16/11/2020
Duas notas de Patrícia Kogut, na coluna de TV em O Globo desta segunda-feira, 16, mostram bem o descaso das autoridades brasileiras com a nossa cultura. Em seguida, a jornalista Zezé Sack ressalta a importância do programa informativo Sem censura da TV Brasil (ex-TV Educativa), no ar há 35 anos, e que acabou sem maiores explicações dos responsáveis. O comentário é de Vera Perfeito, diretoria de Cultura e Lazer da ABI, .
NOTAS DA JORNALISTA PATRÍCIA KOGUT
NOTA ZERO
Para essas mudanças na TV Brasil que derivaram no fim do Sem censura. O programa, no ar há tantos anos, merecia ser mais bem tratado. Sem falar que é uma TV pública e serve aos interesses do expectador”.
DESTERRO
Acostumada a trabalhar na área de cultura e entretenimento, a equipe do Sem censura foi transferida sem muitas explicações para o Agro nacional também da TV Brasil. O programa, antes semanal e feito em São Paulo, passará a ser diário e com sede no Rio. A mudança é vista nos bastidores como “um castigo”.
Sem censura, Censurado
Por Zezé Sack *
Havia tempo que esse governo que não gosta de cultura ameaçava acabar com o Sem censura, programa da TV Brasil que vinha sofrendo várias mudanças no conteúdo e no horário (já teve 4hs, 2hs, 1h) e, recentemente, passou a ter apenas 30 minutos com dois blocos. Isso em televisão não é nada, é quase “boa tarde e até amanhã”.
E, assim, um a um, esse governo vai destruindo tudo e qualquer coisa que um dia deu certo. É proibido existir algo que possa refletir a realidade ou dê uma oportunidade que seja ao nosso povo, aos nossos artistas que não têm espaço na grande mídia nem para falar e nem para divulgar a sua criação. Esse assassino da cultura veio com a sanha para desmoralizar uma sociedade, minando pela base. Os exemplos diários estão aí para quem quiser ver…
O Programa Sem censura, criado nos anos 80 pelo então diretor da TVE Fernando Barbosa Lima, está entre os mais longevos da televisão, com 35 anos e chegou a ter a maior audiência do canal. Com quatro horas de duração, à tarde, e, muito solicitado pelos artistas, liderou a audiência na TV pública.
O Sem censura foi criado com o compromisso de levar ao telespectador informações sobre o que acontecia no Rio de Janeiro. E, em seguida, com o seu sucesso, se tornou mais abrangente e passou a entrar no Brasil inteiro. O que, para uma rede pública, era um grande feito.
O programa foi também um grande divulgador da cultura, um prestador de serviços, formador de opinião e sem privilegiar correntes políticas. O programa sempre procurou oferecer aos convidados e telespectadores, a oportunidade de expressar a sua opinião e elevar a sua autoestima. Quase sempre depois de um ótimo papo, encerrava com boa música, no padrão da melhor MPB.
De alcance nacional, o Sem censura traçava um painel cultural brasileiro, mostrando suas múltiplas tendências como as descobertas da medicina, a preservação do meio ambiente, a busca pela melhoria da qualidade de vida e as formas de lazer, entre outras informações. Tudo isso fazia do programa um sinônimo de entretenimento com responsabilidade. Um programa que marcou gerações e permanece na memória afetiva dos brasileiros.
*Zezé Sack
– Jornalista, ex-coordenadora do Sem censura entre 2017 e 2018, produtora cultural e integra a Comissão da Diretoria de Cultura e Lazer da ABI.