da Pátria.

Em seguida, Maurício Azêdo saudou os participantes da mesa e a platéia e destacou a importância de Araújo Porto-Alegre na história nacional:
—Em nome da Associação Brasileira de Imprensa e sua diretoria quero dar as boas-vindas ao público que veio prestigiar o lançamento do livro do nosso companheiro Paulo Roberto Viola, que escreveu sobre Manuel Araújo Porto-Alegre. Quero saudar, em especial, os membros da mesa que muito honram esta Casa com a sua presença. Vou poupá-los de considerações outras que serão desenvolvidas com competência e pertinência por este grande estudioso da vida nacional, da cultura e da imprensa do País, o acadêmico Cícero Sandroni, Presidente da Academia Brasileira de Letras, sócio da ABI, na qual exerceu relevantes funções, inclusive integrando diretorias do nosso eminente e inesquecível Presidente Barbosa Lima Sobrinho. Cícero Sandroni vai mostrar a importância de Araújo Porto Alegre como pioneiro da ilustração gráfica na imprensa brasileira e, como tal, a personalidade cultural e artística que abriu caminho para que a imprensa brasileira pudesse oferecer, como oferece hoje, um de seus valores mais ricos que é a criação artística, de cartuns e de caricaturas. Arte que deve o seu reconhecimento, sobretudo ao empenho de Araújo Porto Alegre no princípio e na primeira metade do século passado.

Sandroni deu início à conferência falando sobre a sua relação estreita com a ABI:
—Me sinto emocionado e comovido por estar aqui na Associação Brasileira de Imprensa, onde militei durante muito tempo e continuo acompanhando as atividades deste jornalista que veio para fazer da ABI aquilo que sempre digo: a ABI é aquilo que os jornalistas fazem dela. Maurício Azêdo conseguiu trazer para esta Casa jornalistas que estavam afastados por várias razões. Conseguiu aglutinar novamente a classe neste espaço que representa a Casa do Jornalista, de Gustavo Lacerda, de Herbert Moses, de Barbosa Lima Sobrinho, Prudente de Moraes, neto, Fernando Segismundo e de tantos outros que doaram seu tempo, sua capacidade de trabalho e intelectual para a construção.

Preceptor

Cícero Sandroni e Maurício Azêdo

Na sequência, o Presidente da ABL ressaltou a importância de Manuel Araújo Porto-Alegre na trajetória da Academia.
—Ele é uma figura muito lembrada na ABL, que é a Casa da Memória. Lá, lembramos de todos aqueles que muitas vezes são esquecidos pela imprensa, pelas editoras. Nosso dever estatutário, de primeira linha é resgatar as pessoas que construíram, não só a nossa Casa, mas também a literatura, a sociologia, a medicina brasileira. Entre os patronos da ABL está Araújo Porto Alegre, fundador da cadeira número 32.

Segundo Sandroni, o nome de Araújo Porto-Alegre foi escolhido na ABL por Carlos de Laet, “ um monarquista convicto, polêmico e contumaz”:
— Laet foi exilado para o interior de Minas Gerais durante o Governo Floriano porque tinha um jornal que fora empastelado. Ele reconhecia em Araújo Porto Alegre um grande intelectual, homem que reuniu tantas atividades artísticas e ao mesmo tempo fez um trabalho político sendo vereador, como o nosso Maurício Azêdo, um dos grandes oradores da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Não é à toa que a rua na qual a ABI está instalada é uma homenagem a Araújo Porto Alegre.

Ao lado de Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães, também patronos da ABL, Araújo Porto-Alegre formou a chamada “Trindade romântica”, explicou o Presidente da Academia:
— Ele é considerado uma espécie de preceptor, orientador dos poetas brasileiros. Em 1836, foi co-fundador da revista Niterói, e em 1848, da revista Guanabara, um momento crucial para o advento e a fixação do Romantismo no Brasil. Porto-Alegre fez parte deste grande grupo brasileiro que privilegiou a temática nacional. Seu mérito foi o ensaio da libertação artística do Brasil, como precursor grandioso do movimento literário e estético do romantismo nacional.

Reconhecimento

Sandroni enfatizou ainda a intensa atividade cultural exercida por Araújo Porto-Alegre no Brasil e no exterior:
—Além do jornalismo, Porto-Alegre atuou em nível educacional, administrativo e literário, sobretudo pelo poema épico “Colombo” a respeito da América. Como pintor, discípulo de Debret, e poeta vivenciou a penúria material quase completa no Brasil e em Paris, sobrevivendo graças aos poucos e sinceros amigos. Em 28 junho de 1840, foi nomeado por Dom Pedro II o pintor da Câmara Imperial, título ao qual somou outros como Diretor da Sessão de Belas Artes do Museu Nacional , Membro Honorário do Instituto Histórico da França, do Conservatório de Lisboa e do Instituto Nacional de Washington. Em 1858, ingressou na carreira consular, sendo Cônsul do Brasil na Prússia, Saxônia e Lisboa, onde faleceu em 1879.

