A SAGA DA Petrobrás, DA REVOLUÇÃO DE 30 AOS DIAS DO PRÉ-SAL – Capítulo 7


19/11/2019


Cap.7 / 1940

ROOSEVELT PENSA NUMA

PETROBRÁS NOS ESTADOS UNIDOS

 

A Segunda Guerra Mundial, deflagrada em setembro de 1939, retardou o projeto de pesquisa e produção de petróleo, assim como o de construção de refinarias. Para o Brasil, a guerra impôs como prioridade a siderurgia e tornou impossível o encaminhamento da questão do petróleo.

Em 1940, enquanto as tropas de Hitler avançavam sucessivamente sobre a Dinamarca, a Noruega, a Holanda, o Luxemburgo, a Bélgica e a França, chegou a Nova York o advogado alemão dr. Gerhard Westrick, que se apresentava como simples consultor comercial encarregado de interesses privados. Na verdade sua missão era diplomática, delegada pelo Ministro do Exterior da Alemanha nazista, Joachim von Ribbentrop: convencer empresários americanos, especialmente da indústria do petróleo, a suspenderem os fornecimentos à Inglaterra, a pretexto de que esta já se encontrava na contagem regressiva da capitulação, embora ainda não invadida pela Alemanha.

Com um séquito que incluía seus filhos e a misteriosa baronesa Ingrid von Wagenheim, que também conversava com muitos empresários, o dr. Westrick instalou-se no caríssimo hotel Plaza, com despesas pagas por uma das futuras Sete Irmãs do cartel petroleiro, a Texaco, que lhe pôs também à disposição um escritório em sua sede em Nova York. Os honorários e outras despesas do dr. Westrick eram pagos pela Texaco e também, provavelmente, pela ITT, a gigante americana da telefonia de longa distância. (Na Alemanha, o dr. Westrick era advogado tanto da Texaco quanto da ITT.)

Entre outros empresários, o dr. Westrick e a baronesa Ingrid conversaram com Henry Ford, o maior dos fundadores e um dos maiores magnatas da indústria automobilística, cujo antissemitismo obsessivo despertava enormes esperanças em agentes alemães como o dr. Westrick e a baronesa, pagos por empresas americanas poderosíssimas para a promoção, em território norte-americano, de ações pró-nazistas que não agrediam apenas a Inglaterra: a prazo um pouco mais longo, agrediriam os próprios Estados Unidos.

O argumento principal dos dois agentes nazistas era que a guerra poderia terminar em três meses se as empresas americanas estrangulassem a Inglaterra, impedindo-a de resistir, uma vez suspensos os fornecimentos norte-americanos de caráter estratégico, como o petróleo.

Alemães como eram, o dr. Westrick e a baronesa trabalhavam em defesa de sua pátria. Já o apoio e o financiamento que recebiam, de dirigentes de empresas sediadas nos Estados Unidos, como a Texaco e a ITT, só poderia ser qualificado de traição – e assim o seria, por um futuro Presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman, que era senador e presidiu uma comissão parlamentar de inquérito sobre o comportamento das grandes companhias petrolíferas norte-americanas nesse período.

A chegada e a atuação do dr. Westrick e sua baronesa não foram nem o primeiro nem o único episódio nesse processo de atos de traição.

Em 1926, a Standard Oil assinara um acordo com a I. G. Farben, alemã, do setor químico, para a troca de pesquisas e patentes. Os americanos da Standard Oil estavam especialmente impressionados com os progressos da indústria alemã na produção de óleo a partir do carvão (a Alemanha não tinha petróleo) e nas pesquisas que levavam ao desenvolvimento da borracha sintética. A Alemanha de 1926, ainda dobrada ao peso de sua reconstrução e das reparações impostas pelos países aliados vencedores da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), preferia cooperar a competir. Pelo acordo de 1926, a I. G. Farben ficaria fora da indústria do petróleo, o que preservava o mercado alemão de derivados para a Standard Oil, e esta ficaria fora da indústria química.

