Por Cláudia Souza*
08/09/2015
Abdullah Kurdi, pai da criança morta por afogamento em uma praia da Turquia, pediu neste domingo, dia 6, empenho global para evitar a repetição da tragédia. União Europeia (UE) enfrenta a pior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial.
“Quero que o mundo inteiro nos escute e veja onde chegamos tentando escapar da guerra na Síria. Vivo um grande sofrimento. Faço esta declaração para evitar que outras pessoas vivam o mesmo”, disse Abdullah Kurdi a jornalistas turcos.
A imagem de Aylan Kurdi, 3 anos, foi amplamente compartilhada nas redes sociais e ganhou as capas dos principais jornais do mundo. A hashtag #KiyiyaVuranInsanlik (humanidadelevadapelaságuas), em referência à foto, alcançou o topo dos trending topics no Twitter.
“Se essa imagem extraordinariamente poderosa de uma criança síria morta em uma praia não mudar a atitude da Europa com os refugiados, o que mudará?”, questionava o jornal britânico “The Independent”.
Já o português “Público” justificou a publicação da imagem: “Vamos de forma paternalista proteger o leitor de quê? De ver uma criança morta à borda da água, com a cara na areia? Não sabemos se esta fotografia vai mudar mentalidades e ajudar a encontrar soluções. Mas hoje, no momento de decidir, acreditamos que sim.”
O “New York Times” preferiu não estampar a imagem do menino em suas páginas ou usar uma mais branda. Porém, ativistas e jornalistas destacaram nas redes sociais a importância de usar a imagem para chamar a atenção para a crise.
Além de comover o mundo, a imagem do menino sírio acirrou o debate sobre a crise migratória na Europa. A imprensa se dividiu entre publicar ou não a foto — viralizada no Twitter com o hashtag #naufrágiodahumanidade — enquanto os principais líderes europeus anunciaram medidas concretas para enfrentar a tragédia humanitária.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk disse que a União Europeia deve aumentar para pelo menos cem mil o número de asilos concedidos — segundo fontes, o pacote de emergência a ser apresentado na próxima quarta-feira é mais ambicioso e prevê 120 mil. O número seria o triplo dos 40 mil refugiados previstos na proposta anterior.
Outra novidade diz respeito à redistribuição dos refugiados, que não deverão vir apenas da Grécia e da Itália, mas também da Hungria — país de trânsito daqueles que entram pela Grécia e cruzam os Bálcãs com a intenção de pedir asilo na Alemanha. Com isso, Bruxelas espera suavizar as fortes reticências de Budapeste e de outros governos do Leste europeu quanto à partilha dos imigrantes.
Alemanha e França também anunciaram o lançamento de uma iniciativa conjunta para organizar a recepção dos refugiados e sua distribuição equitativa na Europa. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, que costuma ser criticado declarou estar “profundamente comovido” e se comprometeu a “assumir suas responsabilidades morais”. Vários veículos da imprensa britânica revelaram que Cameron também deve apresentar uma proposta para acolher sírios em campos geridos pela agência da ONU para refugiados (Acnur).
A chanceler alemã Angela Merkel lembrou que o fardo de receber centenas de milhares de refugiados não pode recair apenas sobre alguns poucos países europeus e defendeu a implementação de cotas para garantir uma distribuição justa dos que buscam asilo. Já o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pediu aos países desenvolvidos mais sensibilidade à crise.
— Os países europeus, que transformaram o Mediterrâneo, berço das civilizações mais antigas do mundo, num cemitério para refugiados, compartilham a culpa de cada refugiado que perde sua vida. Peço aos países desenvolvidos, principalmente na Europa, que sejam mais sensíveis com relação aos dramas humanos.
*Fonte BBC Brasil, Reuters, AFP, O Globo