Cícero Sandroni, Maurício Azêdo e Muniz Sodré

A brilhante trajetória no campo de jornalismo e da ilustração está vinculada aos atributos espirituais e morais do artista, na análise do Presidente da ABL:
— Ele era um artista da palavra, da pintura, do desenho, da caricatura. Como grande jornalista recebe hoje esta homenagem na ABI pelo valor de sua contribuição como colaborador ativo, redator e fundador de jornais e revistas. Araújo Porto Alegre ganhou nome nas ruas na cidade do Rio de Janeiro, onde está situada a sede da histórica da ABI. Sua atividade jornalística está ligada à extraordinária capacidade de produção de seus atributos espirituais e morais. Também seus estudos dedicados ao índio, ao negro, ao folclore e ao vasto cenário do nosso ambiente representam o admirável senso divinatório do Barão de Santo Ângelo. Um gênio do panteão brasileiro.

Entre os participante da mesa, o jornalista, escritor e pesquisador Muniz Sodré aplaudiu o resgate da figura de Araújo Porto-Alegre no cenário histórico nacional:
— É uma figura que estava realmente esquecida. A homenagem é muito oportuna também pelo fato de ele ser espírita. Os livros espíritas vendem muito, tem um público específico e, em geral, são obras que se referem a pessoas marcantes do ponto de vista ético. Estes livros rebatizam a pessoa para a memória coletiva. Além de ter sido grande personalidade, jornalista, chargista, na verdade, Araújo Porto-Alegre se inscreveu em outra história que é a história do ancestral que o espiritismo reverencia. 

Espiritismo

Também presente à mesa de honra, a historiadora Mary Del Priore lembrou que em 1870 aconteceram importantes avanços tecnológicos no Brasil, como a chegada do telégrafo e a implantação das primeiras linhas ferroviárias. Nesta época, segundo Mary, foi estabelecida uma tentativa de conciliação entre a ciência e a religião por parte de setores da sociedade, permeados por doutrinas como o Darwinismo, o Positivismo e o Espiritismo:
— A doutrina espírita buscava aquela aproximação, mas, em meados do século XIX, era vista de forma caricatural. E Araújo Porto-Alegre, por tratar-se de um intelectual de destaque e adepto do espiritismo, contribuiu para desfazer estereótipos acerca da religião. Ele era um observador sagaz da ineficiência da política dos bastidores do grande Império. Como uma espécie de radar, se mantinha atento às questões que mais tarde viriam por um fim ao regime imperial.

Destaque do encontro, o acadêmico Murilo Mello Filho também reconheceu a posição de intelectual destacado que Porto-Alegre ocupava na sociedade, e classificou-o como um “verdadeiro líder do Brasil daqueles tempos imperiais”:
— Esta homenagem que Porto-Alegre ora recebe na Associação Brasileira de Imprensa é muito justa por tratar-se de um jornalista e escritor de destaque e talento reconhecido, tanto que foi eleito para a cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras.

André Trigueiro e Paulo Roberto Viola

Ao final do evento, o autor da obra sobre Araújo Porto-Alegre, jornalista Paulo Roberto Viola, enfatizou o lado humanista e espiritual do biografado:
—Descobri Porto-Alegre no ano passado ao formular um livro chamado “Dom Pedro II e a Princesa Isabel”. A obra editorial que está sendo lançada hoje mostra a sua filosofia de vida. A busca por respostas foi alcançada em uma das viagens que ele fez a Paris, onde conheceu Alan Kardec, o codificador da doutrina espírita. Porto-Alegre se tornou um dos pioneiros do espiritismo no Brasil e no mundo. O livro enfoca o ser humano especial, o homem voltado para as preocupações deste mundo, mas sempre com o sentido da eternidade, sabendo que aqui estava de passagem. Descobrimos uma carta escrita por ele que revela este o conteúdo guardado a sete chaves. Ele tinha medo de falhar com o juramento de fidelidade à Igreja Católica exigido pelo cargo que ocupava como funcionário do Estado. Porto-Alegre guardou este segredo para manter o emprego e não ser vítima de discriminação.

(*) Colaboração Bernardo Costa