A chegada de Hitler ao poder, em 1933, não interrompera a cooperação entre as duas empresas. Foi depois disso que os alemães tiveram acesso às patentes do chumbo tetraetila, essencial para os aviões que dependiam de combustível de cem octanas – e para o estabelecimento do poderio militar da Luftwaffe, a força aérea do Terceiro Reich. Mesmo depois disso e do agressivo rearmamento alemão empreendido por Hitler, a Standard Oil absteve-se de realizar pesquisas sobre a borracha sintética, confiando que Hitler permitiria à I. G. Farben fornecer sua tecnologia aos americanos.

Pior ainda: depois dos avanços militares realizados por Hitler na Europa, com a anexação da Áustria e a invasão do território sudeto da então Tchecoslováquia, a Standard continuou a prestar informações vitais à Alemanha.

A Standard Oil tinha sede nos Estados Unidos e os Rockefeller, seus controladores, eram cidadãos americanos, com deveres para com os Estados Unidos. A Shell era um grupo sediado na Inglaterra e na Holanda – e tinha deveres para com a Holanda, que a Alemanha invadiria já em maio de 1940, e com a Inglaterra, que Hitler fazia tudo para invadir. Acontece, porém – como conta o jornalista britânico Anthony Sampson em seu livro As Sete Irmãs – que o presidente da Shell, Henri Deterding, holandês de nascimento, fora casado com uma aristocrata russa emigrada, que estimulara ainda mais seu anticomunismo já visceral. O anticomunismo não levou Deterding a tornar-se um democrata radical, mas a simpatias pelo nazismo, que se tornaram verdadeiro fanatismo quando, em 1936, ao completar 70 anos, ele se casou mais uma vez, com uma alemã também nazista.

Deterding afirmava, em público, que os nazistas eram a única solução capaz de enfrentar e liquidar o perigo comunista. Por isso e por esse casamento, acabou afastado, pela maioria dos acionistas, da direção da Shell, que exercera por trinta anos. Mas não sossegou.

Deterding instalou-se, com a mulher nazista, numa propriedade em Mecklenburg, na Alemanha. Embora aposentado, viajava frequentemente à Holanda, para estimular e articular o estreitamento das relações entre os holandeses e a Alemanha nazista. Deterding tornou-se tão simpático aos grandes chefes nazistas que, quando morreu, em março de 1940, seis meses depois da eclosão da Segunda Guerra Mundial, Hitler e Goering mandaram coroas a seu funeral.

Além da Shell e da Standard Oil, uma terceira das futuras Sete Irmãs, a Texaco, americana como a Standard Oil, também se envolvera a fundo com a Alemanha nazista, bem antes da visita do dr. Westrick aos Estados Unidos.

Em 1937, durante a Guerra Civil Espanhola, petroleiros da Texaco, carregados de óleo cru destinado à Bélgica, foram desviados da rota e desembarcaram sua carga em portos da Espanha controlados pelas tropas rebeldes do General Franco.

Os Estados Unidos, assim como a Inglaterra e a França, tinham-se declarado neutros em face da situação da Espanha (quando o certo teria sido apoiarem o governo republicano eleito, contra a rebelião de ultradireita e pró-nazista liderada por Franco), enquanto a Alemanha de Hitler e a Itália fascista apoiavam abertamente os rebeldes contra a república espanhola.

Roosevelt mandou advertir o presidente da Texaco, Torkild Rieber, de que a empresa poderia ser processada por violação da neutralidade e conspiração. Não adiantou. A Texaco deixou de desembarcar petróleo em portos na Espanha e passou a desembarcá-lo na Itália de Mussolini, que o entregava às forças rebeldes de Franco. Com a Itália, o governo dos Estados Unidos mantinha relações diplomáticas e comerciais normais – não havendo como impedir essas operações da Texaco.

A Texaco, além disso, concedeu ao General Franco créditos no valor de 6 milhões de dólares, para pagamento depois de terminada a guerra civil, e destinados à compra de petróleo. Era muito dinheiro e muito petróleo. Basta considerar que já em 1973, trinta anos depois, a cotação internacional estava em 3 dólares o barril, preço que precia eterno, vigorara por muito tempo e só então seria abruptamente elevado para 13 dólares no primeiro dos chamados choques do petróleo. Supondo que fosse esse e não menor que esse o preço do petróleo na época da Guerra Civil espanhola, os 6 milhões de dólares de crédito ao General Franco permitiriam a compra de pelo menos 2 milhões de barris, sem qualquer pagamento à vista.

