ONU destaca o papel do conhecimento indígena no combate à crise climática


09/08/2024


Da ONU News (*)

Os povos indígenas representam cerca de 6% da população mundial. Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, eles são “os guardiões do conhecimento e das tradições” que ajudam a proteger algumas das áreas com maior biodiversidade do planeta.

António Guterres prestou homenagem aos povos indígenas em uma mensagem de vídeo divulgada no dia 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas.

Terras ancestrais “sob cerco”

No entanto, Guterres destacou que os povos indígenas são frequentemente vítimas de ameaças e violência. Ele sublinhou que setores extrativos e produtivos, como a mineração, a agricultura e os transportes, têm acelerado o desmatamento e a degradação dos solos.

Como resultado, as terras ancestrais e os recursos naturais dos quais os povos indígenas dependem para sobreviver estão “sob cerco”, disse Guterres.

O secretário-geral afirmou que o direito à autodeterminação, consagrado na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, “ainda não foi plenamente cumprido”. Ele disse que é hora de apoiar o direito desses povos a traçar o próprio futuro.

Exemplo positivo de nação indígena no Brasil

Nesse sentido, um exemplo positivo mencionado pela ONU vem do Brasil, da etnia Puyanawa, uma das 15 que habitam o estado do Acre. Cerca de 93% do território dessa nação indígena é coberto por florestas.

O líder Joel Puyanawa explica que a nação Puyanawa recorreu à agricultura, utilizando práticas tradicionais, como o plantio de árvores de madeira dura nos campos, para aliviar a pressão sobre a terra.

Segundo ele, há “um trabalho extra, sim, mas é exatamente para preservar o que há de mais sagrado”. O líder indígena afirmou que, se uma floresta for derrubada, “ela nunca se recuperará”.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), por meio dessa estratégia, os Puyanawa estão provando que a sustentabilidade e o crescimento econômico podem andar de mãos dadas.

Reviravolta do desmatamento para o manejo florestal

Mas nem sempre foi assim. Durante gerações, o desmatamento de mata virgem foi uma prática comum entre os Puyanawa. A nação indígena foi atacada no início do século 20 por colonos interessados na extração de borracha para a crescente indústria automotiva mundial.

Muitos Puyanawa foram mortos durante confrontos por suas terras ou sucumbiram a doenças. Aqueles que sobreviveram foram muitas vezes forçados a trabalhar em plantações em suas próprias terras.

Em 2001, quando o governo brasileiro começou a fortalecer os direitos sobre as terras indígenas, os Puyanawa iniciaram a recuperação de suas tradições, como sua língua, práticas espirituais e técnicas de manejo florestal.

Todos os anos, o mundo perde uma área de cobertura florestal equivalente ao tamanho de Portugal, com grande parte desse desmatamento ocorrendo em 20 países tropicais, incluindo o Brasil. Segundo o Pnuma, as técnicas tradicionais dos Puyanawa atuam como um “antídoto para a extração desenfreada de recursos” que está dizimando as florestas tropicais.

Conhecimento indígena na luta contra a crise climática

Neste Dia Internacional dos Povos Indígenas, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) afirma que o conhecimento indígena é crucial na luta contra as mudanças climáticas.

Segundo a agência, os povos indígenas são guardiões de sistemas de conhecimento, inovações e práticas únicas que foram transmitidos de geração em geração, permitindo que diferentes culturas e comunidades em muitas partes do mundo vivessem de forma sustentável.

Devido ao seu conhecimento ecológico, que é intergeracional e comunitário, os povos indígenas foram os primeiros a perceber os sinais iniciais das mudanças climáticas.

Agora, mais do que nunca, à medida que a crise climática se intensifica, os conhecimentos e práticas indígenas oferecem soluções valiosas para os esforços de mitigação, estratégias de adaptação e resiliência.

(*O texto original da ONU News foi revisado e editado pela Comissão de Meio Ambiente da ABI).