29/01/2010
A Associação Brasileira de Imprensa aderiu ao movimento de várias instituições e personalidades em apoio à candidatura do ex-Senador Abdias Nascimento para o Prêmio Nobel da Paz de 2010, cuja indicação é de autoria do cientista político e professor Clóvis Brigagão.
No documento, o Presidente Maurício Azêdo, em nome da ABI, ressalta a trajetória de Abdias Nascimento na defesa dos direitos humanos e das liberdades — com especial dedicação à população afro-descendente —, e ainda nas áreas cultural, acadêmica e política no Brasil e no exterior.
A carta destaca ainda que a premiação homenageará, não apenas a Abdias Nascimento, mas a todos os africanos que dedicaram suas vidas à luta pelos direitos, igualdade e dignidade de seus descendentes em todo o mundo.
Clóvis Brigagão, Diretor do Centro de Estudos das Américas da Universidade Cândido Mendes, entregou pessoalmente a indicação de Abdias Nascimento ao Prêmio Nobel da Paz de 2010, em junho último, quando esteve em Oslo, como membro do Instituto Nobel da Paz.
De acordo com as regras do Comitê do Prêmio Nobel da Paz (http://nobelpeaceprize.org), as indicações e os endossos podem ser feitos por membros de parlamentos nacionais, governos nacionais, e União Inter-Parlamentar; reitores de universidades e professores universitários de História, Ciências Sociais, Política, Filosofia, Direito e de Teologia; Diretores de Institutos de Pesquisa da Paz e de Institutos de Relações Internacionais.
Elisa Larkin Nascimento, mulher de Abdias Nascimento, Diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), fundado por Abdias no início da década de 80, centenas de autoridades e instituições já aderiram à campanha:
—O Ipeafro, até o momento, recebeu cópias de mais de cem cartas de endosso à indicação. Além disso, o apelo ao Presidente Lula para que oficialize a indicação como uma iniciativa do Estado brasileiro reúne mais de 500 assinaturas, representando cerca de 300 organizações da sociedade civil brasileira.
Veja aqui a lista dos participantes
A carta de endosso deve ser enviada junto com uma cópia da carta do Professor Clóvis Brigagão, com a referida indicação, e ainda a cópia do curriculum vitae e da produção do Professor Abdias Nascimento, que justifique ser agraciado com o Nobel. A documentação, em inglês, é endereçada a Geir Lundestad; Director, Nobel Institute and Secretary General, Nobel Peace Prize Committee — The Norwegian Nobel Institute Henrik Ibsens Gate — 51 — 0255 OSLO. O material também pode se enviado por e-mail, com a assinatura escaneada, para Geir Lundestad — Director, Nobel Institute and Secretary General, Nobel Peace Prize Committee, no endereço eletrônico gl@nobel.no.
Mais informações podem ser obtidas pelo site da Ipeafro(ipeafro@gmail.com).
História
Abdias Nascimento nasceu em 1914, em Franca-SP. É formado em Economia pela Universidade do Rio de Janeiro (1938) e pós-graduado no Instituto Superior de Estudos Brasileiros(1957).
Em 1938, organizou o Congresso Afro-Campineiro e participou do primeiro movimento brasileiro de direitos civis, a Frente Negra Brasileira (1929-37). Fundou na Penitenciária de Carandiru o Teatro do Sentenciado (1943) e lançou o jornal dos prisioneiros.
Em 1944, criou o Teatro Experimental do Negro, no Rio, organizou o Comitê Democrático Afro-Brasileiro e editou o jornal Quilombo: Vida, Problemas e Aspirações do Negro.
Na Convenção Nacional do Negro (1945-46) propôs à Assembléia Nacional Constituinte a inclusão de um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de Lesa-pátria. Organizou a Conferência Nacional do Negro (Rio de Janeiro, 1949), e o 1º Congresso do Negro Brasileiro (Rio de Janeiro, 1950).
Atuou como curador fundador do projeto Museu de Arte Negra cuja exposição inaugural se realizou no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (1968). Manteve durante décadas contato com os movimentos de libertação africanos e com o movimento pelos direitos civis e direitos humanos dos negros nos Estados Unidos.
Alvo da repressão policial do regime militar quando foi aos Estados Unidos em 1968, não pôde retornar ao Brasil em razão do Ato Institucional nº 5. Durante 13 anos, viveu no exílio nos Estados Unidos e na Nigéria.
Participou de inúmeros eventos internacionais e introduziu a população negra do Brasil em várias reuniões do mundo africano: 6o Congresso Pan-Africano (Dar-es-Salaam, 1974) e reunião preparatória (Jamaica, 1973); Encontro sobre Alternativas do Mundo Africano / 1º Congresso da União de Escritores Africanos (Dacar, 1976); 2º Festival Mundial de Artes e Culturas Negras e Africanas (Lagos, 1977); 1o e do 2o Congressos de Cultura Negra das Américas (Cali, Colômbia, 1977; Panamá, 1980). Neste último, foi eleito vice-presidente e coordenador do 3o Congresso de Cultura Negra das Américas.