Com a ajuda econômica e militar da Alemanha e da Itália, especialmente com as tropas de terra da Divisão Azul alemã e os ataques aéreos da Luftwaffe do Marechal Goering, a neutralidade dos governos dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França e o petróleo da Texaco, Franco derrotou e destruiu a república espanhola, fazendo da Espanha uma aliada de Hitler – e da Península Ibérica um território que poderia ser facilmente ocupado pelo Terceiro Reich para servir de base a operações alemãs contra a Inglaterra, contra a França e até contra os Estados Unidos.

Torkild Rieber, o presidente da Texaco, estava decidido também a ajudar Hitler diretamente. Por um primeiro acordo, ele se comprometeu a fornecer à Alemanha petróleo produzido na Colômbia. Iniciada a guerra, Rieber contornou o bloqueio britânico decretado contra a Alemanha mandando seus navios carregados de petróleo a portos de países neutros. Na impossibilidade de retirar da Alemanha o dinheiro desses carregamentos, Rieber aceitou receber em pagamento três navios que estavam em Hamburgo. Os nazistas gostaram e Rieber foi encontrar o Marechal Goering em Berlim.

A pedido de Goering, Rieber viajou a Washington em janeiro de 1940 para apresentar a Roosevelt um plano de paz que previa a rendição da Inglaterra. Nesse momento, Hitler já invadira e dominara a Polônia, com o apoio da União Soviética. Mas ainda não atacara a Europa Ocidental, o que só faria a partir de abril de 1940, com a invasão, sucessivamente, da Dinamarca, da Noruega, da Holanda, da Bélgica, do Luxemburgo e da França. Se a Inglaterra não se rendeu nem depois da queda da França, não seria em janeiro, muito antes disso e quando ninguém poderia acreditar na derrocada francesa, que ela o faria. Roosevelt, naturalmente, ignorou a proposta e fez mais, aconselhando Rieber, que presidia uma empresa americana, a “cortar sua conexão nazista”.

Rieber não aceitou o conselho e em seguida mandou o dr. Westrick aos Estados Unidos, com a missão de atrair empresários americanos para a posição alemã, de modo a enfraquecer a posição de Roosevelt, que ainda era de neutralidade.

Era tal o envolvimento dos grandes grupos multinacionais com a Alemanha de Hitler que a viagem e os contactos do dr. Westrick foram organizados pelo coronel Sosthenes Behn, presidente da ITT (Westrick advogava para a ITT e a Texaco na Alemanha). O coronel Behn, cidadão americano, era visitante habitual da Alemanha de Hitler e interlocutor frequente dos figurões do Terceiro Reich. Cheio de boa vontade, também ele, para com os chefões do nazismo, o coronel Behn foi à Holanda e à Alemanha, em plena guerra, para organizar a missão do dr. Westrick.

É incrível que homens como esses, de olhos e garras de águia, não contassem com atos de resistência e represálias a suas iniciativas – e muito menos com a competência e a determinação dos adversários.

Na Europa dominada por Hitler, a Inglaterra ficara praticamente sozinha depois da queda da França, em junho de 1940. Mas ela sabia que poderia contar com o apoio de Roosevelt, o que ainda não significava o apoio total e incondicional dos Estados Unidos. A maioria do Congresso norte-americano era isolacionista e opunha-se à entrada dos Estados Unidos na luta contra Hitler. Boa parte da imprensa tinha a mesma atitude (a televisão ainda era inexpressiva e o rádio não dispunha de influência proporcional a seu público enorme), e muitos empresários estavam em dúvida.

Dos que não estavam, sobressaía a figura de Henry Ford, antissemita em tal estado de delírio que financiara a publicação em grande escala de um livro infamante, Os protocolos dos sábios de Sião, sobre uma suposta conspiração judaica para o domínio do mundo. A autoria do livro era atribuída a alguns dos cérebros dessa inexistente conspiração, mas na verdade ele fora produzido, décadas antes, pela polícia secreta czarista, na Rússia, para justificar a perseguição, a deportação e o massacre dos judeus, em sucessivos pogroms, por ela própria engendrados ou diretamente executados.

