Ao abrir nesta sexta-feira, 26 de março, a convite do Itamarati, a discussão do tema “Ampliação da língua portuguesa nos meios de comunicação de massa” pelos participantes da Conferência sobre o Futuro da Lingua Portuguesa, o jornalista Tarcísio Holanda, Vice-Presidente da ABI, destacou a importância da internet em qualquer esforço que se faça para a difusão do idioma no Brasil e no mundo. Ele defendeu a difusão da língua portuguesa na Europa, na Ásia e por toda a América, bem como no interior dos próprios países que têm o português como idioma.
A exposição de Tarcísio Holanda foi feita na Sala San Tiago Dantas do Ministério das Relações Exteriores perante os delegados dos países de língua estrangeira representados na Conferência e de interessados em questões culturais convidados pelo Itamarati. Após sua intervenção, seguiram-se os debates, tendo como elemento condutor as observações que ele fez, como ao salientar a contribuição que a televisão, através, por exemplo, de minisséries, tem oferecido para o conhecim ento da obra de importantes autores, como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Rubem Fonseca e João Cabral de Melo Neto.
O TEMA, UM DESAFIO
Com intertítulos da Redação do Site da ABI, foi esta,na íntegra, a exposição de Tarcísio Holanda:
“Como Vice-Presidente e representante da Associação Brasileira de Imprensa, estou muito feliz em poder me comunicar com os senhores na língua de Luís Vaz de Camões, Machado de Assis, Xanana Gusmão, Agostinho Neto, Pepetela e Craveirinha, Amílcar Cabral, entre muitos outros, e da poetisa Alda Neves da Graça do Espírito Santo, heroína da libertação de São Tomé e Príncipe, que nos deixou recentemente. Uma língua que se enriquece no Brasil, na África, em Portugal e no Extremo Oriente.
A difusão pública da língua portuguesa constitui um tema bastante vasto e um permanente desafio para os Estados nacionais dos países que integram a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). É legítimo o desejo de que o idioma português se expanda e se fortaleça em todo o mundo, mas essa perspectiva só veio a surgir no horizonte, de maneira mais nítida, a partir do momento em que Brasil e Portugal assinaram o Acordo Ortográfico, que abre caminho para que só exista uma língua portuguesa, assim como só existe uma língua inglesa ou uma língua espanhola. Os países que falam esses dois idiomas podem manter algumas poucas diferenças, mas não tantas como as que ainda existem entre o idioma falado e escrito em Portugal e aquele que se fala e se escreve no Brasil.
A língua portuguesa nasceu na antiga Gallaecia romana (a parte da Lusitânia situada ao norte do Rio Douro e que abrangia a Galiza e a Província de Entre-Douro-e-Minho) e teve origem no galaico-português, que resultou da evolução do latim no noroeste da Península Ibérica. A difusão universal do português verificou-se nos Séculos XV e XVI, no auge das grandes navegações do império de Portugal, tempo em que o idioma esteve a serviço de uma vasta política de domínio econômico, de investigação científica e de evangelização cristã. Convém recordar que os primeiros dicionários e gramáticas surgiram no século XVI, para uso dos missionários (na década de oitenta desse século apareceu o primeiro Dicionário Português-Chinês, atribuído aos padres Ruggiri e Ricci).
No início do século XXI, extinto seu império colonial, Portugal decidiu não se confinar ao restrito espaço territorial europeu e aceitou o desafio de partilhar com o Brasil e os países africanos de língua oficial portuguesa um patrimônio comum, a língua portuguesa. Esse instrumento de comunicação com as imensas virtualidades da língua, servindo a cerca de 250 milhões de falantes, possui um incalculável potencial de solidariedade humana e de cultura, de política e de economia. É notório que o idioma é um dos grandes valores do patrimônio histórico das nações, a base da relação permanente entre os indivíduos e de relacionamento entre os povos.
