26/03/2021
O Brasil vive agora o momento mais delicado da pandemia da covid-19, contabilizando mais de 300 mil mortes e 12 milhões de casos, números que crescem descontroladamente a cada dia. Mesmo diante deste cenário, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a maioria dos Clubes das séries A e B defendem a continuidade das partidas de futebol pelo País.
Mas esse debate vai muito além da decisão tomada na última reunião da CBF, no dia 10 de março. Isso porque a suspensão de eventos – como os jogos de futebol – e o fechamento dos estádios cabe aos estados e municípios, apoiados nas análises de seus próprios Comitês Científicos. E alguns destes já se posicionaram.
O Governo de São Paulo, por exemplo, suspendeu os jogos do Campeonato Paulista entre os dias 15 e 30 de março. A decisão é válida também para os treinos, e para esportes de outras modalidades. Mas ainda assim foi permitido aos clubes paulistas que jogassem em outro local, onde não houvesse tais restrições.
Outros estados que suspenderam a realização de jogos foram: Tocantins, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No Ceará apenas o Campeonato Estadual foi suspenso, mas estão liberados os jogos da Copa do Nordeste e Copa do Brasil. No Distrito Federal as competições chegaram a ser suspensas, mas foram retomadas no último dia 19.
Já o Rio de Janeiro, que foi até agora o último a se posicionar, vive uma situação peculiar. As partidas válidas pela sexta rodada do Campeonato Carioca foram redistribuídas em cidades do interior do estado, já que a capital fluminense intensificou as restrições por dez dias. Dessa forma, o estado do Rio acaba acolhendo os jogos da própria capital – Rio de Janeiro – e também os que aconteceriam na capital paulista.
A partida entre Mirassol e Corinthians pelo Campeonato Paulista, por exemplo, foi transferida para Volta Redonda, no sul do estado. Assim como São Bento X Palmeiras, jogo realizado também no Estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda. Para que a continuidade do Campeonato fosse possível com esses jogos, a Federação Paulista de Futebol doou dez respiradores e monitores para leitos de UTI na cidade.
Volta Redonda contabiliza mais de 500 mortes por covid desde o início da pandemia. Segundo o último mapa de risco do governo estadual o município estava classificado no risco moderado, mas no último dia 19 a taxa de ocupação de leitos de UTI já ultrapassava os 90%.
O que significa que caso um jogador saia lesionado das partidas, talvez ele não encontre vaga para ser atendido nos hospitais da região. E do jeito que está a situação em todo o país, até mesmo em outra cidade pode ser difícil encontrar atendimento. Além disso, infelizmente os respiradores doados à cidade não serão suficientes se a doença continuar avançando neste mesmo ritmo.
Um outro risco, ainda pior, é a possibilidade de surtos da doença dentro dos próprios times. É o que aconteceu com a delegação do Marília, de São Paulo, que percorreu três estados em dois dias para disputar um jogo da Copa do Brasil em Santa Catarina. Agora, ao retornarem, já foram confirmados 16 casos de covid-19 em membros do elenco e da equipe técnica.
É por isso que, no meio de toda essa discussão, a dúvida que fica é: qual o custo da continuidade do futebol em uma situação tão crítica? E por que estão pagando para ver?