Agora Henry Ford vivia tomado pelo delírio de que as sociedades secretas judaicas que ele próprio ajudara a construir na imaginação, e apenas nela, dos leitores mais crédulos dos Protocolos, iriam assassiná-lo a sangue frio.  Não foi por acaso que o dr. Westrick e sua baronesa Ingrid procuraram Henry Ford nos Estados Unidos.

Certamente com a concordância e a cobertura de Roosevelt, a Inglaterra mantinha nos Estados Unidos, sob a chefia do futuramente famoso Sir William Stephenson, um dispositivo de seu não menos famoso e eficiente serviço secreto. Como saberíamos muito tempo depois pelas aventuras de outro agente secreto britânico, James Bond, código 007, personagem de ficção mas não tanto, Stephenson teria até licença para matar – ou poderia sequestrar e mandar preso para a Inglaterra o dr. Westrick e a baronesa Ingrid. Mas preferiu uma solução mais inteligente politicamente: desmascarar o agente alemão, despertar os jornais, mostrar à opinião pública norte-americana o perigo e o caráter traiçoeiro da ação nazista, alertar empresas do porte da Standard Oil e da Texaco e empresários do poder de Henry Ford da vocação suicida de suas atitudes e iniciativas.

Sir William Stephenson era muito experiente em ações de guerra política e psicológica, o que não acontecia com empresários ambiciosos e míopes como o coronel Behn, da ITT, e Torkid Rieber, da Texaco, ou paranoicos como Deterding, da Shell, e Henry Ford. Sir William conseguiu que um dos jornais mais influentes dos Estados Unidos, o New York Herald Tribune, denunciasse a presença, a identidade, os objetivos e as ações do dr. Westrick.

Expulsos dos Estados Unidos, o dr. Westrick e sua baronesa tiveram de dar a volta ao mundo. Sairam não de Nova York, no Atlântico, para a Europa e a Alemanha, mas de onde estavam, em São Francisco, na costa do Pacífico, para o Japão, e do Japão, via Sibéria, tomaram o caminho de Berlim. Rieber, naturalmente, teve de renunciar à presidência da Texaco, como antes Deterding fora afastado da presidência da Shell.

No mesmo momento em que dava apoio ao governo brasileiro para a construção de Volta Redonda, o que demonstrava a confiança que tinha na ação de Getúlio, o governo dos Estados Unidos estava processando a Standard Oil, com base na lei antitruste, “por ter feito acordos restritivos com a I.G.Farben”.

– A verdade – escreveu o jornal PM, de Nova York – é que Adolf Hitler usou e continua usando cidadãos norte-americanos e as próprias leis norte-americanas para o avanço da causa nazista neste hemisfério.

Quando a guerra começou, em setembro de 1939, o governo americano constatou que os alemães não tinham transmitido a tecnologia nem permitido a fabricação de borracha sintética nos Estados Unidos.

– Nós (os Estados Unidos) – diria o então Procurador Geral assistente Wendell Berge – não tínhamos experiência, informação ou know how e não tínhamos obtido permissão da Alemanha para fabricar borracha sintética. O governo dos Estados Unidos não tinha conhecimento desses fatos. Os termos do acordo Standard Oil-I.G. Farben eram secretos. Poucas semanas antes do ataque japonês a Pearl Harbor [dezembro de 1941], a Goodrich e a Goodyear foram impedidas, pelo poderio combinado da Standard Oil e da I. G. Farben, de produzir borracha sintética nos Estados Unidos.

Do Ministério da Justiça, que realizara a investigação de abertura do processo, o caso Standard Oil-I.G. Farben passou a uma comissão do Senado encarregada de investigar questões de defesa nacional e presidida pelo então senador e futuro Presidente Harry Truman.

A Standard Oil foi acusada de omissão no caso da tecnologia da borracha sintética, omissão que deixaria os Estados Unidos em situação dificílima no momento em que, mais adiante, depois do ataque à base norte-americana de Pearl Harbor, os japoneses passaram a ocupar as plantações de seringueira da Malásia. Depois de uma audiência da comissão do Senado, um repórter perguntou a Truman se considerava traição os acordos da Esso com a I.G. Farben.

– Sim – respondeu o senador – que mais poderiam ser?

