A satisfação de poder unir trabalho e prazer


12/12/2007


José Reinaldo Marques
14/12/2007

O primeiro sentimento diante de uma foto de Lena Trindade é de gratidão. Isso porque suas fotos dão ao espectador uma rara oportunidade de conhecer o Brasil, em imagens que apresentam com singeleza a natureza, a gente e a diversidade cultural do País. Do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, à mata atlântica, ela nos leva também a viajar por territórios inexplorados da fauna e da flora brasileiras.

O ingresso no fotojornalismo aconteceu “por um caminho enviesado”. Primeiramente, Lena foi revisora de um house organ, para o qual depois começou a fazer textos. O veículo, porém, não tinha quem cuidasse do material fotográfico, comprado das agências JB e Globo:
— Então, resolvi fazer um curso, comprei uma máquina e comecei a curtir fotografia. Eu me apaixonei de tal maneira pelo trabalho que nunca mais quis saber de fazer reportagem escrita.

Festas populares

Em 75, ainda eram poucos os cursos de Fotografia no Brasil. Lena começou a aprender os truques do preto e branco no Senac-RJ. Mais tarde, já apaixonada por fotografar a natureza, buscou aperfeiçoamento no Centro de Pesquisa de Arte coordenado por Bruno Tauz e Ivan Serpa. Conheceu também o alemão Claus Meyer, famoso fotógrafo da Agência Black Star, de Nova York, que tinha se transferido para o Rio, onde, no fim dos anos 60, tornara-se o grande inspirador de toda uma geração de profissionais que puseram o pé na estrada em busca das mais belas atrações da natureza:
— Outra grande influência foi Henri Cartier-Bresson, o mestre que a gente seguia.

O espírito aventureiro de Lena também acabou se impondo, levando-a a percorrer as próprias estradas:
— Li no JB uma reportagem sobre uma festa folclórica que ia acontecer no Espírito Santo. Peguei um ônibus e fui sozinha ver de perto a manifestação. Adorei fazer a cobertura! Nasci em cidade pequena, então, quando vi aquela manifestação popular, me encontrei. O tema já rendeu trabalhos para o Museu do Folclore, a Revista Domingo, a Revista Geográfica e a Manchete.

Pássaros

A primeira viagem de Lena Trindade para cobrir uma pauta ambiental aconteceu em 1980, para a Revista Geográfica:
— Fui à Amazônia, onde descobri um prazer enorme em caminhar na mata 20 ou 30 quilômetros. Quando voltei ao Rio, entrei para o Clube de Observadores de Aves, formado por pessoas que se embrenham no mato para observar a vida dos pássaros. Foi assim que me apaixonei ainda mais pela natureza e passei a preterir o elemento humano em minhas fotos.

Casada com o compositor Abel Silva, Lena diz que a música aprisionou-a por um tempo em estúdio, fazendo fotos para capas de discos, e levou-a a registrar muitos shows:
— Houve uma época em que esse tipo de foto de estúdio virou moda, mas ela não me pega. Gosto muito de trabalhar e, se posso juntar o prazer com o trabalho, fico feliz. Por isso resolvi deixar o estúdio e voltar para a natureza. Acordo às três da manhã para fazer fotos de pássaros, porque eles acordam muito cedo. E para fotografá-los é preciso encontrá-los antes que eles despertem.

Um de seus locais prediletos para esse tipo de foto é o Jardim Botânico do Rio, que Lena considera um lugar privilegiado, por ter mais de 130 espécies de pássaros:
— O Jardim Botânico é uma floresta contígua ao Parque Nacional da Tijuca, que é mata atlântica. No momento, o Henrique Rajão (ornitólogo), o Plínio Senna (ambientalista) e eu estamos desenvolvendo um trabalho sobre as espécies de pássaros de lá. É um projeto que está me dando muita alegria e deverá ficar pronto para a comemoração dos 200 anos de fundação do lugar, em 2008.

Favoritas

Em 30 anos de profissão, Lena já fez várias mostras individuais, lançou cinco livros e dois catálogos e tem trabalhos publicados em algumas das mais importantes publicações nacionais e estrangeiras, como o New York Times. Também é autora de matérias especiais que lhe renderam alguns prêmios, entre os quais o primeiro lugar no concurso “Mujeres vistas por mujeres”, da Comunidade Européia (1989), e no Concurso Fotografia Jardim Botânico do Rio de Janeiro (2004) e menções honrosas na Photographic Competition on the Environment — Focus on Your World/Unep e no Concurso Árvores Floridas, do Itaú Cultural, ambos em 2005.

Entre seus trabalhos favoritos, lena destaca as matérias que fez sobre o Jalapão (que abrange os municípios de Ponte Alta do Tocantins, Mateiros, São Félix do Jalapão, Novo Acordo e Aparecida do Rio Novo) e o Parque Nacional das Emas, em Goiás:
— O primeiro é uma área de natureza maravilhosa, desconhecida e interessante, mas muita gente nem sabe onde fica. Já a matéria sobre o Parque das Emas. Ficou saiu nas revistas Manchete, Geográfica e Ícaro e teve grande repercussão.

Insetos e outros bichos que se camuflam nas folhagens para garantir a preservação também a atraem:
— Às vezes há o risco de pisar numa cobra que à primeira vista parece uma folha, noutro olhamos para um galho e não percebemos que é um bicho-pau camuflado. A gente não sabe exatamente quando vai acontecer, mas tudo corre normalmente depois de uma vida freqüentando o mato.   


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