Ainda no exílio, desenvolveu extensa obra sobre temas da cultura religiosa da diáspora africana e da resistência do povo negro à escravidão e ao racismo.
Em 1978, voltou ao Brasil e participou de atos públicos e das reuniões de fundação do Movimento Negro Unificado contra o Racismo e a Discriminação Racial (MNU). Participou da criação do Memorial Zumbi, organização nacional de promoção dos direitos civis e humanos da população negra de todo o pais.
Em 1981, fundou o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros(Ipeafro), organizou o 3º Congresso de Cultura Negra nas Américas (1982), o Seminário Nacional sobre 100 Anos da Luta de Namíbia pela Independência (1984), e criou o curso Sankofa, ministrado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1984-95).
Foi o primeiro Deputado Federal negro a defender a causa coletiva da população de origem africana no parlamento brasileiro (1983-86). Atuou em Luanda como consultor da UNESCO para o desenvolvimento das artes dramáticas e do teatro angolanos. Participou da diretoria internacional do Festival Pan-Africano de Cultura (FESPAC) e do Memorial Gorée, sediados em Dacar, Senegal. Participou da diretoria internacional fundadora do Instituto dos Povos Negros, criado em 1987 por iniciativa do Governo de Burkina Faso, com apoio da UNESCO.
Em 1991, tornou-se o primeiro senador afrodescendente a dedicar seu mandato à promoção dos direitos civis e humanos do povo negro do Brasil. O governador do Rio de Janeiro, Leonel de Moura Brizola, o nomeou titular da nova Secretaria de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras (1991-1994). Assumiu em 1999 a nova Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
Participou da organização da participação brasileira na 3ª Conferência Mundial contra o Racismo (Durban, África do Sul, 2001) e no Fórum das ONGs dessa Conferência foi um dos palestrantes principais (Keynote Speaker).
Academia
Abdias do Nascimento é descrito como o mais completo intelectual e homem de cultura do mundo africano do século XX. É Doutor Honoris Causa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Universidade Federal da Bahia; Universidade de Brasília; Universidade do Estado da Bahia; Universidade Obafemi Awolowo, Ilé-Ifé, Nigéria.
É Professor Emérito da Universidade do Estado de Nova York (Buffalo,EUA), onde fundou a Cátedra de Culturas Africanas no Novo Mundo do Centro de Estudos Porto-riquenhos, Departamento de Estudos Americanos. Foi professor visitante na Escola de Artes Dramáticas da Universidade Yale (1969-70); Visiting Fellow no Centro para as Humanidades, Universidade Wesleyan (1970-71); professor visitante do Departamento de Estudos Afro-Americanos da Universidade Temple, Filadélfia (1990-91) e do Departamento de Línguas e Literaturas Africanas da Universidade Obafemi Awolowo, Ilé-Ifé, na Nigéria (1976-77).
Prêmios
Em 2001, o Centro Schomburg de Pesquisa das Culturas Negras, Biblioteca Pública Municipal de Nova York em Harlem, dedica-lhe o Prêmio da Herança Africana Mundial. No mesmo ano recebe o prêmio UNESCO na categoria “Direitos Humanos e Cultura” (2001). Dois anos depois, é agraciado com o Prêmio Comemorativo da ONU por Serviços Relevantes em Direitos Humanos. Em 2004, Ano Internacional de Celebração da Luta contra a Escravidão e de sua Abolição, a UNESCO cria o prêmio único Toussaint Louverture para homenagear Abdias Nascimento e Aimé Cesaire, pela luta contra a discriminação racial. Em 2006, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva o condecora com a Ordem do Rio Branco no grau de Comendador. Em 2007, o Ministério da Cultura lhe outorga a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural; Em 2008, o Conselho Nacional de Prevenção da Discriminação, do Governo Federal do México, outorga-lhe um prêmio pela prevenção da discriminação racial na América Latina. Dois anos depois, recebe do Ministério do Trabalho a Grã Cruz da Ordem do Mérito do Trabalho.
Livros
Abdias Nascimento é autor de dezenas de obras, entre as quais, “O quilombismo”; “Orixás: os Deuses vivos da África”; “A luta afro-brasileira no Senado”; “Brazil: mixture or massacre”; “Povo negro: A sucessão e a Nova República”,”Axés do sangue e da esperança: Orikis”; “Racial democracy” in Brazil: myth or reality”.
*Com informações da Ipeafro