Por Cláudia Souza*
04/04/2014
ABI, fundada pelo jornalista Gustavo de Lacerda comemora seu 106º aniversário nesta segunda-feira, 7 de abril, Dia do Jornalista, em solenidade a ser realizada, às 18h, no Auditório Belizário de Souza, localizado no 7º andar do edifício-sede da Associação, no Centro do Rio.
Diretores, Conselheiros e Associados participarão da cerimônia conduzida pelo presidente da ABI, jornalista José Tarcísio Saboya Holanda, cuja trajetória na imprensa será relatada em um vídeo produzido pela TV Câmara.
A história da fundação da ABI se confunde com a de seu idealizador Gustavo de Lacerda. Criada em 7 de abril de 1908, seu principal objetivo era assegurar à classe jornalística os direitos assistenciais e tornar-se um centro poderoso de ação. Segundo o próprio Lacerda, a Associação deveria ser um campo neutro em que se pudessem abrigar todos os trabalhadores da imprensa.
Lacerda não concordava com a idéia de que os jornais fossem empresas, dando lucro a seus acionistas. Para ele, os jornais deveriam ter uma missão social e funcionar como cooperativas de cujos interesses participassem todos os seus membros, dos diretores aos mais modestos colaboradores.
Visionário, já no programa de fundação da ABI Lacerda expunha reivindicações que só apareceriam na Revolução de 1930. É dele a idéia de manter uma biblioteca aberta ao público, com o objetivo de atender não apenas às necessidades de informação cultural dos jornalistas, mas também a todo o povo da cidade do Rio de Janeiro. Gustavo de Lacerda, Mário Galvão e Amorim Júnior foram incumbidos da elaboração do primeiro projeto de estatuto da ABI.
Prestígio
Após a criação da agremiação, coube à primeira Diretoria a função de consolidar e ampliar a iniciativa, não sem muita luta. Os fundadores eram tratados como indesejáveis e muitos esforços foram gastos com o objetivo de vencer o descaso de uns e a hostilidade de outros. A Associação de Imprensa era composta, segundo alguns céticos da época, por um grupo de malandros chefiados por um anarquista perigoso (Gustavo de Lacerda).
Naquele momento, o meio jornalístico encontrava-se disperso e, portanto, desfavorável a qualquer ideal de solidariedade profissional. Mas em busca de autodefesa e de prestigiar a classe à qual pertenciam, os homens de imprensa foram aderindo à entidade em proporções cada vez mais animadoras — e o prestígio da instituição, consolidando o sonho de Lacerda, se deu com a inscrição no quadro social da Casa de nomes representativos na vida nacional, como o Chefe da Polícia, o Comandante da Polícia Militar, o Prefeito, o Comandante do Corpo de Bombeiros e até o Ministro da Guerra.
Ao longo das duas primeiras décadas de sua existência — quando o Rio de Janeiro era ainda Capital da República —, a ABI acomodava-se em espaços alugados e, em tempos piores, sem condições de pagar aluguel, hospedou-se no Quartel dos Barbonos — mas sem alterar seus princípios originais, nem submeter-se ao Poder Público. Só nos anos 30 o sonho da sede própria configurou-se realidade.
Arquitetura Moderna
Sob a liderança de Herbert Moses, a ABI construiu a sua sede, que representa um marco na arquitetura moderna brasileira. A autoria é dos irmãos Marcelo e Milton Roberto, mas a Revista da Construção Civil, de outubro de 1978, inclui o terceiro irmão, Maurício, como co-autor.
Construído em três anos, de 1936 a 1939, o prédio destaca-se inclusive por ter sido nele utilizada pela primeira vez a solução apresentada pelo renomado arquiteto Le Corbusier para o problema do excesso de luz — o brise-soleil, quebra-sol através de persianas de concreto na fachada — e outras características que marcam a evolução da arquitetura moderna, como estrutura independente, teto-jardim, fachada livre e plano livre.
Barbosa Lima Sobrinho
Outro importante ícone da história da ABI foi Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho, que lutava por ideais nacionalistas e via sua profissão como um meio de levar a população brasileira à conscientização política e social. Em 1926, aos 29 anos de idade, assumiu pela primeira vez a Presidência da Casa. Durante seu quarto mandato, em 1992, foi o responsável direto pelo pedido da abertura do impeachment de Fernando Collor de Mello e o primeiro orador inscrito para defender o processo.
Foi na sede da ABI que se realizaram as reuniões que antecederam a Lei de 1953, que instituiu a Petrobras. Na noite de 1º de agosto de 1988, parlamentares de várias tendências, intelectuais, representantes de entidades da sociedade civil e centenas de populares lotaram o auditório da Associação, numa manifestação em defesa do monopólio estatal do petróleo, contra os contratos de risco e pela nacionalização das riquezas minerais do País. O ato foi presidido por Barbosa Lima Sobrinho.
Em 1976, quando a ABI era uma das entidades da sociedade civil que mais se destacava na defesa das liberdades democráticas, um ato terrorista destruiu o 7º andar do edifício-sede da instituição, onde funcionavam o Conselho, os serviços administrativos e a Presidência. As autoridades nunca conseguiram identificar os autores do atentado a bomba.
Democracia
Ao longo da sua história, a ABI sempre se empenhou pela defesa dos direitos dos jornalistas. No período de dois regimes ditatoriais, com o Estado Novo e o golpe militar de 64, a ABI intermediou a soltura de jornalistas presos e submetidos a inquéritos policiais, acusados de subversão. Foi graças ao empenho da ABI que vários jornalistas exilados puderam retornar ao Brasil antes da anistia. Um deles foi Edmundo Moniz, que presidiu a Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa. Na sede da ABI, foi realizado o ato de protesto contra a morte de Vladimir Herzog e recebidas diversas famílias de jornalistas desaparecidos que procuravam a Associação em busca de ajuda.
Na sede da ABI, em 1988, aconteceu a última reunião do Conselho Federal de Censura, liquidado pela nova Constituição. A despedida aconteceu na Sala Belisário de Souza, na tarde de 28 de setembro de 1988. No mesmo dia o Presidente Sarney assinava o decreto instituindo o Conselho de Defesa da Liberdade de Criação e de Expressão, para o qual foram designados representantes da ABI.
Numa sessão do Conselho Administrativo da ABI, em outubro de 1992 — logo após ter sido aprovado o pedido de impeachment de Fernando Collor de Mello na Câmara dos Deputados —, Barbosa Lima Sobrinho, então Presidente da Casa, relatou uma de suas viagens a Brasília, ocasião em que defendeu na Câmara o pedido de impeachment de Collor, juntamente com o então Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcelo Lavenère. Para Barbosa Lima Sobrinho, a atuação da imprensa no episódio situava-se entre as mais importantes, vigorosas e decisivas registradas na memória da Nação.
*Com ABI