21/09/2016
Na condição de vice de Indio da Costa, o deputado federal Hugo Leal foi o terceiro a ser sabatinado pelo presidente da entidade Domingos Meirelles, pelo vice-presidente Paulo Jerônimo e Jesus Chediak, diretor de Cultura e Lazer. Indio da Costa não pôde comparecer à entrevista por motivos de saúde.
Anistia do Caixa Dois
O deputado federal Hugo Leal revelou, pela primeira vez, os bastidores da articulação iniciada na semana passada com objetivo de anistiar as doações de Caixa Dois praticadas por parlamentares investigados pela Lava Jato. Ele se declarou uma testemunha ocular privilegiada das manobras conduzidas pelo deputado Valdir Maranhão ao ocupar interinamente a presidência da Câmara no lugar do deputado Rodrigo Maia.
Hugo Leal disse que o deputado Valdir Maranhão fez os primeiros contatos com as lideranças políticas na noite de sexta-feira, convocando todos os parlamentares para uma votação de urgência na sessão de segunda. “Ao fazer essa convocação, ele não revelou as matérias que seriam discutidas. Ao comparecerem à sessão, os deputados foram surpreendidos com a presença do segundo secretário Beto Mansur, no comando dos trabalhos da Casa. Ele não explicou a razão da ausência de Valdir Maranhão nem o conteúdo das propostas que seriam votadas. Eu logo percebi que alguma coisa grave estava para acontecer porque esse procedimento estava fora do padrão”.
O deputado Hugo Leal disse que Beto Mansur, como presidente da sessão, recusava-se a fornecer detalhes sobre a natureza dos temas que seriam apreciados pelo plenário. A questão foi levantada por Miro Teixeira que alegou ser impossível votar um texto sem conhecê-lo. O plenário foi surpreendido com a reação da minoria, que passou também a exigir maiores esclarecimentos antes da votação. Hugo Leal contou que, diante das inesperadas pressões do plenário, o deputado Mansur decidiu suspender a votação. “Ninguém quer ser pai de filho feio”, como disse o deputado Marcos Rogério. Mas a verdade é que todas as lideranças partidárias estavam envolvidas nessa manobra que pretendia aprovar essa anistia “por baixo dos panos na calada da noite”.
O sonho de ser prefeito
Perguntado por que o deputado Indio da Costa queria disputar a Prefeitura do Rio, Hugo Leal respondeu que não se tratava de uma simples aventura. “O Indio sempre teve esse desejo e sua carreira política foi vivida no município do Rio de Janeiro. Ninguém conhece como ele os problemas da cidade. Foi administrador regional dos bairros de Copacabana e Leme, fez parte do Conselho Municipal de Desenvolvimento da cidade e três vezes eleito vereador”. O deputado lembrou ainda que Indio ocupou a Secretaria Municipal de Administração por dois períodos: em 2001 e 2006. A principal preocupação do partido, segundo ele, é a boa gestão da máquina pública que deve ser voltada exclusivamente para a população e “jamais coloca-la a serviço de outros interesses”.
Hugo Leal ressaltou que o partido optou por manter um diálogo direto com o eleitor, na base do “olho no olho”.
Mobilidade urbana
Como autor da Lei Seca, Hugo Leal defendeu que as obras no Centro do Rio devem priorizar a redução de veículos com objetivo de torna-lo mais arejado e dotado de fácil locomoção. Ele acredita que as obras realizadas pela Prefeitura melhoraram a aparência da área urbana central e foram extremamente positivas: “Deve-se investir mais no metrô e em outros formatos de transporte coletivo para que o Centro volte a ser um local atraente além de recuperar uma vocação do passado. A revitalização do Centro não passa apenas pelo embelezamento, mas em oferecer condições para que venha a ser povoado dentro de um projeto maior de revitalização de uma das áreas mais nobres da cidade.
Habitação
Sabatinado a respeito da retomada do projeto Favela-Bairro, hoje conhecido como Morar Carioca, Hugo Leal afirmou que ele e o candidato de seu partido à Prefeitura são entusiastas do antigo programa habitacional do governo Cesar Maia. “Ele possuía uma boa lógica urbanística que era levar os serviços para as comunidades carentes. Abriu-se mão desse compromisso social em função da ocupação armada, como as UPPs que não tem algum comprometimento com essas áreas mais desamparadas”.
Educação
Questionado sobre o projeto educacional Escolas do Amanhã, o deputado comentou que esse programa foi inspirado nos Cieps construídos no governo Leonel Brizola, a quem diziam ser na época um visionário. “Ao invés de construção de novas escolas a Prefeitura deveria se preocupar em colocar para funcionar a infra-estrutura já existente. Não há professores, não existe horário integral nem recursos para manter essas unidades educacionais com o mínimo de dignidade. Não adianta falar em 305 Escolas do Amanhã quando na realidade elas sequer funcionam e algumas estão até sucateadas”.
Saúde
Segundo o programa de governo de Indio da Costa, a Prefeitura vai a continuar o investimento nas Clínicas da Família, que possuem a lógica dos antigos postos de saúde. Hugo Leal lembra que o município do Rio assumiu o papel do Estado ao aceitar a administração dos hospitais de pronto atendimento, o que foi um grave erro de gestão.
O papel principal do município é investir na atenção básica e na prevenção das doenças. “Minha preocupação é que essa política atual retire os recursos da área de atendimento preventivo para investir em hospitais de emergência. As UPAs, que foram criadas para suprir uma carência de caráter provisório, acabaram se tornando definitivas”. Na sua opinião a melhor alternativa para agilizar as demandas da população seria estimular e ampliar as áreas de atuação das Clínicas da Família.
Cultura e lazer
O deputado Hugo Leal sustenta que o conceito de cultura deva ser reformulado pelo fato de se basear em conceitos ultrapassados. Ele lembra que a vocação da cidade do Rio de Janeiro não é industrial, mas voltada para o empreendedorismo. Citou como exemplo o turismo, ao lembrar que depois da Olimpíada haverá um expressivo excedente de vagas em hotéis. Isso é consequência de uma falta de planejamento a longo prazo. Não se exploram essas características naturais sob uma perspectiva econômica. “Poucas cidades do mundo têm uma vocação tão rica para exploração do turismo e outras atividades culturais como o Rio de Janeiro. É um desperdício termos uma cidade com tantas tradições artísticas que não são exploradas como uma fonte de receita e geração de empregos. Muitos teatros estão abandonados e a cidade carece de uma programação cultural que contemple não só a exibição de peças teatrais como uma produção cultural que explore outros eventos, como por exemplo, as escolas de samba. O carnaval não é só o desfile no sambódromo, é um trabalho que dura um ano inteiro, envolve milhares de pessoas e poderia ser mais um alternativa no calendário cultural da cidade.
*Publicado em: 21 set, 2016 às 12:47