A conduta imoral para obter notícia


18/07/2011


 
 
A classe jornalística e a opinião pública mundial reagiram com indignação ao fato criminoso envolvendo o tablóide britânico News of the World, que ocupou um generoso espaço nos jornais londrinos e na mídia internacional. O semanário foi acusado de grampear ilegalmente telefones de celebridades, políticos e de milhares de pessoas para obter informações privilegiadas para as suas notícias.
 
 
O saldo negativo do escândalo dos grampos telefônicos do News of the World, que abalaram a Grã-Bretanha, é grande. A conduta imoral de jornalistas do tablóide para obter notícia veio a público pela primeira vez em 2006. No ano seguinte, o correspondente para assuntos da realeza Clive Goodman foi condenado pela Justiça, juntamente com o detetive particular Glenn Mulcaire, por terem grampeado ilegalmente telefones de membros da Família Real.  
 
 
Conforme citação da imprensa londrina e de agências internacionais, milhares de pessoas foram vítimas das escutas ilegais do News of the World, entre elas atores de TV, cinema, jogadores de futebol e familiares de soldados mortos no Afeganistão e no Iraque, políticos como o ex-Premier Gordon Brown e seu filho Fraser, que tiveram dados privados divulgados em reportagem do jornal.
 
 
Em janeiro de 2011, pressionada pela repercussão de novas denúncias de grampos a Scotland Yard (Polícia Metropolitana de Londres) reiniciou as investigações sobre o caso, sem, contudo, chegar a uma conclusão satisfatória sobre a procedência das escutas telefônicas ilegais. Em abril de 2011, o News of the World admitiu publicamente que jornalistas do veículo tinham feito escutas ilegais do telefone de pessoas citadas nas matérias que vinham produzindo.
 
 
O efeito cascata da imoralidade jornalística do News of the World acabou derrubando a cúpula da Scotland Yard. O Chefe de Polícia, Paul Stephenson e o Subcomissário, John Yeats, foram demitidos por terem contratado e mantido no cargo de consultor o ex-editor-executivo do tablóide, Neil Wallis, que exerceu a função até setembro de 2010. Wallis foi preso pelas autoridades britânicas sob acusação de pagar propinas à polícia para obter informações confidenciais oriundas de grampos telefônicos sem autorização. 
 
 
Ao todo, até o momento, dez pessoas parar na cadeia, entre elas Rebekah Brooks, executiva-chefe da News International, empresa responsável pela edição do News of the World. A jornalista, que até 2003 era diretora de redação do jornal, foi detida por 12 horas para interrogatório e depois foi liberada sob pagamento de fiança. Em depoimento ela negou que tivesse conhecimento da prática de escutas telefônicas ilegais. 
 
Na sexta-feira, 15 de julho, Rebeka Brooks pediu demissão do cargo. Ela vinha sendo preservada dos escândalos por Rupert Murdoch, dono da News Corporation e da News Internacional, que é o braço do conglomerado midiático do magnata australiano na Grã-Bretanha. Segundo analistas, o empresário desejava mesmo era proteger seu filho James, Presidente da News International, da repercussão negativa dos fatos.
 
 
O caso esquentou mais ainda com a morte misteriosa do repórter Sean Hoare, na segunda-feira, 18 de julho. Ele foi encontrado morto em seu apartamento em Londres. O jornalista foi uma das principais testemunhas a relatar o esquema de grampos ilegais adotado pelo News of the World
 
 
Rupert Murdoch, James e Rebeka tiveram que comparecer ao Parlamento para dar explicações sobre as denúncias de espionagem que acabaram fechando as portas do News of the World. Eles foram intimados pelo Comitê de Mídia, Cultura e Esporte para depor no Parlamento. Murdoch e James, a princípio recusaram o convite, mas recuaram depois que receberam a intimação das mãos de um oficial da Câmara dos Comuns. De acordo com as leis britânicas, a recusa seria encarada como um procedimento ilegal, e os dois poderiam ir para a cadeia.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nas declarações que deu ao Comitê do Parlamento britânico, Murdoch negou que tivesse conhecimento das escutas ilegais, alegando que foi enganado pelas pessoas que contratou para trabalhar em suas empresas. Disse que “sentia muito” por aqueles que foram vítimas da espionagem da sua equipe de jornalistas, argumentando que foi ludibriado “pelas pessoas em quem confiava”.
 