O PORTUGUÊS NO MUNDO, HOJE
O português é a sexta língua mais falada no mundo, a terceira mais falada no Ocidente, vindo logo depois do inglês, que se transformou em idioma universal, e do espanhol. Parece lógico e racional aproveitar essa indiscutível fase de expansão política e econômica do Brasil no mundo para estimular a penetração do idioma português não apenas entre as nações que constituem a CPLP, mas na Europa, na Ásia e por toda a América. Para isso, é fundamental conjugar os esforços dos Estados, das instituições e da sociedade para garantir a maior difusão do português dentro de nossos respectivos países e no mundo inteiro.
Voltemos ao nosso tema central, que é A difusão pública da língua portuguesa: Ampliação da difusão da língua portuguesa nos meios de comunicação de massa. Temos os jornais, o rádio e a televisão, os meios clássicos de comunicação, agora acrescidos da internet, que abre perspectivas revolucionárias no universo das comunicações no Brasil e no mundo. Temos a responsabilidade histórica de prosseguir na defesa, valorização e promoção do idioma de Camões e Machado de Assis, de Pepetela e Craveirinha, Mia Couto, Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Xanana Gusmão.
A EXPERIÊNCIA DA TV
Precisamos começar a difusão do português dentro de nossos próprios países para tornar mais robusta e consistente a sua penetração no mundo. No Brasil, temos algumas experiências vitoriosas na televisão. É justo reconhecer o papel importante que tem desempenhado a TV Globo, com suas novelas e minisséries, algumas que se tornaram legendárias, como o afeto ou o amor de Riobaldo e Diadorim, os dois jagunços retirados de Grande Sertão – Veredas, o romance clássico do mineiro João Guimarães Rosa.
Ou a trama tecida por Machado de Assis no seu clássico romance Dom Casmurro, entre Capitu e Bentinho, a história nada explícita, algo misteriosa, de uma traição que não se declara. Também virou mini-série. Assim como o suicídio de Getúlio Vargas, segundo Agosto, de Rubem Fonseca, ou Morte e Vida Severina, triste e belo poema do pernambucano João Cabral de Melo Neto.
São avanços que estão a favor de nossa cultura. Mas há retrocessos, como a invasão da cultura norte-americana no rádio e na televisão, impondo expressões e até hábitos que nada têm a ver com as nossas tradições. Existem os jornais, os mais importantes, sem dúvida, no eixo Rio-São Paulo, como O Globo e O Estado de S. Paulo. Porém, há algumas fortes expressões regionais, como Zero Hora, em Porto Alegre, Gazeta do Paraná, em Curitiba, A Tarde, na Bahia, o Jornal do Comércio, de Recife, o Diário do Nordeste, em Fortaleza, para citar alguns.
NA INTERNET, 66 MILHÕES
E há a internet. O Brasil é o quinto país do mundo na internet. São 66 milhões de internautas. Segundo o Ibope, os brasileiros são os que ficam mais tempo diante da internet. Este é o novo e revolucionário veículo, que terá papel importante em qualquer esforço que se faça para a difusão da língua portuguesa. O livro eletrônico já está sendo lançado e é o mercado mais promissor. Em um só Kindle – nome de fantasia da Amazon – podem estar centenas de clássicos, desde A Divina Comédia, de Dante, a tragédias de Shakespeare, obras de Maquiavel e de Aristóteles, entre outros.
Alguns jornais do mundo já estão nesses livros eletrônicos. Do Brasil, até agora, só O Globo. Qualquer programa de difusão da língua portuguesa terá que atribuir grande importância ao papel que a internet poderá desempenhar nesse esforço, junto com os jornais e as emissoras de rádio e televisão.
Finalmente, espero que com este e outros encontros possamos lançar pontes ainda mais firmes e consistentes para consolidar as relações entre os países de expressão portuguesa. Devemos compartilhar nossas experiências para que a nossa língua seja a nossa Pátria comum, como canta o brasileiro Caetano Veloso. Se a Pátria é a nossa língua, nosso espaço no mundo cada vez mais globalizado é a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa-CPLP.
Muito obrigado.”
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