06/06/2006
José Reinaldo Marques
09/05/2006
O repórter-fotográfico Lula Marques, coordenador do Departamento de Fotografia da sucursal da Folha de S. Paulo em Brasília, costuma dizer que vive para o fotojornalismo e para a família. Casado, pai de dois filhos, 44 anos, iniciou a carreira profissional no Correio Braziliense, onde começou a trabalhar como contínuo, aos 14, levado pelo irmão mais velho, Paulo, então editor de Fotografia do jornal.
Na primeira promoção, Lula foi transferido para o Arquivo Fotográfico, onde começou a se interessar pela futura profissão:
— Sempre que podia, pegava a máquina do Paulo, que morreu num acidente de carro, em 1978. Quando isso aconteceu, o novo editor de Fotografia, Tadashi Nacagomi, convidou meu outro irmão, Sérgio, para trabalhar com ele. E foi o Sérgio quem me ensinou tudo sobre fotografia jornalística. Mas veja só o destino: em 1987, o Tadashi, que estava na Folha, também morreu num acidente automobilístico e eu fui convidado para ocupar a vaga.
No início, Lula encarava o trabalho sem muito compromisso, mas logo foi forçado a mudar de atitude:
— Houve uma demissão em massa no Correio. O editor me chamou na sala dele e disse: “Você está na lista, mas, como tem um grande potencial, vou lhe dar 15 dias para reverter esse quadro. Só depende de você.” Passei a me dedicar mais e ter um único objetivo: ser um grande repórter-fotográfico. Tenho muita satisfação profissional, mas aviso aos novos que não é fácil: são muitas viagens, coberturas sem hora para acabar, e a concorrência hoje está bem maior.
A dedicação valeu diversas premiações, como o Prêmio Folha de Fotografia de 1999 — com um flagrante de Pedro Malan durante um desfile de 7 de setembro, em Brasília — e o Esso 2000 — com a foto que ilustrou a reportagem “Conflito marca festa dos 500 anos”, mostrando a violência policial contra os índios pataxós na comemoração de cinco séculos do descobrimento:
— Já fiz muita matéria de Polícia, Cidade e, eventualmente, Esportes. Nessas editorias, tinha mais liberdade para trabalhar, era só pegar a pauta e sair para o dia-a-dia. Na Política, porém, não é apenas a informação cotidiana que importa. Temos que conhecer os acontecimentos recentes do País, ler livros sobre o assunto e, claro, todos os jornais diariamente. Também é preciso estar atento e ser ético. Nós, fotojornalistas, temos uma grande responsabilidade: registrar a História.
O bom fotógrafo, diz ele, deve sempre se empenhar para fazer o melhor registro de qualquer cobertura e vê-lo publicado com destaque no dia seguinte:
— Todo um acontecimento deve estar contido numa só imagem. Quando conseguimos isso, é muito gratificante.
Sensibilidade
Além de relembrar com saudades a época em que o fotógrafo ia à redação, com seus trabalho na mão, negociar com o diagramador o melhor corte, Lula reclama que hoje há muito do que ele chama de “armação no fotojornalismo”:
— É muito fácil chegar para fotografar uma reunião de autoridades e pedir-lhes que forjem um cumprimento ou um abraço, em vez de buscar a imagem com sensibilidade e ética, sem interferir na cena.
Ele destaca que os profissionais têm consciência de que devem ser rápidos e de que, quando entram num ambiente para registrar um encontro, o clima entre os presentes pode não ser o melhor. E ensina:
— A foto dos personagens com cara emburrada seria a melhor imagem, mas sempre vem um fotógrafo mal-informado e acha mais fácil pedir um sorriso. Isso acaba prejudicado o trabalho dos outros, porque somos obrigados a registrar uma cena que, na maioria das vezes, está distorcendo a realidade. Precisamos ser éticos e ter responsabilidade com a História do País.
O sonho, ainda não realizado por pura falta de tempo, é publicar um livro:
— Não será somente mais um livro de fotojornalismo. Nele vou escrever o que vi e ouvi, pois cada foto minha tem nela inserida uma bela história.
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