 
O fato de Andy Coulson ter sido porta-voz do Primeiro-Ministro David Cameron também serviu para esquentar a polêmica sobre a liberdade com que pessoas ligadas ao News of the World transitavam junto ao Governo. A pressão política da oposição e da opinião pública está se tornado insustentável e com isso Cameron por duas vezes ocupou a tribuna do Parlamento para dar explicações sobre a sua proximidade com o empresário Rupert Murdoch. Numa tentativa de amenizar os efeitos do escândalo para a sua imagem e a do Partido Trabalhista, o Premier  prometeu averiguar as denúncias de grampos ilegais, independentemente das investigações da Scotland Yard.
 
 
 
Ética
 
 
A repercussão do caso levou ao fechamento do News of the World, depois de 168 anos de circulação, no momento em que desfrutava uma posição de mercado confortável, como o mais vendido semanário dominical londrino, com cerca de 2,8 milhões de exemplares, por edição. O episódio também reacendeu o debate sobre o direito de privacidade e de liberdade de expressão, tendo como centro das discussões a questão da criação e a eficácia de mecanismos de regulação da mídia.
 
 
Em entrevista ao ABI Online o diretor de Jornalismo do Reuters Institute, da Universidade de Oxford, John Lloyd falou sobre o processo de regulação da imprensa, cujas regras na Grã-Bretanha são ditadas pela Comissão de Queixas sobre a Imprensa (PCC, na sigla em inglês). Segundo ele,  na verdade o papel exercido pela PCC é mais de mediação do que de regulação:
— Ela (PCC) foi criada pela Newspapewrs, ​que é sustentada com dinheiro ​das empresas jornalísticas e dominada por seus editores. Até o momento, lidou com as queixas que considerava mais contundentes e não fez nada para acabar com os abusos, disse John Lloyd.
 
 
Criada em 1991, a PCC tem como principal missão assegurar que os órgãos de imprensa respeitem o código de ética, apurando denúncias dos leitores ou de autoridades que se sintam afetadas na sua privacidade. Mas há muito tempo o órgão de regulação vem sendo criticado, principalmente pela sua postura diante do escândalo dos grampos ilegais do News of the World, sob acusção de que não ter se empenhado para checar a verdade dos fatos.
 
 
John Lloyd lembrou um outro escândalo envolvendo a imprensa londrina, mas disse que o caso não teve a mesma repercussão que o episódio que provocou o fechamento do News of the World:
— Robert Maxwell, que era dono dos jornais do grupo Mirror, na década de 1980, usou-os para ampliar seu próprio ego, e quando sua empresa começou a declinar, ele pegou o dinheiro do fundo de pensões do grupo para salvá-lo (ele cometeu suicídio). Isso foi um escândalo, mas de um tipo diferente. Deveria ter sido feito um levantamento sobre a maneira pela qual os tablóides britânicos se comportavam muito antes desse escândalo atual, mas não houve, afirmou Lloyd.
 
 
Na avaliação do diretor do Reuters Institute, a credibilidade da imprensa londrina ficou um pouco arranhada, mas os grandes veículos não vão ser muito afetados, porque o escândalo aconteceu com um tablóide. Segundo John Lloyd, apesar de os jornais sensacionalistas serem muito poderosos, os diários da chamada grande imprensa, mesmo com uma circulação menor, detêm o poder de opinião:
— Nada até agora os afetou (os grandes veículos), embora alguns possam também ter usado detetives particulares e estar envolvidos com uso de grampo de telefone, ponderou John Lloyd.

Ao comentar sobre a abrangênia do escândalo, que respingou na Scotland Yard, John Lloyd ressaltou que o órgão de polícia vai ficar em apuros. Isso já vem acontecendo mesmo depois dos pedidos de desculpas apresentados pelos oficiais da corporação citados no caso, pela suposta negligência na condução das investigações:

— Eles foram acusados e são culpados de negligência. E isso tem sido ruim para sua reputação (da  Scotland Yard), e pode piorar, afirmou John Lloyd.
 
