Vendo a repercussão na mídia e nas redes sociais da Audiência de Conciliação, realizada na quinta-feira passada (9), no antigo DOI-CODI, constato, com um misto de tristeza e perplexidade, que a imprensa brasileira, tanto a tradicional, como a alternativa e popular, pouco se interessou pelo assunto.
Na grande imprensa, foram apenas 3 matérias – uma de Marcelo Godoy, no Estadão, tanto na versão impressa, quanto no on line; outra do repórter Renato Biazzi, da TV Globo, no SPTV 2; e uma de
Camilo Vannuchi, no UOL.
Na imprensa alternativa, a repercussão também foi muito aquém do que se poderia imaginar.
Na véspera da audiência, Marcelo Auler, anunciou a sua realização, no Jornal GGN. E, nos dias seguintes, eu publiquei 4 textos, um no
Ultrajano, outro no Portal da ABI, outro no 247 e outro no Blog do Renato, do presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo. E Joana Brasileiro publicou um texto no Jornalistas Livres.
Além disso, que eu tenha visto, posts foram publicados no Facebook pela historiadora
Deborah Neves , da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico; e pelos ex-presos políticos, o ex-deputado estadual e ex-presidente da Comissão da Verdade Rubens Paiva, da Assembleia Legislativa de São Paulo, Adriano Diogo,
Ivan Seixas e
Maurice Politi, do Núcleo de Preservação da Memória Política.
É muito pouco para o tamanho e a importância histórica do evento e de seu significado simbólico para a luta pela preservação da memória política brasileira.
Pior do que isso foi o silêncio e a omissão dos partidos de esquerda e de seus parlamentares. Nenhum deles fez qualquer menção ao assunto. Nenhum parlamentar registrou a audiência nas suas Casas legislativas ou nas suas redes sociais.
Isso é inacreditável.
Fica parecendo que essa é uma luta exclusiva dos ex-presos políticos, dos familiares dos mortos e desaparecidos, de algumas entidades de Direitos Humanos, dos Promotores da Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo e do pessoal do Patrimônio Histórico de São Paulo. Quando, na verdade, essa é uma luta (ou deveria ser) de todos os que lutam pela democracia, pela liberdade, pelo respeito aos direitos humanos, contra a tortura e pela Justiça de transição.
A impunidade dos agentes do Estado que cometeram crimes e graves violações dos direitos humanos durante a ditadura militar é um incentivo para novas ameaças à democracia, como as que vivemos hoje.
O Brasil foi um dos últimos países da América Latina a instalar uma Comissão da Verdade e as recomendações do seu Relatório Final – a transformação do antigo DOI-CODI em Memorial é uma delas – não saíram do papel.
O antigo DOI-CODI não será transformado em Memorial se não houver mobilização da sociedade e pressão política sobre o governador de São Paulo, João Doria. As resistências da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, e em certa medida, da própria Secretaria de Cultura, são grandes e só serão contornadas com mobilização e pressão política.
Espero que nesses agora 84 dias que nos separam da nova audiência, quando os representantes do Governo de São Paulo devem apresentar uma proposta sobre aquele espaço, a mobilização da sociedade se intensifique, com a criação, por exemplo, de um Comitê de Apoio à Transformação do Antigo DOI-CODI em Memorial, com ampla participação de entidades, como a OAB, a ABI, a CNBB, a Comissão de Justiça e Paz, entre outras, partidos políticos e parlamentares; e a solicitação de uma audiência com o governador João Doria, para tentar convencê-lo da importância histórica desse pleito.
Essa mobilização pode começar com a intensificação da divulgação e coleta de assinaturas no abaixo-assinado em apoio à criação de um Memorial no antigo DOI-CODI, que pode ser acessado no link –