09/09/2008
A Associação Brasileira de Imprensa, em parceria com o Consulado-geral do Uruguai no Rio de Janeiro e o Instituto Cultural Brasil-Uruguai, promove nesta quarta-feira, dia 10, às 14h, uma conferência com o cientista político uruguaio Gerardo Caetano, que fará um relato sobre a evolução dos direitos humanos no Uruguai depois da ditadura.
“A conferência do professor Gerardo Caetano será uma rara oportunidade para o entendimento das violações dos direitos humanos naquele país durante o regime militar”, diz Nenê Rodrigues, Presidente de Honra do Instituto Cultural Brasil-Uruguai, sobre a palestra que acontecerá no Auditório Oscar Guanabarino (no 9º andar da ABI). Ela comporá a mesa de debates, ao lado da Presidente-executiva da mesma entidade, jornalista Beatriz Bissio; de Enrique Rodríguez Larreta, da Universidade Candido Mendes; do Presidente da ABI, Maurício Azêdo; do Cônsul-geral do Uruguai no Rio de Janeiro, Alberto Guani; e do Secretário-geral do Ministério de Relações Exteriores do Uruguai, Embaixador Nelson Fernández.
Segundo Nenê Rodrigues, Gerardo Caetano fará um importante relato sobre o dossiê realizado pelo atual Governo uruguaio sobre prisões, seqüestros e torturas (entre outros atos criminosos cometidos pelos agentes da ditadura), que ajudou a identificar e levou à prisão de torturadores e de dois ex-Presidentes: Juan Maria Bordaberry e Gregorio Álvarez.
Para a Presidente de Honra do Instituto Cultural Brasil-Uruguai, outra participação importante na conferência será a do também professor Enrique Rodríguez Larreta, que teve o filho foi seqüestrado pelos militares e foi um dos mentores pela campanha que se promoveu no país, para que houvesse apuração de todos os atos de exceção cometidos pela ditadura e identificação dos responsáveis.
O Cônsul-geral do Uruguai, Alberto Guani, diz que o encontro com Gerardo Caetano vai ajudar no esclarecimento de algumas questões do passado do país, devido à contribuição que o trabalho do historiador vem dando ao processo histórico dos direitos humanos:
— O professor Gerardo Caetano é uma referência no campo intelectual do Uruguai e em outras partes do mundo. Ele vem fazendo um trabalho potencial sobre os aspectos históricos dos direitos humanos no Uruguai, sobretudo sobre os cidadãos desaparecidos no período ditatorial. Os registros desses casos geraram cinco tomos, que ele coordenou a pedido do Presidente Tabaré Vásquez.
Carreira
Gerardo Caetano é autor de vários livros, entre os quais “História contemporânea do Uruguai”, em que, com Jose Rilla, narra acontecimentos históricos e faz uma análise crítica dos fatos. Também colaborou com a “Latino-americana: enciclopédia contemporânea da América Latina”, organizada por Emir Sader, Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile. Considerada das mais abrangentes sobre a região, a obra apresenta uma visão panorâmica sobre questões variadas, como sociais, políticas, econômicas, ambientais, culturais e artísticas.
O conferencista também dá aulas na Faculdade de Humanidades da Universidade da República do Uruguai e, a pedido do Presidente Tabaré Vázquez, coordenou uma comissão que apurou os crimes cometidos em seu país no período ditatorial, de 1973 a 1985.
Na ABI, ele falará da evolução dos direitos humanos no Uruguai com o fim do regime militar e do papel do novo Governo e das entidades civis organizadas nesse processo, ajudando a apurar e tornar públicos dados sobre tortura e assassinato de centenas de pessoas — em 6 de julho de 2007, o site da Presidência da República publicou o relatório das investigações.
Passado revisto
Intitulado “Presos desaparecidos”, o relatório tem cinco volumes e mais de 3,5 mil páginas e foi publicado para “esclarecer o passado”, nas palavras do Presidente Tabaré Vásquez, que disse ainda na ocasião: “Esse é um livro para a memória, para a reflexão, para o compromisso e para todos os uruguaios.”
Cada volume reconstitui um pedaço do período tenebroso da história do Uruguai: relatos de pessoas envolvidas na repressão; dados dos presos e desaparecidos; informações sobre a violência que os perseguidos políticos sofreram em países vizinhos (Paraguai, Chile, Bolívia, Argentina e Colômbia); uma compilação de leis e decretos da época da ditadura e denúncias de violação dos direitos humanos; e, finalmente, os resultados da investigação sobre os corpos dos desaparecidos realizada entre 2005 e 2006.
Há revelações interessantes sobre opositores da ditadura, como os Montoneros e Tupamaros, e troca de correspondência entre os Estados Unidos e autoridades diplomáticas sul-americanas. Os dados também confirmam a participação do Uruguai na Operação Condor, em que os Governos militares do Cone Sul promoveram ações articuladas para perseguir, prender, seqüestrados e torturar seus opositores em qualquer país da região.