 
Observatório
 
 
No Brasil, o caso das escutas ilegais do News of the World foi o tema do programa “Observatório da Imprensa”, que foi ao ar pela TV Brasil na segunda-feira, 11 de julho. A história da espionagem do tablóide, que tem um roteiro digno das melhores tramas policiais, foi debatida pelo âncora do programa, Alberto Dines, com a participação do experiente jornalista Silio Bocanera, correspondente em Londres da Globonews; e Rogério Simões, editor-executivo da revista Época.
 
 
Rogério Simões comentou sobre o poder e o trânsito que o magnata Rupert Murdoch desfruta entre a elite política londrina, tanto no Partido Conservador quanto entre os trabalhistas. Durante o seu interrogatório no Comitê de Mídia, Cultura e Esportes, o empresário admitiu suas ligações com os políticos e disse que teve vários encontros com o Primeiro-Ministro David Cameron, afirmando inclusive sobre o seu livre acesso ao Gabinete do Premier, ao qual fazia visitas secretas entrando pela porta dos fundos.
 
 
Para Simões, esse é um fator significativo no desmembramento do caso, pois o poder de Murdoch revelou-se no fato de que nem a polícia, e tampouco a PCC, foram fundo na apuração das denúncias de que o News of the World praticava grampos ilegais.  Quem na realidade mudou o curso da história foi um jornalista do Guardian, e as suas revelações sobre o caso foram um “golpe fatal” nos negócios de News International, porque os acontecimentos provocaram a debandada de anunciantes do tablóide. “Os anunciantes resolveram tirar os anúncios diante de um caso que causou comoção na opinião pública”, afirmou o editor.
 
 
Alberto Dines lembrou que o modelo britânico de autorregulação da mídia foi criado na década de 1990, servindo de exemplo para outros países. Mas criticou a atuação da PCC no caso dos grampos telefônicos do News of the World:
— A autorregulação não conseguiu funcionar. Achava-se que a imprensa teria condições de autorregular-se e esse caso foi ruim para a PCC, que é formada pelos representantes dos jornais. Ela deveria levar a investigação até o fim, mas não o fez, argumentou Dines.
 
 
Já o editor de Opinião do Globo, Aluízio Maranhão alerta que “é preciso cuidado antes de se criticar o princípio da autorregulamentação, o melhor para a imprensa, pois prescinde da atuação sempre castradora do Estado e do poder político”. Maranhão disse que a autorregulamentação inglesa apresenta grave deficiência, porque é feita por um organismo independente aos veículos. “A comissão (PCC) é mantida pelas empresas jornalísticas, mas atua distante das redações. Isso a torna sem poder efetivo”, argumenta o editor. 

Segundo Maranhão, o melhor caminho é cada veículo montar sua estrutura de autorregulamentação, com o envolvimento de diretores e editores:

— Só neste caso haverá ações efetivas de acolhimento de denúncia, correção de rumos e punições. O problema não está na autorregulamentação. Mas na forma como a imprensa inglesa a exerce. A PCC é um cachorro sem dentes.
 
 
Em seu primeiro discurso no Parlamento sobre o escândalo, o Primeiro-Ministro David Cameron propôs o fim da PCC como autoridade de regulação da mídia britânica. Na opinião de Dines, se a proposta de Cameron entrar em vigor terá uma conseqüência significativa no mercado de mídia londrino.
 
 
A reclamação do Primeiro-Ministro, endossada pela opinião pública londrina, foi comentada pelo colunista do New York Times, Allan Cowell. Em artigo publicado no jornal Estadão, na edição de 14 de julho, ele observa que o escândalo da quebra de sigilo telefônico que fechou as portas do News of the World serviu para ativar “uma ampla reavaliação entre liberdade de imprensa e privacidade na Grã-Bretanha”.
 
 
“Se pessoas menos importantes acharem que seus segredos merecem proteção, como poderão se proteger de jornalistas inescrupulosos que desejem invadir os mais íntimos recados de suas caixas postais?”, indagou Allan Cowell, para em seguida concluir que “a pergunta sublinha o contraste da cultura que fez da Grã-Bretanha um templo das denúncias estridentes. O debate chegou ao que parece ser um ponto de virada”, afirma o colunista.
 
