A primeira ida à China a gente nunca esquece


04/09/2024


Por Malu Fernandes (*)

Fui para a China representar a ABI com o Diretor de Jornalismo da entidade, Moacyr de Oliveira Filho, e a presidente da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas), Samira de Castro, pensando no que alguns amigos que estiveram lá haviam me contado e no que lemos sobre o país, e volto impressionada com valores e perspectivas que vi nas conversas com chineses e com jornalistas de associações e federações de nais de 50 países – vários deles acompanhando os avanços em dezenas de visitas nos últimos anos.  Participamos do Fórum de Jornalistas da Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt And Road Iniciative), realizado de 26 a 31 de agosto, em Chongqing, pela All- China Journalists Association – ACJA, uma plataforma de network com representantes dos países participantes da iniciativa com objetivo de trocas e cooperação para mútuos benefícios, aprendizados e confiança. A ABI agora é membro da IHJ (Internacional Home of Journalists).

A Iniciativa do Cinturão e Rota, também conhecida como a Nova Rota da Seda, criada em 2013, faz parte desse ambicioso projeto de desenvolvimento promovido pela China. Ela reúne áreas de negócios entre a China, Ásia Central, Europa, Oriente Médio, África e  Américas Central e do Sul, com jornalistas do Cazaquistão à Arábia Saudita, das Ilhas Maurício ao Brasil. O crescimento da China está acelerado e o mundo precisa construir estradas, ferrovias, portos e infraestrutura para avançar rumo ao próximo nível. Esses são novos mercados para todos, especialmente para os menos desenvolvidos, que precisam de investidores para torná-los realidade. A Nova Rota da Seda tem potencial de criar empregos e inclusão social, além de transformar a economia e a geopolítica do mundo.

Nicolas Zhang, responsável pelos assuntos latino-americanos da Associação de Jornalistas All- China Journalists Association – ACJA, expressou sua vontade de fortalecer intercâmbio com as organizações de imprensa do Brasil e realizar visitas da mídia chinesa ao Brasil. “Há muitas oportunidades e desafios para os jornalistas especialmente na área de inteligência artificial”, disse. Para Zhao Tao, do departamento internacional da ACJA, nosso “anjo da guarda” em Chongqing, “jornalistas de mais d 50 países diferentes se tornaram bons amigos”, trocando opiniões sobre mídia, preservação cultural, ciência, tecnologia e desenvolvimento econômico.

Mai Alsharif, da Associação Saudita de Jornalistas

Uma das minhas mais novas amigas é Mai Alsharif, membro da Associação Saudita de Jornalistas. “Dependemos uns dos outros para navegar no ambiente interconectado de hoje. Esperamos ansiosamente por mais colaborações entre nossas associações de jornalistas, já que o relacionamento sólido entre a Arábia Saudita e o Brasil continua a se desenvolver e prosperar”, atestou a jornalista. Por conta disso tudo que vivemos ao longo da semana, fomos entrevistados por vários jornalistas chineses. Uma delas, Mengran Liao, repórter da Chongqing TV, observou que os jornalistas brasileiros demonstraram grande interesse pela história, cultura, natureza e tecnologia de Chongqing durante as visitas. “Uma jornalista, Malu Fernandes, ficou particularmente entusiasmada quando teve a chance de experimentar o recurso de estacionamento automático na Changan Automobile. Ela participou com entusiasmo do test drive”, informou, mencionando a entrevista em que falei sobre haver visitado muitos lugares, mas nunca ter visto tecnologia tão avançada.

Aprendi que os chineses veem o cavalo como um símbolo de fidelidade, a papula significa persistência para eles e a orquídea humildade, um estilo de vida que não busca a fama. Não sabia nada disso e foi um dos aspectos que destaquei em um artigo solicitado pelos organizadores para o fim da viagem. Vimos ao vivo e a cores que esse antigo modo de vida foi combinado com o sonho de um nacionalista, Deng Xiaoping, que, em 1978, começou a reverter o curso político, econômico e social de Mao Tsé-Tung, que controlava o Partido Comunista Chinês e o governou até sua morte em 1976.

Wang Rong, prefeita do distrito de Rongchang,

De acordo com a prefeita do distrito de Rongchang, Wang Rong, que entrevistamos, os desafios para os próximos anos são: “Como transformar a cultura em algo que possa criar trabalho e gerar empregos”, antecipou a gestora pública, lembrando que o antigo líder costumava dizer que ‘a cultura é o espírito da nação’.  Vejo oportunidade de mostrarmos como desenvolvemos no Brasil a economia da cultura, o número de empregos que geramos e o quanto podemos desenvolver ainda mais com o apoio de empresas chinesas que aumentam cada dia mais no Brasil.

Já viajei para cerca de 50 países, tendo estado em vários deles muitas vezes, e posso dizer: minha geração nunca verá nada tão impressionante quanto o que a China fez nos últimos 40 anos e está realizando em termos de planejamento para o futuro e de inovação.  O país mostra que é possível fazer sonhos virarem realidade neste curtíssimo tempo. Basta aprender a lição que falta por aqui e em muitos países: planejamento, visão de longo prazo, amor pela nação, sonho e perseverança. A China está escrevendo um novo capítulo no desenvolvimento econômico mundial, tem empresas instaladas em muitos países, sendo a parceira número um de vários deles, inclusive do Brasil. Há possibilidade de surfarmos juntos para expandirmos o caminho das oportunidades de novos negócios e compartilharmos um futuro brilhante, como foi o tema do fórum de jornalistas. Nesta semana mesmo começo a aprender mandarim e recomendo que façam o mesmo. Será meu segundo passo. O primeiro foi ir à China e ver de perto esta inovação sem precedentes.

(*) membro do Conselho Deliberativo da ABI