22/05/2009
Com a exibição do documentário “Bolívia — A guerra do gás”, do diretor Carlos Pronzato, nesta quinta-feira, 21 de maio, o Cine ABI reabriu a sua programação retomando a parceria com o Cineclube da Casa da América Latina, para a exibição, em sessões gratuitas, até dezembro, de filmes que retratam a realidade do continente latino-americano, conforme explicou Mário Augusto Jakobskind, membro do Conselho Deliberativo e da Comissão de Direitos Humanos e Liberdade de Expressão da ABI:
— O objetivo é mostrar filmes que possibilitem um conhecimento maior sobre a América Latina em termos culturais. A integração entre os Países latinos se dá principalmente pela aproximação cultural, e não somente através do contato político e econômico. Vamos passar filmes de difícil acesso, que estão fora dos circuitos comerciais.
Mário Augusto antecipou alguns títulos que serão exibidos ao longo do ano:
— Pretendemos exibir o cubano “Memória do subdesenvolvimento”, de Tomás Gutierrez Alea, registro precioso da revolução socialista de Fidel; e “Estado de sítio”, de Costa Gravas, ambientado no Uruguai. O filme aborda o seqüestro e o assassinato de Dan Mitrione, agente norte-americano que prestava assessoria às polícias políticas do continente latino-americano, pelo grupo guerrilheiro Tupamaros. O mais interessante é que um dos integrantes do grupo na época, Pepe Mojica, é hoje cotado para ser o candidato da Frente Ampla para a Presidência do Uruguai nas próximas eleições de novembro. O mundo dá voltas.
Movimento
“Bolívia — A guerra do gás”, também mostra uma reviravolta política naquele País, no ano de 2003, quando diversos movimentos sociais se mobilizaram para derrubar o então Presidente Gonzalo Sanches (Goni), acusado de entregar o monopólio do gás boliviano a empresas estrangeiras.
O processo destituiu-o do poder e abriu caminho para a eleição de Evo Morales, indígena pertencente à etnia Aymará, que participou ativamente do movimento:
— Se dependesse das elites bolivianas os hidrocarbonetos continuariam sob controle estrangeiro. Mas o povo assumiu a luta e tomou posição contra a exportação do gás para os EUA, em detrimento do abastecimento interno, que era deficitário, afirmou Mário Augusto.
Hoje, segundo o Conselheiro da ABI, o ex-Presidente Gonzalo Sanches — que desde a sua deposição mora nos Estados Unidos — está sendo processado pela Justiça boliviana. Ele é acusado de ter cometido um massacre que deixou 80 mortos e mais de 400 feridos, na cidade de El Alto, periferia de La Paz, quando investiu sem piedade suas forças militares contra os manifestantes, que saíam às ruas em massa com cartazes onde se lia: “Fuzil! Metralha! O povo não se cala!”, “Fora Goni!” e “Goni assassino!”.
Presente à sessão especial do Cine ABI estava a enfermeira aposentada Hercília Mendes, que freqüenta ativamente o roteiro cinematográfico do Centro do Rio e nutre interesse sobre questões latino-americanas. Ela aplaudiu a parceria do Cine ABI e do Cineclube da Casa da América Latina:
— É muito importante que filmes como este (“Bolívia — A guerra do gás”) sejam exibidos gratuitamente ao público, pois somos latinos e devemos estar atentos ao que acontece com nossos irmãos vizinhos, principalmente agora que os movimentos sociais estão tomando corpo no continente.
Retorno
Para o Diretor de Cultura e Lazer da ABI, Jesus Chediak, o momento por que passa a América Latina hoje constitui “um retorno da busca da utopia socialista”:
— Portanto, neste contexto histórico, é fundamental refletirmos sobre a realidade do nosso continente por meio do cinema. O filme de hoje, por exemplo, mostra a luta boliviana para se libertar da pobreza e prosseguir em busca da prosperidade para o seu povo, que tem uma das heranças culturais mais antigas do continente, que é a indígena.
As sessões semanais do Cine ABI são realizadas sempre às quintas-feiras, a partir das 19h, na Sala Belizário de Souza, localizada no 7º andar do edifício-sede da ABI (Rua Araújo Porto Alegre, 71 — Centro do Rio). A entrada é franca.