 
 
Espionagem
 
 
 
As denúncias sobre procedimentos ilegais do News of the World para obter informações são antigas. O NOTW, como era conhecido na Gã-Bretanha, há oito anos vinha sendo acusado de praticar esse tipo de crime. O tablóide foi responsabilizado por ter grampeado o telefone celular da jovem Milly Dowler, que desapareceu e depois foi encontrada morta, em 2002. Além dos grampos, o autor do ato ilegal teria apagado as mensagens da caixa postal do telefone móvel da menina de 13 anos, prejudicando as investigações sobre o seu desaparecimento, dando esperanças à família de que ela poderia estar viva.
 
 
Além de celebridades como o ator Hugh Grant — que teve seu telefone grampeado e comemorou o fechamento do News of the World — os alvos das escutas telefônicas do tablóide, segundo informações da imprensa local, passam de 3 mil pessoas. Entre elas figuram o ex-Primeiro-Ministro Gordon Brown e seu filho Fraser. Parentes de soldados britânicos mortos no Afeganistão e no Iraque e das vítimas do atentado contra o metrô de Londres, em 2005, também fazem parte da lista de cidadãos londrinos que tiveram sua privacidade violada pelos grampos ilegais do tablóide de Murdoch.
 
 
O fato ganhou maior projeção internacional porque o FBI começou a investigar o caso, pois há suspeita de que familiares das vítimas do atentado do 11 de setembro também tenham sido espionadas pelos funcionários das empresas de Rupert Murdoch.
 
 
As notícias sobre a espionagem praticada pelo News of the World já vinha sendo comentado largamente pela mídia internacional, e no Brasil chamou mais atenção principalmente depois que membros da família do brasileiro Jean Charles Menezes — morto por engano pela Scotland Yard no metrô londrino, em 2005 — enviaram uma carta às autoridades britânicas cobrando um esclarecimento sobre a suspeita de que o telefone de Alex Pereira, primo de Jean Charles, também pode teria sido grampeado.
 
 
Eles alegam que informações confidenciais da família vieram à tona quando estourou o escândalo dos grampos. O documento foi encaminhado ao Primeiro-Ministro, David Cameron, com cópia para o vice Nick Gleeg, citando inclusive que os telefones dos advogados que acompanham o caso também podem ter sofrido escutas ilegais: “É uma intromissão flagrante e injustificável da privacidade da nossa família e uma tentativa deliberada de restringir o nosso direito de reparar a morte ilegal de nosso primo”, diz um trecho do texto que está assinado por três primas de Jean Charles.
 
 
Embróglio
 
 
O embróglio das escutas telefônicas ilegais do News of the World atrapalhou os negócios de Rupert Murdoch na Grã-Bretanha, que se viu obrigado a desistir da compra da BSKyB, um dos principais canais por assinatura via satélite do país. Murdoch é dono de 39% das ações e queria abocanhar os restantes 41%.
 
 
O magnata foi obrigado a desistir do negócio depois que o Primeiro-Ministro David Cameron pediu que o Parlamento aprovasse moção que exigia que ele desistisse da compra da BSKyB. A operação já vinha sendo criticada pela oposição e grande parte da opinião pública, que temiam que a sua conclusão facilitasse o monopólio de Murdoch no setor de mídia britânico, acabando com a diversidade dos meios de comunicação na Inglaterra. Pressionado pelos escândalos, que arrastam também o The Sun e o The Sunday Times (que também são editados pela News International), Murdoch publicou um anúncio nos jornais ingleses no último fim de semana, pedindo desculpas pelo erro do News of the World, que causou danos às pessoas.
 
 
No texto foi ele assume que o fiasco do tablóide foi não ter feito o seu papel de fiscalizar a si mesmo quando a sua missão era exatamente de acompanhar o trabalho dos concorrentes: “Sentimos muito. O News of the World se dedicava a pedir contas dos outros e falhou quando se tratava de si mesmo”, diz um trecho do anúncio que foi veiculado no sábado, 16 de julho, nos jornais Daily Mail, Daily Telegraph, Financial Times, The Guardian, The Independent, The Sun e The Sunday Times.  
 
 
Para Aluízio Maranhão, o fechamento do jornal foi uma manobra ousada de Murdoch, na tentativa de salvar o negócio que ele mais perseguia no momento na Inglaterra: a compra do controle da BSkyB:
— O fechamento não foi o suficiente, e ele teve de retirar a proposta de compra. Pedidos públicos de desculpas e punições com demissão são adequados em situações como esta. Mas o jogo para Murdoch vai além do destino do News of the World. Tanto que agiu com grande rapidez no fechamento de um jornal campeão de vendas. É impossível prever os danos no grupo, pois não está fora de cogitação haver danos na imagem do braço americano do grupo. Que inclui a Fox, Dow Jones e o Wall Street Journal, entre outros.

