Prisão de jornalista abre crise entre Venezuela e Chile


14/09/2016


Braulio Jatar. Foto: Reprodução

Braulio Jatar. Foto: Reprodução

O site Estadão postou que a detenção de um jornalista venezuelano com cidadania chilena agravou, nesta terça-feira (13), as relações diplomáticas entre Santiago e Caracas e até mesmo o Brasil. A diplomacia bolivariana publicou ontem comunicado no qual acusou o governo do Chile de “moral dupla” e ingerência em seus assuntos internos por protestar contra a prisão do jornalista Braulio Jatar, detido há duas semanas na Ilha de Margarita, em um protesto contra o presidente Nicolás Maduro.

A publicação acrescenta que, no Twitter, a chanceler Delcy Rodríguez criticou as “declarações imorais e descaradas do chanceler de facto, José Serra,” que também divulgou nota sobre o caso.

“Chama a atenção a atuação do chanceler Heraldo Muñoz a favor de cidadãos vinculados à direita venezuelana, envolvidos em graves crimes contra a Constituição”, diz a nota. “São declarações invasivas que mostram categoricamente a dupla moral em matéria de direitos humanos da diplomacia chilena.”

Na segunda-feira, o Ministério de Relações Exteriores do Chile pediu que a Venezuela garantisse os direitos mínimos do jornalista, que está preso em local não divulgado e não teve acesso a advogados e familiares. Caracas destaca que, apesar da cidadania chilena, Jatar é cidadão venezuelano.

“Não permitimos que nenhum governo nos tutele, muito menos um funcionário que sistematicamente ataca os processos de integração do continente”, acrescenta a nota sobre a chancelaria chilena.
Segundo o Estadão, em Brasília, o chanceler José Serra criticou a prisão do jornalista chileno, também por meio de nota.

“Estamos muito preocupados com a multiplicação recente de detenções arbitrárias na Venezuela, como a do jornalista chileno Braulio Jatar, ocorridas à revelia do devido processo legal e em claro desrespeito a liberdades e garantias fundamentais”, afirmou o ministro. “Esse é um desdobramento que dificulta ainda mais o diálogo entre governo e oposição, indispensável para a superação da dramática crise política, econômica, social e humanitária que afeta a Venezuela.”

Jatar, de 58 anos, foi detido no dia 3 durante um ato de opositores ao governo Maduro. No total, 30 pessoas foram presas, mas ele é o único que continua detido. Supõe-se que ele continua preso na sede do Serviço Bolivariano de Inteligência na ilha.

O Estadão destaca ainda que, mais cedo, a Assembleia Nacional venezuelana – controlada pela oposição – convocou o diretor do Sebin para prestar esclarecimentos sobre a prisão do jornalista, que também é advogado e empresário. A intenção dos líderes opositores no Parlamento é que o chavismo explique o porquê da detenção.

“O motivo da convocação é que queremos explicações sobra as detenções de dirigentes da oposição nos últimos dias”, disse a deputada Delsa Solorzano. “O Sebin tem agido como polícia política do regime e não tem competência para abrir uma investigação penal.

Ainda de acordo com a parlamentar, ao menos quatro membros da oposição, entre eles um prefeito, foram convocados para prestar “esclarecimentos” pelo órgão de inteligência.

Críticas. No front diplomático, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al-Hussein, criticou duramente a Venezuela por negar acesso a seus representantes em meio a denúncias procedentes do país que causam “grave preocupação”.
Zeid Ra’ad Al Hussein disse que o governo de Caracas negou o visto a sua representante regional durante os últimos dois anos e meio.

Entre as preocupações citadas por Zeid Ra’ad Al Hussein durante a abertura da 33ª sessão do Conselho de Direitos Humanos figuram a repressão da oposição e dos grupos da sociedade civil, as prisões arbitrárias, o uso excessivo da força contra manifestantes pacíficos, a erosão da independência das instituições e do estado de direito, o dramático declive dos direitos econômicos e sociais, com a fome cada vez mais generalizada e a deterioração do sistema de saúde pública.

“Meu escritório acompanhará de perto a situação no país e expressará suas preocupações em relação aos direitos humanos”, acrescentou.

“Os Estados podem fechar nossos escritórios, mas não podem nos calar”, afirmou ante os representantes dos 47 membros do Conselho.