Deve ter sido nessa altura que os Estados Unidos se voltaram para o Brasil, onde o governo Vargas organizou o chamado Exército da Borracha, com o qual se pretendia transformar a economia extensiva da borracha, na Amazônia, numa economia intensiva, como na Malásia, para atender à demanda do mercado e das forças armadas norte-americanas.

Deve ter sido também nesta altura que Roosevelt pensou pela primeira vez em criar uma empresa petrolífera estatal, controlada pelo governo, uma Petrobrás dos Estados Unidos, para fazer frente aos grandes consórcios privados que deixavam não só o governo mas o conjunto dos Estados Unidos, sua sociedade, sua economia, sua segurança, nas situações em que agora se descobriam a cada momento: fornecendo petróleo a Franco, na Espanha, e à própria Alemanha em guerra com  a Inglaterra e a França; privados de borracha natural pelo avanço do Japão nas plantações do Sudeste da Ásia, e de borracha sintética pelos acordos secretos entre a Standard Oil e a Alemanha nazista; e palco de conspirações como a do dr. Westrick, financiado pela Texaco e pela ITT para tramar com empresários americanos, como Henry Ford, a paralisia do governo dos Estados Unidos e a capitulação da Inglaterra.

Não será fora de propósito considerar que a solução adotada dez anos depois por Getúlio para a questão do petróleo brasileiro – a Petrobrás – tenha sido remotamente influenciada pelo que Roosevelt e os Estados Unidos sofriam nesse momento e pelo projeto que Roosevelt discutiu seriamente com seus assessores, de criar uma empresa petrolífera controlada pelo governo, talvez nos moldes da British Petroleum, existente na Inglaterra desde a época da Primeira Guerra Mundial.

Com a entrada dos Estados Unidos na guerra, em dezembro de 1941, a criação dessa estatal tornou-se desnecessária, porque Roosevelt passou a ter poderes de emergência para enquadrar qualquer empresa que tivesse operações nos Estados Unidos e para defender os interesses nacionais dos Estados Unidos não só contra a agressão por parte de governos e consórcios estrangeiros, mas também contra os ataques das próprias empresas americanas por tanto tempo acumpliciadas com a Alemanha de Hitler.

Em 1945, terminada a guerra, Getúlio planejava aplicar na construção das primeiras refinarias brasileiras de petróleo o saldo comercial que o Brasil acumulara ao longo da guerra – de 700 a 800 milhões de dólares em valores da época, muitos bilhões em dinheiro de hoje. Getúlio, porém, foi deposto em outubro, cinco meses depois da rendição da Alemanha, seis meses depois da morte de Franklin Delano Roosevelt. Talvez para não ter a possibilidade de fazer isso…

Tanto que o primeiro ato do novo governo, chefiado pelo Presidente José Linhares, foi abrir a interesses estrangeiros a indústria de refinação de petróleo, publicando no Diário Oficial uma resolução nesse sentido do Conselho Nacional de Petróleo, para a qual o presidente desse órgão, coronel João Carlos Barreto, vinha pedindo sem resultado a autorização de Getúlio.

Em 1946, a Assembleia Nacional Constituinte, cuja eleição fora convocada por Getúlio em 1945, concluía seus trabalhos e votava a Constituição de setembro desse ano, muito influenciada por forças absolutamente estranhas. Como escreveu Moniz Bandeira em  Presença dos Estados Unidos no Brasil:

– A Assembleia Constituinte elaborou a nova Carta Magna  sob pressão dos trustes americanos, notadamente a Standard Oil … e a ITT. O artigo 5º., sobre a concessão dos serviços de telégrafos e telecomunicações, interessava à ITT. Os artigos 151, 152 e 153, sobre a propriedade do subsolo e o aproveitamento industrial das minas e jazidas, inquietavam a Standard Oil. Um cidadão americano, chamado Paul Howard Schoppel, chegou ao Rio para acompanhar os trabalhos da Constituinte. Hospedou-se no Hotel Glória. O ex-Presidente da República e Senador Arthur Bernardes denunciou-o. Schoppel era agente da Standard Oil. Tinha como objetivo a modificação do que dispunha a Constituição do Estado Novo sobre a exploração do petróleo. E conseguiu. O art. 153 da nova Constituição saiu conforme os seus desígnios.