 
Buraco
 
 
Quanto mais se mexe com o assunto, ao contrário do que desejaria Rupert Murdoch, o escândalo das escutas ilegais é uma crise que não se ameniza, pelo contrário, a cada dia revela um fato novo que lança um segmento da imprensa londrina em um buraco que o jornalista Alberto Diniz chamou de “esgoto jornalístico”.
 
 
Silio Bocanera acredita que um dos fatores que tem provocado escândalos entre os tablóides britânicos “é cultura da fofoca que está avançando e estimulando esse tipo de publicação a cometer esse tipo de erro”. Já Rogério Simões acha que as dificuldades financeiras enfrentadas pelos tablóides ingleses podem estar por trás dos recentes escândalos envolvendo o News of the World:
— A perda de leitores leva a uma situação de crise, por causa da competição exagerada que vem provocando desespero para angariar leitores nas últimas décadas
— disse o editor. — É difícil acreditar que as práticas criminosas cometidas pelo pessoal do News of the World pudessem ter sido feitas sem orientação dos editores, observou Simões.
 
 
Aluízio Maranhão vê na suposta inércia dos executivos do tablóide em investigar o caso e punir e apresentar os culpados para se desculpar com a opinião pública um problema de liderança nos veículos de Murdoch:
— Esta passividade denuncia um grande problema de governança interna no grupo de Murdoch, pelo menos no seu braço inglês. Quem tem vivência de redação, sabe que práticas como as que foram usadas jamais as seriam sem conhecimento da direção, disse o editor do Globo.
 
 
Para Maranhão, o escândalo dos grampos telefônicos é “produto acabado de um jornalismo sem ética, em que o fim (o furo) justifica qualquer meio”. Ele acrescenta que em casos como esse “a instituição da imprensa perde credibilidade, seu grande e único capital, quando passa a usar de meios imorais para a obtenção de notícia”,

Silvio Queiroz, subeditor e colunista da editoria Internacional do jornal Correio Braziliense, afirma que o caso dos grampos telefônicos ilegais do tablóide britânico News of the World revela vários aspectos importantes, entre os quais o fato de que alguns setores da imprensa e da mídia de maneira geral acabaram tornando-se reféns de um modelo editorial moralmente duvidoso, sem nenhum critério para avaliar o que é relevante e do interesse público:
– A busca por notícias sobre a vida íntima de celebridades passou para os políticos e move todo um trabalho da imprensa, como se o mais importante fosse a privacidade dos outros, disse o colunista.
 
 
O segundo ponto que merece destaque, na avaliação de Queiroz, é a perda de limites da imprensa para encontrar um assunto:
— Antes esticava-se uma teleobjetiva para ficar monitorando os passos das celebridades, depois passaram (tablóides sensacionalistas) a fazer campana na porta das pessoas e o próximo passo foi grampear os telefones, observa o jornalista.
 
 
Queiroz lembra que existe um histórico de denúncias contra os tablóides britânicos por causa desse tipo de comportamento, que atinge inclusive os membros da família real, a exemplo do Príncipe Charles e da Princesa Diana. Na opinião dele, os escândalos recentes mostram que “o descuido editorial” de alguns veículos da imprensa britânica chegou a um nível antiético muito grave:
— Eles (tablóides) agora adotaram um procedimento perigoso: ao invés de serem receptadores das gravações, passaram eles mesmos as fazer as escutas telefônicas ilegais em busca de informações, num vôo cego, como se diz no jargão jornalístico, “atrás do que vende jornal”. Isso significa perder o parâmetro aceitável para conseguir uma notícia, declarou Queiroz.
 
 
Desconfiada e cobrando mais transparência na investigação do escândalo, mesmo depois do arrependimento público de Rupert Murdoch, a opinião pública britânica aguarda o desfecho caso, de olho inclusive nas relações do empresário com o Governo. Apesar de não haver provas de irregularidades nesse relacionamento, o Primeiro-Ministro David Cameron foi obrigado a reconhecer que a distância entre Murdoch e o Governo era curta demais.